RESUMO
O Rolex King Midas Ref. 9630 não é apenas um relógio; é uma declaração de opulência e design vanguardista que transcende a relojoaria tradicional para adentrar o território da joalharia escultural. Lançado em 1964 e desenhado pelo visionário Gérald Genta — antes de criar o Royal Oak ou o Nautilus — o King Midas foi concebido para ocupar o topo absoluto da hierarquia da Rolex. Na sua época, deteve o título de relógio de ouro mais pesado e dispendioso da marca, superando até o icónico Day-Date. Destinado a uma clientela de elite, composta por reis, ícones da música e magnatas, o King Midas rompeu com a estética utilitária da caixa Oyster em favor de uma silhueta assimétrica e monolítica. A sua filosofia de design inspira-se diretamente na arquitetura grega clássica, especificamente no Partenon, fundindo a mitologia do "Toque de Midas" com uma execução técnica brutalista. O resultado é um objeto de arte que ignora convenções, apresentando uma pulseira integrada que flui sem interrupções da caixa, criando a ilusão de um único bloco de ouro maciço moldado no pulso. Para o colecionador moderno, o Ref. 9630 representa a génese do relógio de luxo com pulseira integrada e uma das peças mais raras e idiossincráticas da história da Rolex.
HISTÓRIA
A história do Rolex King Midas Ref. 9630 começa em 1964, num período em que a Rolex procurava afirmar o seu domínio não apenas como fabricante de relógios-ferramenta fiáveis, mas também como criadora de alta joalharia para a elite mundial. Para esta tarefa, a marca recorreu a Gérald Genta, o designer que viria a definir a estética dos anos 70. Genta inspirou-se na Grécia Antiga, especificamente nas proporções divinas do Partenon. Diz-se que, quando o relógio é colocado de lado com a coroa voltada para cima, a sua forma pentagonal assimétrica imita o frontão triangular do templo grego, enquanto as ranhuras profundas da pulseira integrada representam as colunas dóricas.
O Ref. 9630 foi uma anomalia gloriosa no catálogo da Rolex. Enquanto o Submariner e o GMT-Master dominavam os oceanos e os céus, o King Midas era puramente cerimonial. Esculpido a partir de um bloco maciço de ouro de 18 quilates, a sua construção era manual e extremamente trabalhosa, justificando o seu preço astronómico — na altura, custava cerca de $2.500, significativamente mais do que um Day-Date 'President'. Outra inovação técnica notável foi o uso pioneiro de cristal de safira pela Rolex, necessário para manter o perfil plano e angular do design, numa época em que o acrílico era a norma.
A primeira série (Ref. 9630) foi estritamente limitada a cerca de 1.000 exemplares, cada um com o número da série gravado na parte de trás da pulseira, algo extremamente raro para a marca. O movimento escolhido foi o ultra-fino Calibre 650, derivado do lendário Frédéric Piguet 21, permitindo que a caixa mantivesse uma elegância esbelta apesar do seu peso substancial. Ao longo dos anos, o modelo evoluiu para a Ref. 3580 e mais tarde foi absorvido pela coleção 'Cellini', perdendo parte da sua exclusividade brutalista original e o texto 'Midas' em grego no mostrador. No entanto, o 9630 original permanece como o 'Ur-Midas', o modelo puro que capturou a imaginação de figuras como Elvis Presley. O seu impacto na indústria foi subtil mas profundo: prefigurou a obsessão pelo 'relógio de pulseira integrada' de luxo que explodiria na década seguinte, provando que um relógio poderia ser, antes de tudo, uma joia arquitetónica.
CURIOSIDADES
O Rei do Rock, Elvis Presley, possuía um King Midas Ref. 9630 (número 343), que lhe foi oferecido após atuar no Houston Livestock Show and Rodeo em 1970; hoje está exposto em Graceland.
O vilão de James Bond, Francisco Scaramanga (interpretado por Christopher Lee em 'The Man with the Golden Gun'), usava um Rolex King Midas, reforçando a aura de perigo e riqueza do modelo.
A caixa original do King Midas não era a típica caixa verde da Rolex, mas sim uma ânfora de estilo grego feita de pedra ou madeira lacada, com figuras vermelhas e negras, enfatizando o tema mitológico.
A coroa do relógio está situada no lado esquerdo da caixa (para a maioria das variações 9630) e tem o formato de um sol serrilhado, representando a fonte do poder de Midas, exigindo que o utilizador use a mão direita para dar corda, uma alusão ao mito de que tudo o que Midas tocava (com a mão direita) virava ouro.
O peso do relógio era tão significativo para a época (perto de 200g em algumas configurações) que foi comercializado com o slogan 'O relógio de ouro mais pesado do mundo'.
Ao contrário da maioria dos Rolex, o mostrador original exibia apenas 'ROLEX' e '???AS' (em grego), omitindo frequentemente a designação 'Cellini' ou 'Geneve' nas primeiras iterações para manter o minimalismo.