RESUMO
O lançamento do Omega Seamaster Professional 300M em 1993 não foi apenas a introdução de um novo modelo; foi um manifesto de ressurgimento para a manufatura de Bienne. Posicionado estrategicamente para desafiar a hegemonia do Rolex Submariner, este relógio marcou o retorno da Omega ao segmento de mergulho de luxo com uma estética decididamente moderna e audaciosa. Diferenciando-se de seus antecessores utilitários, o 'SMP 300' (como é carinhosamente conhecido) combinou robustez técnica — evidenciada pela válvula de escape de hélio às 10 horas — com uma elegância versátil, adequada tanto para o traje de neopreno quanto para o smoking. É um relógio que transcendeu sua função original de ferramenta para se tornar um pilar cultural, impulsionado pela associação cinematográfica com James Bond. Para o colecionador, a primeira geração equipada com o raro e transicional Calibre 1109 representa o momento gênese desta lenda, capturando a pureza do design original antes das inúmeras iterações que se seguiram. Ele personifica a era em que a relojoaria mecânica reafirmou sua relevância em um mundo pós-crise do quartzo, equilibrando perfeitamente a herança naval da marca com a inovação contemporânea.
HISTÓRIA
A história do Omega Seamaster Professional 300M, especificamente a sua gênese no início da década de 1990, é um dos capítulos mais fascinantes da horologia moderna. Após a turbulência da 'Crise do Quartzo' que dizimou grande parte da indústria suíça, a Omega buscava desesperadamente uma identidade renovada sob a nova direção estratégica que viria a formar o Grupo Swatch. Em 1993, a marca lançou o Seamaster Professional 300M, um relógio desenhado não para olhar para o passado, mas para definir o futuro. Ao contrário da linha 'Pre-Bond' Seamaster 200, que tinha uma estética integrada e datada, o novo 300M apresentava as agora famosas asas torcidas ('lyre lugs'), um mostrador com textura de ondas que evocava o oceano e ponteiros esqueletizados que permitiam a leitura clara da data e dos registros.
O foco técnico deste verbete recai sobre o Calibre 1109. Este movimento é de importância crítica para o historiador, pois foi produzido por um período extremamente curto — aproximadamente um ano — antes de ser substituído pelo onipresente Calibre 1120. O 1109 era essencialmente um ETA 2892-A2 com acabamento de alto nível e certificação de cronômetro COSC. No entanto, a Omega rapidamente iterou para o 1120 para melhorar a eficiência do enrolamento automático e a robustez. Portanto, encontrar um Seamaster 300M com o Calibre 1109 (geralmente referências iniciais 2531.80 ou suas variantes imediatas) é encontrar a 'primeira edição' deste livro de história.
A verdadeira virada de jogo ocorreu em 1995 com o filme 'GoldenEye'. A figurinista Lindy Hemming escolheu o Seamaster para o James Bond de Pierce Brosnan, argumentando que um comandante naval britânico moderno usaria um Omega, não o Rolex de seus predecessores. Embora Brosnan tenha usado a versão quartzo no filme, a versão automática tornou-se o objeto de desejo mundial. O modelo estabeleceu a válvula de escape de hélio manual como uma assinatura visual da Omega, uma característica técnica para mergulhadores de saturação que, na prática, serviu como um distintivo de 'ferramenta profissional' para o público leigo. O legado deste modelo é imensurável; ele não apenas salvou as finanças da Omega nos anos 90, mas estabeleceu a linguagem de design que a marca utiliza até hoje em suas modernas variantes de cerâmica e Master Chronometer.
CURIOSIDADES
O Calibre 1109 foi utilizado por um período tão breve que muitos colecionadores consideram estas unidades como 'pré-série' ou 'Mark I', tornando-as significativamente mais raras que as versões equipadas com o Calibre 1120.
Os primeiros mostradores desta geração utilizavam Trítio para a luminescência, identificados pela inscrição 'T Swiss Made T' na parte inferior do mostrador. Com o tempo, estes índices desenvolvem uma pátina amarelada cremosa, altamente desejada por puristas.
O Príncipe William do Reino Unido usa um Seamaster Professional 300M 'Mid-Size' (36mm) desta mesma geração há décadas; foi um presente de sua falecida mãe, a Princesa Diana.
No filme 'GoldenEye' (1995), o relógio foi equipado com um laser embutido no pip do bisel e um detonador de minas remoto, funções fictícias que cimentaram o status de 'gadget' do relógio.
A complexa pulseira de 9 peças por elo (embora pareça ter 5 elos visualmente) é considerada uma das mais confortáveis já produzidas, embora seja notoriamente difícil de dimensionar devido ao sistema de pinos e tubos.
Ao contrário da válvula de hélio da Rolex (que é automática), a válvula da Omega às 10 horas deve ser desparafusada manualmente durante a descompressão em mergulhos saturados, uma idiossincrasia técnica que se tornou uma assinatura de design.
O padrão de ondas no mostrador não é pintado, mas sim gravado (guilhochê), uma técnica de acabamento cara que conferia ao relógio uma aparência de profundidade tridimensional inigualável na sua faixa de preço na época.