RESUMO
Lançado no divisor de águas que foi o ano de 2004, o Zenith El Primero Tourbillon (frequentemente apresentado na imponente caixa Grande Chronomaster XXT) não representou apenas um novo modelo, mas sim uma declaração de soberania técnica por parte da Manufatura de Le Locle. Sob a liderança audaciosa da era LVMH, a Zenith buscou transcender sua fama de 'fornecedora de cronógrafos' para se estabelecer no panteão da Alta Relojoaria. Este relógio foi a resposta definitiva: a fusão paradoxal entre a velocidade vertiginosa do calibre El Primero de 36.000 alternâncias por hora e a complexidade delicada e tradicional do turbilhão. Posicionado no mercado para colecionadores eruditos que valorizam tanto a inovação mecânica quanto a presença física robusta, este modelo desafiou a convenção de que turbilhões deveriam ser mecanismos lentos e frágeis, confinados a relógios de vestimenta. Com sua estética ousada e arquitetura de mostrador assimétrica, ele marcou o início de uma era de maximalismo técnico, servindo como ponte entre a herança clássica da cronometragem esportiva e o futuro vanguardista das grandes complicações.
HISTÓRIA
A história do Zenith El Primero Tourbillon de 2004 é, essencialmente, a crônica de um desafio físico e horológico superado. Até o início do milênio, a complicação do turbilhão — inventada por Breguet para compensar os efeitos da gravidade na precisão — era quase exclusivamente reservada a movimentos de baixa frequência (geralmente 18.000 ou 21.600 vph) ou, no máximo, 28.800 vph. A sabedoria convencional ditava que a velocidade frenética de 36.000 vph (5 Hz) do lendário calibre El Primero, lançado originalmente em 1969, geraria estresse excessivo, atrito e consumo de energia insustentável para uma gaiola de turbilhão rotativa. No entanto, em 2004, buscando reafirmar sua posição como 'O Mestre da Cronometria', a Zenith realizou o impensável.
O lançamento do Calibre 4035 marcou o nascimento do primeiro turbilhão automático de alta frequência do mundo. Este feito exigiu não apenas a miniaturização e o uso de materiais leves na gaiola do turbilhão para reduzir a inércia, mas também uma reengenharia completa do fluxo de energia do movimento base El Primero. Ao contrário de muitos turbilhões modulares da época, o mecanismo da Zenith foi totalmente integrado. A gaiola do turbilhão, posicionada de forma distinta às 11 horas (uma assinatura visual que rompia com a simetria tradicional das 6 horas), realizava uma rotação completa por minuto, servindo também como um indicador de segundos contínuos.
O contexto de 2004 era vital: a marca estava sob a direção de Thierry Nataf, um período caracterizado por designs exuberantes e dimensões generosas. O modelo de estreia utilizou frequentemente a caixa 'Grande Chronomaster XXT' de 45mm, um tamanho que permitia que a complexidade do mostrador respirasse e que o turbilhão fosse o protagonista absoluto. A inovação não parou na fusão do cronógrafo com o turbilhão; a Zenith também introduziu um sistema patenteado de data posicionado ao redor da gaiola do turbilhão, uma solução elegante que economizava espaço e mantinha a legibilidade.
Este modelo pavimentou o caminho para a futura linha 'Academy' e provou que a alta frequência poderia coexistir com as mais altas complicações, influenciando diretamente desenvolvimentos posteriores como o sistema 'Zero-G' e os avanços em cronometragem de centésimos de segundo que definiriam a Zenith na década de 2010. Para o colecionador, o El Primero Tourbillon de 2004 não é apenas um relógio complexo; é o momento exato em que a Zenith parou de olhar para o passado de 1969 e começou a definir a horologia do século XXI.
CURIOSIDADES
O Calibre 4035 mantém a exata mesma frequência de 36.000 vph do El Primero original de 1969, algo que muitos relojoeiros consideravam impossível para um turbilhão confiável na época.
A posição do turbilhão às 11 horas não foi apenas uma escolha estética, mas técnica, permitindo a preservação da disposição clássica dos sub-mostradores do cronógrafo e a integração das rodas de transmissão.
O sistema de data deste modelo é uma maravilha à parte: utiliza um disco que gira ao redor da gaiola do turbilhão, uma patente exclusiva da Zenith desenvolvida para este lançamento.
Durante a era Thierry Nataf, este modelo foi frequentemente visto como o 'carro-chefe' da marca, simbolizando a transição da Zenith para o mercado de ultra-luxo.
Embora robusto em aparência, a gaiola do turbilhão é extremamente leve para permitir a aceleração e desaceleração rápidas exigidas pelos 10 toques por segundo do balanço.