RESUMO
Lançado em 2020 para comemorar a inauguração do visionário Musée Atelier Audemars Piguet em Le Brassus, o [Re]master01 Selfwinding Chronograph não é apenas uma reedição, mas uma reinterpretação cultural e técnica de um dos cronógrafos mais raros da história da manufatura. Limitado a apenas 500 exemplares, este relógio transcende a categoria de 'relógio vintage' para se posicionar como um exercício de arqueologia horológica moderna. O [Re]master01 captura a elegância do meio do século XX, especificamente a rara Referência 1533 de 1943, e a infunde com a tecnologia de ponta do século XXI. O seu posicionamento no mercado visa o colecionador erudito que compreende que a Audemars Piguet possui uma linhagem rica muito além do icónico Royal Oak. Com a sua caixa bicolor em aço e ouro rosa e o mostrador champanhe de leitura complexa, ele evoca a era dourada do design Art Déco, mas abriga o formidável Calibre 4409, um movimento flyback integrado de última geração. É uma peça de conversa que une a pureza estética do passado à robustez mecânica do presente, servindo como um testemunho tangível da raridade histórica dos cronógrafos da AP antes da era moderna.
HISTÓRIA
A história do [Re]master01 é, na sua essência, uma viagem no tempo que ilumina um capítulo frequentemente esquecido, mas glorioso, da Audemars Piguet. Para compreender a gravidade deste lançamento de 2020, devemos recuar até à década de 1940, um período tumultuoso onde a produção de cronógrafos pela manufatura era excecionalmente limitada e artesanal. Entre 1930 e 1950, a Audemars Piguet produziu apenas 307 relógios de pulso com cronógrafo, tornando qualquer exemplar desta época uma raridade de nível museológico. O [Re]master01 é uma homenagem direta à Referência 1533, um modelo produzido em 1943 do qual se sabe existirem apenas nove unidades, e apenas três delas na configuração bicolor de aço e ouro rosa.
Quando a marca decidiu criar um relógio para celebrar a abertura do seu novo museu em forma de espiral no Vallée de Joux, a decisão não foi fazer uma cópia fiel ('reedição'), mas sim uma 'remasterização' — um termo emprestado da indústria musical que implica pegar numa obra-prima original e melhorar a sua fidelidade técnica mantendo a alma intacta. Esteticamente, o [Re]master01 preserva fielmente os códigos da Ref. 1533: as asas em forma de gota ('teardrop lugs') que são soldadas à caixa com uma elegância fluida, a luneta fina que maximiza a abertura do mostrador e a tipografia Art Déco inconfundível. No entanto, as proporções foram subtilmente aumentadas dos originais 36mm para uns contemporâneos 40mm para garantir uma presença moderna no pulso, e o layout dos sub-mostradores foi reorganizado para acomodar a nova arquitetura mecânica.
O salto evolutivo mais significativo reside no interior. Enquanto o modelo de 1943 abrigava um movimento de carga manual Valjoux 13VZAH modificado, o [Re]master01 está equipado com o Calibre 4409. Este movimento é um derivado direto do Calibre 4401 lançado na coleção Code 11.59, despido da função de data para manter a pureza do mostrador. É um cronógrafo integrado totalmente moderno, com função flyback (que permite reiniciar a contagem sem parar o cronógrafo), operado por uma roda de colunas e embraiagem vertical para uma precisão absoluta no arranque dos ponteiros. O rotor de ouro rosa de 22 quilates foi desenhado especificamente para este modelo, apresentando um padrão 'Clous de Paris' concêntrico que não só adiciona textura, mas também evita obstruir a vista do mecanismo complexo. O impacto deste modelo foi imediato e profundo: demonstrou ao mundo que a Audemars Piguet domina a linguagem do design clássico com tanta mestria quanto o design disruptivo do Royal Oak, solidificando a sua posição como uma das 'Três Grandes' da alta relojoaria suíça capaz de honrar o seu passado sem ficar presa a ele.
CURIOSIDADES
O nome 'Geneve' aparece no mostrador abaixo do logótipo da Audemars Piguet, um detalhe histórico raro pois a marca é de Le Brassus; isto remete para o início do século XX, quando a AP mantinha uma oficina em Genebra para facilitar a distribuição e vendas internacionais.
A raridade do antecessor é extrema: da Referência 1533 original de 1943, apenas três exemplares foram registados na combinação específica de caixa em aço e bisel em ouro rosa.
O relógio não possui a indicação 'Swiss Made' no fundo do mostrador às 6 horas, mantendo a fidelidade absoluta ao design original da década de 1940, onde essa marcação não era omnipresente no mostrador.
O rotor específico deste modelo tem um acabamento acetinado com padrão 'Clous de Paris' que difere dos rotores esqueletizados habituais da AP, uma escolha deliberada para evocar uma sensação mais industrial e vintage.
Embora seja um cronógrafo automático moderno, a disposição do mostrador mantém a estética 'bi-compax' visual (embora tenha três sub-mostradores), com o contador de pequenos segundos a ser deliberadamente discreto para não perturbar a simetria visual clássica.
O termo '[Re]master' foi escolhido propositadamente pelo então CEO François-Henry Bennahmias para indicar que a tecnologia do século XXI foi aplicada a uma gravação antiga, tal como se faz com álbuns de música clássica.
O preço de lançamento rondava os 53.000 dólares, mas devido à limitação de 500 peças, tornou-se imediatamente uma peça de investimento cobiçada em leilões secundários.