RESUMO
O Omega De Ville Co-Axial (Calibre 2500) ocupa uma posição singular e reverenciada no panteão da horologia moderna, não por ostentação estética, mas por representar o marco zero de uma mudança sísmica na engenharia relojoeira. Lançado na virada do milênio, este modelo transcendeu sua categoria de 'dress watch' elegante para se tornar o veículo de estreia da inovação mais significativa na tecnologia de escapamento dos últimos 250 anos: o escapamento Co-Axial de George Daniels. Destinado a um público de colecionadores intelectuais e entusiastas que valorizam a pureza mecânica sobre o status superficial, o De Ville Co-Axial foi o manifesto da Omega contra a estagnação técnica. Enquanto esteticamente o relógio exala um classicismo sóbrio — com caixas perfeitamente polidas e mostradores de legibilidade imaculada — sua verdadeira alma reside na promessa de longevidade cronométrica e na redução drástica do atrito mecânico. Ele reposicionou a Omega não apenas como uma competidora no mercado de luxo, mas como uma líder vanguardista capaz de industrializar conceitos que marcas como Patek Philippe consideraram impossíveis de produzir em massa. Este relógio é, essencialmente, a ponte entre a tradição do escapamento de âncora suíço e o futuro da precisão livre de lubrificação excessiva, servindo como a pedra angular sobre a qual todo o império moderno da Omega foi reconstruído.
HISTÓRIA
A história do Omega De Ville Co-Axial é, intrinsecamente, a história de uma aposta audaciosa que redefiniu a identidade de uma das maiores manufaturas suíças. Para compreender a magnitude deste modelo, é necessário recuar à década de 1970, quando o mestre relojoeiro britânico George Daniels inventou o escapamento Co-Axial. Seu objetivo era eliminar o 'calcanhar de Aquiles' dos relógios mecânicos: o atrito deslizante do escapamento de âncora suíço, que exigia lubrificação constante e degradava a precisão ao longo do tempo. Daniels passou décadas oferecendo sua invenção às grandes casas de Genebra e do Vallée de Joux, sendo repetidamente rejeitado sob a premissa de que a tecnologia era demasiado complexa para a industrialização.
Foi apenas nos anos 90 que Nicolas G. Hayek, visionário líder do Swatch Group, viu no invento de Daniels a oportunidade perfeita para elevar a Omega acima de sua concorrência direta e revitalizar o interesse pela relojoaria mecânica pós-crise do quartzo. A Omega aceitou o desafio monumental de miniaturizar e produzir em massa o conceito de Daniels. O resultado dessa odisseia técnica foi apresentado na Baselworld de 1999: o Omega De Ville Co-Axial, equipado com o Calibre 2500.
A escolha da linha De Ville para este lançamento não foi acidental. Enquanto o Speedmaster e o Seamaster eram relógios ferramenta robustos, o De Ville oferecia a elegância necessária para destacar o movimento como uma obra de arte e engenharia. O Calibre 2500 em si foi uma evolução fascinante. Baseado no robusto e fino 'ébauche' ETA 2892-A2, ele foi radicalmente modificado para acomodar o escapamento Co-Axial e um balanço de inércia variável.
A trajetória do modelo também é marcada por uma curva de aprendizado técnica que os colecionadores hoje estudam com fervor. As primeiras iterações do movimento (2500A e 2500B) operavam a uma frequência padrão de 28.800 vph (4Hz). No entanto, a Omega descobriu que essa velocidade causava instabilidade a longo prazo no sistema Co-Axial. Isso levou ao desenvolvimento das versões 2500C e 2500D, onde a frequência foi reduzida para 25.200 vph (3.5Hz), uma cadência incomum, mas que se provou perfeita para a longevidade do mecanismo e para a eficácia do escape quase sem atrito.
Esteticamente, o De Ville Co-Axial manteve-se fiel aos códigos do design clássico, mas com toques de modernidade, como as garras escalonadas e braceletes de metal incrivelmente complexos (como o famoso bracelete 'Armadillo' ou 'Brick Road'). O impacto deste modelo foi absoluto: ele provou que a tecnologia mecânica ainda tinha espaço para evolução revolucionária, não apenas incremental. O sucesso do Calibre 2500 no De Ville deu à Omega a confiança para expandir a tecnologia Co-Axial para o Seamaster (Planet Ocean) e, eventualmente, desenvolver calibres totalmente in-house (série 8500 e 9000), culminando na atual certificação Master Chronometer. Portanto, o De Ville Co-Axial Calibre 2500 não é apenas um relógio; é o marco fundamental da Omega moderna.
CURIOSIDADES
O Calibre 2500C e D operam a 25.200 vph, uma frequência atípica criada especificamente para otimizar a interface do escapamento Co-Axial, tornando fácil para colecionadores experientes identificarem a versão apenas ouvindo o tic-tac ou observando o movimento no cronocomparador.
Embora George Daniels tenha modificado pessoalmente vários relógios em sua vida, ele considerou o lançamento industrial do Omega De Ville em 1999 como a validação final de sua obra, usando frequentemente um modelo De Ville de ouro em suas aparições públicas finais.
O bracelete de metal 'Armadillo' (ou Tijolo) disponível em alguns modelos De Ville desta era é considerado pelos especialistas como um dos braceletes mais confortáveis e bem acabados já produzidos pela Omega, com dezenas de componentes individuais por elo.
Uma variação rara e altamente colecionável é o De Ville Co-Axial Limited Edition em ouro rosa lançado em 1999 para comemorar a estreia da tecnologia, que hoje comanda preços significativos em leilões.
O termo 'Co-Axial' refere-se ao uso de dois impulsos coaxiais (no mesmo eixo) para transmitir energia ao balanço, reduzindo drasticamente o atrito de deslizamento encontrado no escapamento de alavanca tradicional.
O Calibre 2500 foi o primeiro movimento comercial a usar o Co-Axial, servindo como 'banco de provas' antes da criação dos calibres totalmente in-house da família 8500 quase uma década depois.
O ator Daniel Craig, antes de se tornar embaixador oficial como James Bond, era conhecido por apreciar a linha De Ville por sua discrição em comparação aos modelos esportivos da marca.