RESUMO
O Audemars Piguet Chronograph Monopusher de 1933 não é apenas um instrumento de medição de tempo; é um artefato de transição crucial na história da alta relojoaria. Situado no auge da era Art Deco, mas nascido sob as restrições da Grande Depressão, este relógio representa um momento de ruptura filosófica e ergonômica para a manufatura de Le Brassus. Destinado a uma clientela de elite — aristocratas, industriais e pioneiros da aviação que exigiam precisão sem sacrificar a elegância —, este modelo se destaca por dissociar a função do cronógrafo da coroa, posicionando o botão único às 2 horas. Esta decisão de design não foi meramente estética, mas uma evolução funcional para evitar acionamentos acidentais e melhorar a operabilidade. Como uma peça de 'dress complication', ele incorpora a fusão perfeita entre a robustez técnica do movimento base Valjoux e o acabamento manual obsessivo característico da Audemars Piguet. Hoje, é reverenciado como um dos cronógrafos mais raros e significativos do século XX, servindo como a fundação espiritual para as reinterpretações modernas da marca, como o [Re]master01.
HISTÓRIA
A história do Audemars Piguet Monopusher de 1933 é a história da escassez moldando a excelência. Durante as décadas de 1930 e 1940, a produção de cronógrafos pela Audemars Piguet foi incrivelmente limitada; estima-se que apenas cerca de 307 cronógrafos de pulso foram produzidos entre 1930 e 1950. Neste contexto rarefeito, o modelo de 1933 emerge como um pioneiro técnico.
Antes deste período, muitos cronógrafos de pulso eram adaptações diretas de movimentos de relógios de bolso, frequentemente operados através de um botão coaxial integrado à coroa. Embora funcional, este design apresentava riscos ergonômicos e mecânicos. O modelo de 1933 marcou uma evolução decisiva ao introduzir o botão independente localizado às 2 horas. Esta configuração permitia uma operação mais intuitiva e segura, separando as funções de dar corda/ajustar o tempo da função de cronometragem. Foi um passo fundamental em direção à configuração moderna de dois botões que se popularizaria anos mais tarde.
O coração deste relógio é o lendário movimento Valjoux 13 (13 linhas), especificamente a variante VZ. Embora seja um 'ébauche' fornecido pela Valjoux, é crucial notar que a Audemars Piguet desmontava, refinava e acabava estes movimentos internamente a um nível que os tornava irreconhecíveis em comparação com a base original. As pontes eram chanfradas à mão, as tolerâncias eram apertadas e a precisão ajustada para padrões de cronômetro. Este movimento é considerado por muitos historiadores como um dos melhores calibres de cronógrafo manual já fabricados.
Esteticamente, o relógio definia a elegância pré-guerra. Com mostradores frequentemente em esmalte e escalas taquimétricas intrincadas, ele servia tanto como uma ferramenta para calcular velocidade quanto como uma joia de pulso. A raridade deste modelo específico é tal que ele não possui uma 'geração' no sentido moderno de produção em massa; cada peça era virtualmente única, muitas vezes feita sob encomenda. O legado deste monopusher de 1933 reside na sua prova de que a Audemars Piguet, mesmo nos anos mais sombrios da economia global, recusou-se a comprometer a inovação mecânica, estabelecendo o padrão para o que um cronógrafo de alta relojoaria deveria ser.
CURIOSIDADES
Extrema Raridade: Estima-se que a Audemars Piguet produziu menos de 10 exemplares com esta configuração exata (monopusher às 2h) no ano de 1933, tornando-o um 'Santo Graal' para colecionadores.
O 'Avô' do [Re]master01: Embora o lançamento recente da AP, o [Re]master01, seja baseado em um modelo de 1943, a arquitetura técnica e o layout do mostrador devem sua existência direta a este pioneiro de 1933.
Ausência de Assinatura no Movimento: Em alguns exemplares muito antigos dessa era, a ponte do cronógrafo pode não estar assinada 'Audemars Piguet', embora a platina principal esteja, refletindo as práticas de importação e alfândega da época.
Valor de Leilão: Devido à sua escassez, quando um cronógrafo AP pré-1950 aparece em leilões como Phillips ou Christie's, ele frequentemente ultrapassa a marca de centenas de milhares de francos suíços, competindo com Patek Philippe da mesma era.
Mostradores Anônimos: Alguns destes cronógrafos foram vendidos para varejistas de prestígio como a Cartier ou a Tiffany & Co., podendo apresentar assinaturas duplas ou apenas a assinatura do varejista, escondendo a origem AP no mostrador.