RESUMO
O Rolex Zerograph Ref. 3346 não é apenas um relógio raro; é uma pedra fundamental na arqueologia da marca genebrina, representando o 'elo perdido' entre os primeiros relógios à prova d'água e os ícones desportivos profissionais que surgiriam décadas depois. Produzido em números extremamente limitados por volta de 1937, o Zerograph ocupa uma posição quase mítica no mercado de colecionadores, sendo frequentemente descrito como um dos 'Santos Graais' da horologia vintage. A sua filosofia de design foi radicalmente experimental para a época: Hans Wilsdorf procurava fundir a robustez da caixa Oyster, patenteada em 1926, com a funcionalidade de medição de tempo, criando assim o primeiro cronógrafo alojado numa caixa estanque. Diferente dos cronógrafos modernos, o Zerograph foi concebido como uma ferramenta de sincronização precisa, utilizando um mecanismo 'flyback' contínuo. A sua importância transcende a sua raridade; este modelo introduziu a luneta rotativa graduada, uma inovação técnica que viria a definir a identidade visual e funcional de lendas futuras como o Submariner e o GMT-Master. É uma peça destinada apenas aos museus mais prestigiados ou às coleções privadas mais exclusivas do mundo, simbolizando o momento exato em que a Rolex começou a transição de fabricante de relógios de precisão para criadora de ferramentas profissionais.
HISTÓRIA
A história do Rolex Zerograph Ref. 3346, lançado em 1937, é a narrativa de um protótipo que acidentalmente moldou o futuro da relojoaria desportiva. Num período em que a Rolex já tinha estabelecido a supremacia da caixa impermeável Oyster e do movimento automático Perpetual, a marca enfrentava o desafio de integrar funções de cronometragem sem comprometer a estanqueidade do relógio. Os cronógrafos da época possuíam botões retangulares suscetíveis à entrada de humidade. O Ref. 3346 foi a resposta experimental a este dilema, tornando-se o primeiro modelo Oyster a incorporar uma função de cronometragem, embora de uma forma tecnicamente distinta dos cronógrafos convencionais que conhecemos hoje.
O coração deste modelo é o seu mecanismo único de botão único (monopusher) situado às 2 horas. Ao contrário de um cronógrafo tradicional que para, inicia e reinicia, o botão do Zerograph serve puramente como um dispositivo de 'retorno a zero' (flyback). Ao ser pressionado, o ponteiro central de segundos regressa instantaneamente às 12 horas e continua a sua marcha imediatamente após a libertação, permitindo uma sincronização rápida com um sinal de tempo de referência, uma função vital para a navegação e operações militares da época. Esta idiossincrasia mecânica torna-o tecnicamente fascinante e distinto dos modelos cronógrafos posteriores da família Datocompax.
Visualmente, o Zerograph é revolucionário por introduzir a luneta rotativa com marcadores gravados. Antes do Turn-O-Graph de 1953 ou do Submariner de 1954, o Zerograph já apresentava esta ferramenta para marcação de tempos decorridos, estabelecendo o padrão ergonómico para todos os relógios de mergulho e aviação subsequentes. A produção foi incrivelmente baixa, sugerindo que o modelo nunca foi destinado a uma comercialização em massa, mas sim como um teste de mercado ou uma encomenda específica. Não houve sucessores diretos imediatos com o mesmo nome, e a tecnologia evoluiu para os cronógrafos de dois botões na década de 1940. Hoje, o Zerograph é reverenciado não apenas pela sua escassez, mas por ser o 'paciente zero' do ADN desportivo da Rolex.
CURIOSIDADES
O Zerograph Ref. 3346 é amplamente reconhecido como o primeiro relógio Rolex a apresentar uma luneta giratória graduada, antecedendo o Turn-O-Graph em 16 anos.
Estima-se que existam menos de 12 exemplares conhecidos em todo o mundo, tornando-o um dos modelos de produção mais raros da história da marca.
O nome 'Zerograph' deriva da sua função primária: a capacidade de grafar (registar) o zero, ou seja, retornar o ponteiro de segundos à posição inicial instantaneamente.
Em 2016, um exemplar excecionalmente preservado foi vendido num leilão da Christie's em Genebra por 389.000 CHF, estabelecendo um recorde para esta referência.
É tecnicamente o primeiro Cronógrafo Oyster, embora a função seja um 'flyback' contínuo e não um cronógrafo de paragem (stopwatch) tradicional.
Alguns mostradores apresentam a rara configuração 'California Dial', com numerais romanos na metade superior e arábicos na inferior, uma característica muito procurada pelos colecionadores de 'Bubblebacks'.
A referência 3346 partilha o seu design de caixa e movimento com o modelo 'Centregraph' (Ref. 3462), que possuía uma função similar mas sem a luneta rotativa.