RESUMO
O Omega Seamaster Professional 200m, coloquialmente e carinhosamente batizado pelos colecionadores como 'Pre-Bond', representa um dos capítulos mais fascinantes e transitórios na história contemporânea da manufatura de Bienne. Lançado no crepúsculo da década de 1980, este modelo não foi apenas um relógio de mergulho; foi uma afirmação de identidade e resiliência da Omega em um período de reestruturação pós-crise do quartzo. Posicionado no mercado como um 'diver' de luxo com uma estética integrada que evocava a elegância dos 'sports watches' de aço da alta relojoaria, o Ref. 368.1051 transcendeu a utilidade bruta das ferramentas subaquáticas anteriores, como o Ploprof ou o Seamaster 300 original. Seu público-alvo oscilava entre o profissional marítimo, que exigia a robustez de uma certificação de cronômetro e resistência à água, e o executivo urbano, que valorizava o perfil fino e o design fluido da pulseira integrada para o uso sob o punho de uma camisa social. Filosoficamente, este modelo é a ponte vital entre a era vintage da Omega e o renascimento cinematográfico que viria com Pierce Brosnan em 1995. Para a horologia, o Pre-Bond é significativo por introduzir a linguagem de design 'scalloped' (bizel recortado) e os ponteiros de espada esqueletizados, elementos que se tornariam assinaturas visuais da linha Seamaster por décadas. Ele encapsula o momento em que a Omega decidiu que um relógio de ferramenta poderia, e deveria, ser também uma joia de engenharia mecânica sofisticada.
HISTÓRIA
A história do Omega Seamaster Professional 200m Ref. 368.1051 é a crônica de uma marca lutando para recuperar sua supremacia técnica e estética. Lançado oficialmente em 1988, o modelo surgiu em um contexto onde a Omega, sob a égide da recém-formada SMH (futuro Swatch Group), buscava uma nova direção. O mercado estava saturado de relógios de quartzo e designs derivados, e a Omega precisava de um porta-estandarte que combinasse a confiabilidade moderna com a tradição mecânica. Ao contrário de seus predecessores volumosos dos anos 70, o design do Pre-Bond apostou na fluidez. A caixa e a pulseira formavam uma linha contínua, uma clara influência do design integrado popularizado por Gérald Genta (embora o próprio Genta não tenha desenhado este modelo, a inspiração no Royal Oak e no Nautilus é palpável, porém adaptada ao DNA da Omega).
A evolução deste modelo é frequentemente dividida em duas 'Gerações' principais pelos historiadores. A Primeira Geração (1988-1991/92) é notória pelo uso de ponteiros estilo 'Mercedes' (semelhantes aos da Rolex, o que gerou críticas sobre falta de originalidade) e uma coroa lobulada de seis pontas. A Segunda Geração, à qual a Ref. 368.1051 pertence mais proeminentemente em sua forma final, corrigiu a identidade visual do relógio. Introduziu os ponteiros estilo 'Sword' (Espada), uma coroa roscada tradicional mais robusta e um mostrador com índices mais refinados.
Tecnicamente, o uso do Calibre 1111 foi um divisor de águas. Enquanto muitos modelos da linha 200m eram equipados com movimentos de quartzo (Ref. 396.1041, por exemplo), a Ref. 368.1051 carregava o prestígio mecânico. O movimento base ETA 2892-2 era, e continua sendo, reverenciado por sua espessura reduzida e robustez, permitindo que o Seamaster 200m fosse surpreendentemente fino para um relógio de mergulho capaz.
O impacto deste modelo na indústria foi sutil, mas profundo. Ele estabeleceu o terreno para o lançamento do Seamaster Professional 300m (o Bond Watch) em 1993. O desenho do bizel com recortes suaves (scalloped bezel) nasceu aqui, no Pre-Bond, e foi transferido diretamente para o sucessor, tornando-se uma das características mais reconhecíveis da Omega moderna. Quando a produção do 200m cessou em 1994/1995, ele deixou de ser apenas um relógio de catálogo para se tornar um 'cult classic', valorizado por ser o último Seamaster a possuir aquela aura de design integrado dos anos 80 antes da transição completa para a estética dos anos 90.
CURIOSIDADES
O apelido 'Pre-Bond' é tecnicamente um anacronismo criado pelos colecionadores, pois o relógio nunca foi comercializado com essa nomenclatura; ele ganhou o título apenas após o sucesso do modelo 300m no filme 'GoldenEye' (1995).
Embora muitos especulem que o design seja obra de Gérald Genta devido à pulseira integrada e estética geral, não há registros nos arquivos da Omega ou de Genta que confirmem essa autoria; é provável que seja obra de um designer interno influenciado pelo 'zeitgeist' da época.
Este modelo possui uma das classificações de tamanho mais confusas da Omega: existia em versões 'Mini', 'Mid-Size' (aprox. 36mm) e 'Full-Size' (aprox. 39-40mm), sendo o 368.1051 a cobiçada versão automática de tamanho grande.
Uma variação extremamente rara deste modelo apresenta o mostrador com o logo 'Omega' aplicado em ouro maciço, geralmente reservado para edições bicolores ou de metais preciosos, mas encontrado ocasionalmente em versões de aço.
O sistema de fecho da pulseira na segunda geração introduziu um mecanismo de travamento duplo que era muito avançado para a época, oferecendo uma segurança superior à maioria dos concorrentes da mesma faixa de preço.
A 'lume' de trítio original nos mostradores envelhece de forma distinta, variando de um creme suave a um amarelo abóbora intenso, o que influencia drasticamente o valor de colecionador nos dias de hoje.
O Seamaster 200m foi um dos últimos modelos da Omega a utilizar o logotipo do hipocampo 'desenhado' de forma mais plana no fundo da caixa antes da introdução das gravações a laser mais profundas e complexas dos modelos modernos.