RESUMO
O Audemars Piguet Cronógrafo Monopulsante de 1930 não é apenas um relógio; é um marco arqueológico na história da Haute Horlogerie. Lançado em um período de transição crucial entre os relógios de bolso e os de pulso, e sob a sombra da Grande Depressão, este modelo representa a primeira incursão dedicada da Audemars Piguet no universo dos cronógrafos de pulso. Diferente das robustas ferramentas modernas como o Royal Oak Offshore, esta peça foi concebida com uma elegância Art Déco, destinada a um público de elite que exigia funcionalidade mecânica sem sacrificar o refinamento estético. A sua configuração de botão único (monopulsante) situado às 2 horas, dissociado da coroa, estabeleceu um padrão de ergonomia e distinção visual. Com uma produção infinitesimal de apenas 307 cronógrafos fabricados pela manufatura entre 1930 e 1946, esta peça é considerada o 'Santo Graal' para colecionadores eruditos, simbolizando o momento exato em que a Audemars Piguet decidiu que a precisão cronométrica poderia ser usada no pulso com a mesma dignidade de uma obra de arte. É a antítese da produção em massa, refletindo uma era onde cada mostrador, caixa e movimento eram ajustados individualmente por mestres relojoeiros no Vallée de Joux.
HISTÓRIA
A história do Cronógrafo Monopulsante da Audemars Piguet de 1930 é, essencialmente, a crônica da adaptação da alta relojoaria às exigências da vida moderna. Até o final da década de 1920, a Audemars Piguet era venerada por seus relógios de bolso com grandes complicações. No entanto, o crash da bolsa de 1929 e a mudança no estilo de vida da sociedade exigiram uma reinvenção. O ano de 1930 marca o lançamento oficial do primeiro cronógrafo de pulso da marca, uma aposta técnica ousada num mercado incerto.
Tecnicamente, a AP optou por não desenvolver um calibre in-house do zero devido aos custos proibitivos, mas sim elevar ao máximo padrão os ébauches da Valjoux (especificamente o calibre 13 linhas), refinando-os exaustivamente no Vallée de Joux até que se tornassem irreconhecíveis em termos de acabamento e precisão. O design monopulsante foi escolhido pela sua elegância mecânica; ao concentrar as funções de início, parada e retorno em um único botão posicionado às 2 horas, a marca manteve a simetria da caixa e evitou a complexidade visual de múltiplos botões, preservando a estética de 'relógio social'.
Durante o período de 1930 a 1946, a produção foi incrivelmente limitada. Não havia 'linhas de montagem' como entendemos hoje; cada um dos 307 cronógrafos produzidos nestes 16 anos era praticamente uma peça única (Pièce Unique), com variações subtis em mostradores, formatos de asas (como as famosas asas em forma de gota ou 'teardrop') e materiais de caixa. Este modelo específico de 1930 serviu de fundação para o lendário Ref. 1533 dos anos 40, que mais tarde inspiraria o modelo contemporâneo [Re]master01. A importância histórica deste relógio reside no fato de que ele provou que a Audemars Piguet poderia dominar as complicações esportivas sem diluir seu prestígio aristocrático, estabelecendo o DNA que, décadas mais tarde, permitiria a criação do Royal Oak.
CURIOSIDADES
A produção total de cronógrafos da Audemars Piguet entre 1930 e 1950 foi tão escassa que é mais raro encontrar um destes exemplares do que quase qualquer referência vintage da Patek Philippe concorrente.
O posicionamento do botão às 2 horas era uma escolha estratégica para facilitar o acionamento pelo polegar da mão oposta sem obstruir a coroa de corda.
Em leilões da Phillips e Christie's, exemplares originais desta era em bom estado ultrapassam frequentemente a marca de meio milhão de francos suíços.
Este modelo é o antepassado espiritual direto do Audemars Piguet [Re]master01, lançado em 2020 para celebrar esta era dourada.
Devido à falta de catálogos padronizados na década de 1930, muitos destes relógios não possuem uma 'Referência' numérica no mostrador ou fundo, sendo identificados apenas pelos registros nos arquivos da manufatura.
A maioria dos mostradores desta época apresentava escalas taquimétricas 'Snail' (caracol) no centro, permitindo medir velocidades médias muito baixas, algo inútil para aviação mas poético para o automobilismo da época.
Alguns destes primeiros modelos foram vendidos sob a assinatura dupla de varejistas de prestígio, como Cartier ou Tiffany & Co., tornando-os exponencialmente mais valiosos.