RESUMO
O Movado Futuramic, equipado com o lendário Calibre 115 de 1951, representa um marco singular na história da relojoaria de meados do século XX. Lançado numa era de otimismo tecnológico e elegância pós-guerra, este modelo não foi apenas um instrumento de cronometragem, mas uma declaração de sofisticação técnica. Numa época em que os relógios automáticos eram frequentemente volumosos e desajeitados (conhecidos pejorativamente como 'bubble-backs'), o Futuramic distinguiu-se por abrigar um dos movimentos automáticos do tipo 'bumper' (martelo) mais finos e robustos já produzidos. Posicionado no mercado de luxo para o cavalheiro moderno — executivos, arquitetos e pioneiros da aviação comercial — o relógio combinava a praticidade da corda automática com a silhueta esbelta exigida pelos códigos de vestimenta formal. O Calibre 115 personifica a filosofia da 'Velha Movado', uma verdadeira manufatura que competia diretamente com Patek Philippe e Vacheron Constantin em termos de inovação e acabamento. O Futuramic é, portanto, um testemunho da transição crítica entre a relojoaria manual e a era do rotor completo, capturando o espírito do 'Mid-Century Modern' através de um design que priorizava tanto a estética aerodinâmica quanto a precisão cronométrica.
HISTÓRIA
Para compreender a magnitude do Movado Futuramic e do seu Calibre 115, é necessário transportar-se para o cenário horológico do início da década de 1950. A corrida pela automatização do relógio de pulso estava no seu auge. Enquanto a Rolex dominava com o seu sistema de rotor perpétuo de 360 graus (patenteado e agressivamente protegido), outras grandes manufaturas buscavam soluções alternativas que não infringissem patentes e, crucialmente, que resolvessem o problema da espessura. Os primeiros automáticos eram notoriamente espessos devido ao mecanismo de corda montado sobre o movimento base.
A Movado, operando no auge da sua capacidade como manufatura independente em La Chaux-de-Fonds, respondeu com engenharia de precisão: o Calibre 115. Introduzido e popularizado por volta de 1951, este movimento utilizava o sistema 'bumper' ou 'martelo', onde a massa oscilante não girava completamente, mas balançava para frente e para trás, batendo em molas de amortecimento. O que tornava o Calibre 115 excepcional era a sua arquitetura. A Movado conseguiu integrar o módulo automático de forma tão eficiente que o perfil do relógio permanecia elegante e fino, desafiando os concorrentes da época.
O nome 'Futuramic' não foi escolhido ao acaso. Ele evocava a fascinação da época pelo futuro, pelo design aerodinâmico e pela tecnologia (um termo também usado pela Oldsmobile para seus carros na mesma época). O design da caixa refletia essa fluidez, muitas vezes utilizando as lendárias caixas da Taubert (anteriormente François Borgel), famosas pela sua resistência à água e qualidade superior, com asas torcidas ou facetadas que capturavam a luz de maneira requintada.
Historicamente, o Futuramic serve como a ponte entre a linha 'Tempomatic' anterior e a futura linha 'Kingmatic' (que usaria rotores completos). O Calibre 115 é venerado por colecionadores não apenas pela sua magreza, mas pela sua durabilidade; muitos exemplares continuam a manter o tempo com precisão COSC décadas depois. O legado deste modelo reside na demonstração de que a Movado, antes da Crise do Quartzo e da mudança para designs minimalistas de moda, era uma das casas de engenharia mais respeitadas da Suíça, capaz de criar movimentos que eram simultaneamente robustos e refinados.
CURIOSIDADES
O 'Heartbeat' Tátil: Ao contrário dos automáticos modernos com rotores silenciosos, o proprietário de um Futuramic Calibre 115 pode sentir fisicamente o 'bump' ou impacto suave do martelo batendo nas molas de amortecimento ao mover o pulso, uma característica tátil adorada por colecionadores.
Conexão Automobilística: O termo 'Futuramic' foi fortemente associado ao design automotivo americano do final dos anos 40 e 50 (especificamente Oldsmobile), simbolizando a eliminação de estribos e para-lamas separados, tal como o relógio eliminava a necessidade de dar corda manual.
A 'Caixa Borgel': Muitos destes modelos, especialmente as versões em aço, utilizavam caixas fabricadas por François Borgel (marca FB com uma chave), o mesmo fornecedor das caixas impermeáveis da Patek Philippe (Ref. 1463) da mesma época.
Contagem de Joias Atípica: Enquanto a maioria dos relógios da época possuía 15 ou 17 joias, o Calibre 115 ostentava 19 joias, um indicativo de maior refinamento técnico e redução de atrito no sistema automático.
O Mais Fino da Sua Classe: Em campanhas publicitárias de 1951, a Movado frequentemente promovia seus automáticos como os mais finos do mundo, uma reivindicação ousada apoiada pela engenharia compacta do Calibre 115.