RESUMO
O Rolex Quartz Date Ref. 5100, introduzido na Feira de Basel em 1970, representa um dos capítulos mais fascinantes e paradoxais na história da manufatura genebrina. Concebido no epicentro da 'Crise do Quartzo', este modelo não foi apenas um instrumento de medição de tempo, mas uma declaração de poder e adaptação tecnológica. Posicionado no ápice absoluto do luxo na sua época, o Ref. 5100 foi desenhado para uma clientela de elite — magnatas do petróleo, chefes de estado e industriais — que valorizavam a precisão eletrônica de vanguarda tanto quanto a opulência material. Ao contrário da filosofia utilitária da linha Oyster, o 5100 era uma peça de joalheria escultural e maciça, pesando quase 200 gramas de ouro 18k, uma quantia exorbitante para os padrões da época. A sua filosofia de design rompeu drasticamente com a tradição conservadora da Rolex, adotando uma estética angular e brutalista, típica dos anos 70, forçada pelas dimensões do movimento Beta 21. Para o colecionador moderno e historiador horológico, o Ref. 5100 é o 'Elo Perdido': é a prova física da colaboração da Rolex com o Centre Electronique Horloger (CEH) e o precursor necessário que pavimentou o caminho para a independência futura da marca no desenvolvimento dos calibres Oysterquartz. É, acima de tudo, um monumento à era em que a tecnologia de quartzo era o auge do luxo, superando em preço e prestígio as complicações mecânicas tradicionais.
HISTÓRIA
A gênese do Rolex Ref. 5100 remonta ao início da década de 1960, um período de ansiedade existencial para a relojoaria suíça. Diante da iminente ameaça tecnológica vinda do Japão e dos Estados Unidos, a indústria suíça formou um consórcio defensivo sem precedentes: o Centre Electronique Horloger (CEH). Vinte marcas, incluindo gigantes rivais como Rolex, Patek Philippe, Omega e IWC, uniram recursos para desenvolver um movimento de quartzo que pudesse competir com a precisão do vindouro Seiko Astron. O resultado desse esforço colaborativo foi o Calibre Beta 21, uma maravilha da engenharia eletromecânica lançada em 1969.
Quando a Rolex apresentou o Ref. 5100 na Feira de Basel em 1970, foi um evento sísmico. A marca, conhecida pelo seu conservadorismo evolutivo, lançou um relógio que não se parecia com nada em seu catálogo anterior. O design da caixa foi ditado pela necessidade técnica: o movimento Beta 21 era grande, retangular e espesso, impossibilitando o uso da famosa caixa Oyster à prova d'água. Em resposta, a Rolex esculpiu uma caixa angular, maciça e integrada, que abraçava o pulso com uma presença imponente. Esta foi a primeira vez que a Rolex utilizou um cristal de safira sintética, uma inovação necessária para proteger um relógio de tal calibre tecnológico e financeiro.
A produção do 5100 foi extremamente limitada e exclusiva. Estima-se que apenas 1.000 unidades foram produzidas entre 1970 e 1972, com a vasta maioria em ouro amarelo e uma pequena fração extremamente rara em ouro branco. A primeira série de produção foi numerada individualmente na caixa, uma prática rara para a Rolex moderna, sublinhando a exclusividade do modelo. O relógio foi um sucesso comercial imediato, esgotando-se através de pré-encomendas, apesar de custar mais do que um Day-Date e um Submariner combinados na época.
No entanto, o sucesso do 5100 carregava a semente do seu próprio fim. A Rolex, sob a liderança visionária da família Heiniger, sentiu-se desconfortável em depender de um movimento compartilhado com outras marcas (Patek Philippe usava o mesmo motor no Cercle d'Or, por exemplo). Além disso, a impossibilidade de alojar o Beta 21 em uma caixa Oyster hermeticamente fechada era inaceitável para os padrões de durabilidade da marca a longo prazo. Em 1972, a Rolex retirou-se do consórcio CEH e descontinuou o Ref. 5100. A marca passou os cinco anos seguintes desenvolvendo seus próprios movimentos de quartzo in-house, que culminariam no lançamento da linha Oysterquartz em 1977. Assim, o Ref. 5100 permanece como um artefato singular: o primeiro quartzo, o primeiro com safira, o primeiro com data de ajuste rápido (quickset), e o único Rolex 'Beta 21' já feito.
CURIOSIDADES
O Apelido 'The Texan': O modelo ganhou o apelido de 'O Texano' devido ao seu tamanho robusto, opulência em ouro maciço e popularidade entre os ricos barões do petróleo americanos na década de 1970.
Inovação do Cristal: Este foi o primeiro relógio na história da Rolex a ser equipado com um cristal de safira, substituindo o acrílico (plexiglass) que era padrão na época, definindo o futuro da marca.
O Primeiro Quickset: O Ref. 5100 introduziu a função de 'Quickset Date' (ajuste rápido da data) para a Rolex, uma conveniência que só chegaria aos movimentos mecânicos da marca anos mais tarde.
Numeração Exclusiva: As primeiras 1.000 unidades foram gravadas com o número da edição na parte externa da caixa, uma característica extremamente rara para a Rolex, que geralmente esconde os números de série entre as alças.
Ouro Branco Raro: Estima-se que, das 1.000 unidades produzidas, menos de 15% foram fabricadas em ouro branco, tornando esta variação um 'unicórnio' para colecionadores de quartzo vintage.
Design Anônimo: Embora muitos atribuam o design angular a Gérald Genta (devido à semelhança com o Royal Oak e o bracelete integrado), não há confirmação oficial nos arquivos, e o design foi provavelmente uma solução interna forçada pela geometria do movimento Beta 21.