RESUMO
Lançado em 2002, o Audemars Piguet Royal Oak Concept Watch 1 (CW1) não foi apenas um modelo comemorativo para o 30º aniversário do lendário Royal Oak; foi um manifesto disruptivo que redefiniu os limites da engenharia horológica. Posicionado no ápice da coleção, este relógio foi concebido como um 'laboratório de pulso', destinado a uma clientela ultra-exclusiva que valorizava a inovação técnica extrema acima do tradicionalismo estético. O CW1 rompeu com a geometria clássica de Gérald Genta, introduzindo volumes arquitetônicos e materiais aeroespaciais nunca antes vistos na indústria, especificamente a superliga Alacrite 602. Sua filosofia de design funde a robustez de um instrumento de mergulho extremo com a delicadeza de um tourbillon de alta precisão, criando uma dicotomia fascinante entre brutalismo e elegância mecânica. Este modelo é historicamente significativo por ter inaugurado a linha 'Concept' da Audemars Piguet, servindo como a plataforma fundamental para todos os avanços experimentais da marca nas décadas seguintes, desde o uso de carbono forjado até a cerâmica colorida.
HISTÓRIA
A história do Royal Oak Concept Watch 1, Ref. 25980, começa na virada do milênio, quando a Audemars Piguet buscava uma maneira monumental de celebrar as três décadas do seu ícone, o Royal Oak, lançado originalmente em 1972. Enquanto o modelo original de Gérald Genta havia chocado o mundo por ser um relógio de luxo em aço, o CW1 de 2002 tinha a missão de chocar novamente, mas desta vez através da tecnologia de materiais e arquitetura de movimento.
Desenhado por Claude Emmenegger, o projeto foi tratado internamente como um segredo de estado e um exercício de liberdade criativa absoluta. A escolha do material da caixa, Alacrite 602, foi revolucionária. Originalmente desenvolvida para a indústria aeroespacial (pás de turbinas) e médica (implantes), esta liga composta por 57% de cobalto, 31% de cromo e 5% de tungstênio possui uma dureza Vickers de 430, tornando sua usinagem um pesadelo logístico que destruía ferramentas de corte em ritmo acelerado. A decisão de usar este material conferiu ao relógio uma tonalidade cinza-esbranquiçada única e uma resistência a riscos e desgaste excepcional.
No coração do CW1 pulsava o Calibre 2896, um movimento que rompia com a decoração tradicional de 'Côtes de Genève'. Em vez disso, apresentava pontes de titânio jateadas e formas inspiradas em motores de alta performance e absorção de choque. A grande inovação técnica, além do onipresente turbilhão (que na época era o auge da complicação), foi a inclusão do 'Dynamographe'. Diferente de uma reserva de marcha comum, o dynamographe exibia a tensão instantânea (torque) fornecida pela mola principal, permitindo ao usuário saber se o movimento estava operando na sua zona de precisão ideal (isocronismo). Complementando isso, o relógio introduziu um seletor de coroa com as posições R (Remontoir - Corda), N (Neutre - Neutro) e H (Heure - Hora), eliminando a necessidade de puxar a coroa e comprometendo a vedação, o que permitiu a extraordinária classificação de 500 metros de resistência à água.
O CW1 foi produzido em uma série extremamente limitada (estimada em 150 peças ao longo de dois anos), não numerada no mostrador, mas cultuada pelos colecionadores. Ele estabeleceu o design 'facetado' nas asas e a integração da pulseira que definiriam todos os futuros Concepts (como o Carbon e o GMT Tourbillon). O modelo Ref. 25980 não apenas provou que a Audemars Piguet dominava a alta relojoaria tradicional, mas que estava décadas à frente na fusão de mecânica secular com ciência de materiais do futuro.
CURIOSIDADES
O Alacrite 602 é tão difícil de trabalhar que o tempo de usinagem da caixa do CW1 levava aproximadamente oito vezes mais do que uma caixa de aço padrão, e as ferramentas precisavam ser substituídas constantemente durante o processo.
Este foi o primeiro relógio de pulso do mundo a apresentar um 'Dynamographe' para visualizar o torque da mola principal em tempo real, uma funcionalidade inspirada na telemetria de carros de corrida.
A resistência à água de 500 metros é um feito técnico bizarro para um relógio Tourbillon de 2002; para contexto, a maioria dos relógios de mergulho profissionais (como o Submariner) tinha classificação de 300m na época.
O sistema de absorção de choque do movimento inclui uma mola de retenção da gaiola do turbilhão em forma de serpente, visível no mostrador, que se tornou uma assinatura visual do modelo.
Embora chamado de 'Concept Watch' (semelhante aos 'Concept Cars' da indústria automobilística que nunca chegam às ruas), este modelo foi totalmente comercializável e entregue a clientes, criando uma nova categoria de produto na indústria: o protótipo comercial.
O peso do relógio é surpreendente; apesar do tamanho volumoso de 44mm, o uso de Titânio no movimento e Alacrite na caixa mantém o conjunto relativamente leve no pulso, pesando cerca de 150g.