RESUMO
Lançado em 1995, o Breitling Emergency transcendeu a definição tradicional de um relógio de ferramentas para se tornar um verdadeiro instrumento de sobrevivência. Concebido numa época em que a Breitling consolidava agressivamente a sua posição como fornecedora oficial da aviação mundial, o Emergency foi projetado especificamente para pilotos e tripulações aéreas. Não se trata apenas de um relógio com estética militar, mas sim de um dispositivo de segurança vital capaz de emitir um sinal de socorro na frequência de 121,5 MHz, monitorizada por serviços de busca e salvamento em todo o mundo. A sua introdução marcou um feito notável na miniaturização eletrónica e na engenharia de caixas, alojando um transmissor de rádio funcional num formato de pulso. Embora o seu público-alvo inicial fosse estritamente profissional — exigindo frequentemente licença de piloto para a aquisição — o Emergency capturou a imaginação de aventureiros e colecionadores civis, tornando-se um ícone do excesso técnico e da funcionalidade brutalista dos anos 90. No panteão da horologia, ele permanece como um testemunho audacioso da filosofia 'Instruments for Professionals' da marca, ocupando um nicho solitário onde a relojoaria encontra a aviónica de emergência.
HISTÓRIA
A génese do Breitling Emergency remonta a uma colaboração estreita entre a manufatura suíça e a Dassault Electronique, visando resolver um problema crítico na aviação: a localização de pilotos abatidos ou acidentados após a ejeção. Antes de 1995, os radiofaróis de localização eram dispositivos volumosos, frequentemente guardados em kits de sobrevivência que poderiam separar-se do piloto durante um acidente. A Breitling aceitou o desafio de integrar este transmissor diretamente no pulso.
Quando foi lançado em 1995, o Emergency (Referência E56121) chocou a indústria. Era um gigante de titânio de 43mm — um tamanho considerável para a época — dominado por um módulo cilíndrico saliente na parte inferior da caixa, entre as asas. Este cilindro alojava a antena de fio enrolado. Em caso de desastre, o utilizador desenroscava a tampa de segurança (que romperia um selo de garantia) e estendia a antena principal até ao seu comprimento total de 43 cm. Se necessário, uma antena auxiliar do lado oposto podia ser estendida para aumentar o alcance do sinal. Uma vez ativado, o relógio emitia um sinal na Frequência Internacional de Socorro Aéreo (121,5 MHz), com um alcance de cerca de 90 milhas náuticas (160 km) para aeronaves de busca voando a 20.000 pés.
Tecnicamente, o relógio era uma evolução da linha Aerospace, utilizando movimentos de quartzo multifuncionais. As primeiras versões usavam o Calibre 56, mas a Breitling atualizou posteriormente para o Calibre 76, um movimento SuperQuartz™ termocompensado, garantindo uma precisão dez vezes superior ao quartzo padrão, crucial para cronometragem de navegação. Esteticamente, o modelo evoluiu pouco durante a sua primeira geração, mantendo a sua aparência de instrumento de cockpit. A escolha do titânio não foi apenas estética; era fundamental para a leveza, propriedades antimagnéticas e resistência à corrosão, além de ser hipoalergénico.
O impacto do Emergency foi profundo. Validou a Breitling não apenas como uma marca de luxo, mas como uma produtora de hardware militar legítimo. O modelo original permaneceu em produção até ser substituído pelo Emergency II em 2013, que introduziu a frequência digital de 406 MHz monitorizada por satélites COSPAS-SARSAT, uma vez que a frequência analógica de 121,5 MHz começou a ser descontinuada para monitorização primária por satélite (embora ainda vital para a localização final por helicópteros e equipas de terra). Para colecionadores, o modelo de 1995 representa a pureza do conceito original: uma ferramenta analógica num mundo pré-digital saturado, um objeto que carrega a promessa tangível de salvação.
CURIOSIDADES
O 'Contrato de Vida': Originalmente, a Breitling exigia que os compradores assinassem um termo de responsabilidade, concordando em pagar os custos de resgate (frequentemente dezenas de milhares de dólares) caso o transmissor fosse ativado acidentalmente sem uma emergência real.
O Feito do Balão: O Breitling Emergency ganhou fama mundial em 1999, quando foi usado pelos pilotos Bertrand Piccard e Brian Jones durante a primeira circum-navegação do globo em balão sem paragens, a bordo do Breitling Orbiter 3.
Resgates Reais: Estima-se que dezenas de vidas tenham sido salvas diretamente pela ativação do relógio. Um caso notável ocorreu em 2003, quando dois pilotos britânicos de helicóptero foram resgatados na Antártida após a queda da sua aeronave, graças ao sinal do relógio.
A Mala 'Nuclear': O relógio não era vendido numa caixa comum, mas sim numa mala de plástico rígido resistente a impactos, que incluía um testador de frequência para verificar o funcionamento do transmissor sem o ativar.
Teste Top Gear: O apresentador Richard Hammond usou o Emergency num desafio especial do programa 'Top Gear' no Ártico, onde a funcionalidade do relógio foi demonstrada numa simulação (embora em ambiente controlado).
Multa Salgada: A ativação falsa do sinal é levada tão a sério que envolve multas pesadas e custos operacionais. A manutenção do relógio (revisão) é a única altura em que a Breitling 'rearma' a antena e substitui o selo de segurança.
Variação Militar: Existem edições ultra-raras com mostradores personalizados para esquadrões militares de elite, como os 'Frecce Tricolori' e a 'Patrouille Suisse', que são altamente cobiçadas em leilões.