RESUMO
Lançado no alvorecer da reconstrução pós-guerra, em 1947, o Movado Celestograph representa o zênite da manufatura da marca durante a sua 'Era de Ouro'. Enquanto o mundo horológico moderno associa a Movado quase exclusivamente ao minimalismo do 'Museum Dial', o Celestograph é um lembrete robusto de que a casa de La Chaux-de-Fonds foi, outrora, uma das maiores fabricantes de complicações mecânicas da Suíça. Posicionado acima do extremamente popular Calendograph, este modelo visava uma clientela de elite—diplomatas, executivos e entusiastas da astronomia—que exigia não apenas a utilidade do calendário, mas a poesia da fase lunar. O relógio combina a funcionalidade pragmática de um calendário triplo com o romance celestial, encapsulado em caixas que variavam do aço inoxidável utilitário ao ouro maciço opulento. No mercado atual de colecionadores, o Celestograph é reverenciado não apenas pela sua estética equilibrada e proporções clássicas, mas como um testemunho da proeza técnica da Movado antes da Crise do Quartzo, oferecendo uma alternativa sofisticada e de valor inestimável aos calendários perpétuos e completos de marcas da 'Santíssima Trindade' da mesma época.
HISTÓRIA
A história do Movado Celestograph, especificamente o modelo introduzido em 1947 com o calibre 473, é intrínseca à ascensão da Movado como uma verdadeira 'Manufacture' na primeira metade do século XX. Para compreender o Celestograph, deve-se primeiro olhar para o seu predecessor imediato, o Calendograph, lançado em 1938. O Calendograph, impulsionado pelo calibre 470, foi um sucesso retumbante, adornando os pulsos de figuras históricas como Winston Churchill. No entanto, no pós-guerra, havia uma demanda crescente por maior complexidade e refinamento estético. A resposta da Movado foi o calibre 473, uma modificação engenhosa do 470 que adicionava um disco de fase lunar giratório na posição das 6 horas, transformando um relógio de ferramentas em uma obra de arte horológica.
O lançamento em 1947 marcou um período de otimismo técnico. Diferente de muitos competidores que utilizavam módulos genéricos da Valjoux ou Venus, a Movado produziu o calibre 473 internamente. A arquitetura do movimento era robusta, projetada para ser reparada e ajustada com precisão, características que permitem que esses exemplares funcionem perfeitamente mais de 70 anos depois. Esteticamente, o Celestograph evoluiu rapidamente. As primeiras versões (1947-1949) frequentemente apresentavam as icônicas alças 'Turtle' (tartaruga) ou caixas fabricadas pela lendária François Borgel (mais tarde Taubert & Fils), a mesma fabricante que fornecia caixas à prova d'água para a Patek Philippe (como a referência 1463 'Tasti Tondi').
Durante o seu curto período de produção principal (1947-1954), o mostrador sofreu variações sutis que hoje definem o valor de coleção. Os modelos mais cobiçados possuem mostradores de dois tons e índices em ouro Breguet. A disposição das janelas de dia e mês, juntamente com a fase lunar e o ponteiro de data periférico, criou uma simetria visual que definiu a linguagem de design dos calendários completos de meados do século. O Celestograph não era apenas um relógio; era um computador mecânico de pulso.
Com o advento da década de 1960 e a mudança do foco da marca para o design artístico minimalista de Nathan George Horwitt (o Museum Watch), a linha de complicações mecânicas da Movado foi gradualmente descontinuada. Isso torna o Celestograph um artefato raro de uma era em que a Movado competia cabeça a cabeça com a Omega e a Jaeger-LeCoultre em termos de inovação mecânica. Hoje, o Celestograph de 1947 é considerado o 'Santo Graal' para os colecionadores da marca, simbolizando o ponto de virada entre a relojoaria utilitária da guerra e o luxo expressivo da década de 1950.
CURIOSIDADES
O nome 'Celestograph' é frequentemente confundido com 'Astrograph'. Embora usados de forma intercambiável em alguns catálogos antigos dependendo do mercado (EUA vs. Europa), 'Celestograph' refere-se mais especificamente à linha de 1947 com o calibre 473 puro, enquanto o Astrograph por vezes denotava variações de caixa ou mostrador.
As caixas de aço inoxidável fabricadas pela François Borgel (Taubert) para este modelo são as mesmas tecnicamente encontradas em cronógrafos Patek Philippe da mesma era, o que confere ao Celestograph um pedigree de 'case-making' excepcional.
O calibre 473 possui um sistema de ajuste rápido para o calendário que, embora primitivo para os padrões atuais (botões laterais na carrura), era revolucionário para a época, permitindo o ajuste sem perturbar os ponteiros de horas/minutos.
Existe uma variação extremamente rara com mostrador preto laqueado 'Gilt', que comanda preços astronômicos em leilões devido à sua escassez e fragilidade.
Ao contrário de muitos relógios de fase lunar modernos que usam um disco azul, muitos Celestographs originais de 1947 apresentavam um disco de lua com fundo esmaltado em azul profundo ou até mesmo preto, com luas e estrelas em ouro incrustado.
O modelo foi descontinuado em 1954, tornando a janela de produção de apenas 7 anos, o que explica a dificuldade de encontrar exemplares em condição 'mint' hoje.