RESUMO
Em um período definido pela turbulência da Primeira Guerra Mundial e pela transição sísmica dos relógios de bolso para o pulso, o Patek Philippe Tonneau de 1916 emerge como um monumento de elegância e adaptação horológica. Este exemplar, muitas vezes referido pelos colecionadores puristas simplesmente pela sua forma e pelo seu movimento de 9 linhas, representa o ápice da filosofia de design 'Form Watch' (relógios de forma) que a manufatura genebrina começou a aperfeiçoar no início do século XX. Distante de ser uma mera ferramenta utilitária de trincheira, este modelo foi concebido para o cavalheiro aristocrático que exigia distinção estética aliada à precisão cronométrica. A caixa Tonneau, ou em forma de barril, oferecia uma ergonomia superior no pulso em comparação com as adaptações de caixas redondas da época, abraçando a anatomia humana com uma curvatura graciosa. O seu posicionamento no mercado atual é de extrema raridade e prestígio, atraindo curadores de museus e investidores de alto calibre que buscam não apenas um relógio, mas um fragmento tangível da história, onde a arte do guilhoche e a engenharia miniaturizada colidem. Ele simboliza o momento exato em que o relógio de pulso masculino deixou de ser uma novidade militar para se tornar um ícone de estilo e status social.
HISTÓRIA
A história do Patek Philippe Tonneau de 1916, equipado com o calibre 9, é intrínseca à própria aceitação do relógio de pulso pela sociedade masculina. Até a década de 1910, o relógio de pulso era amplamente considerado um adorno feminino ou, mais recentemente, uma necessidade militar brutalista. A Patek Philippe, com sua visão inigualável, percebeu que para o relógio de pulso ser aceito nos salões de alta sociedade, ele precisava transcender a forma redonda básica dos relógios de bolso adaptados. O ano de 1916 foi crucial. Enquanto o mundo estava em guerra, a Patek Philippe refinava a arte da caixa 'Tonneau'. Este formato não foi uma escolha aleatória; era uma resposta direta à rigidez das caixas redondas, oferecendo linhas que fluíam organicamente com o pulso e as mangas dos ternos sob medida. A engenharia por trás deste modelo específico é notável devido ao uso do movimento circular de calibre 9 linhas em uma caixa alongada. Diferentemente de décadas posteriores, onde os movimentos eram moldados à caixa, aqui a maestria estava em criar um alojamento estético (a caixa Tonneau) que protegesse o coração mecânico redondo sem criar um volume excessivo. O uso de lugs aparafusados, conforme mencionado na descrição do exemplar, foi uma evolução técnica significativa sobre os 'wire lugs' (alças de arame) frágeis que eram comuns na época, demonstrando a intenção da Patek de criar uma peça durável. Esteticamente, o mostrador guilhoché com algarismos dauphine reflete a transição do Art Nouveau para o que viria a ser o Art Deco. A textura do mostrador não servia apenas para beleza, mas para difundir a luz e melhorar a legibilidade. Este modelo pavimentou o caminho para a famosa coleção Gondolo e estabeleceu a Patek Philippe como a mestra incontestável dos 'Form Watches'. A raridade destes modelos pré-1920 em condições originais é extraordinária, pois muitos foram perdidos, derretidos ou destruídos ao longo do século. Para o colecionador moderno, possuir um Tonneau de 1916 é possuir o elo perdido entre a tradição do século XIX e a modernidade do século XX.
CURIOSIDADES
O termo 'Tonneau' significa 'barril' em francês, descrevendo perfeitamente as laterais abauladas e as extremidades planas do relógio, um design que antecede a popularização massiva do formato retangular 'Tank' da Cartier.
O movimento de calibre 9 linhas utilizado neste relógio era originalmente concebido para relógios-pingente femininos, sendo adaptado com genialidade para os primeiros relógios de pulso masculinos devido à sua robustez e perfil delgado.
A técnica de fixação da pulseira por 'Lugs Aparafusados' (parafusos passantes na lateral da alça) era uma característica de 'luxo e segurança' em 1916, evitando que o relógio caísse caso a cola ou costura da pulseira falhasse, algo comum em alças fixas soldadas.
Este modelo específico de 1916 é frequentemente citado em literaturas de leilão como um precursor espiritual da linha 'Gondolo', embora a coleção Gondolo tenha raízes em encomendas brasileiras anteriores; o design Tonneau solidificou a estética não-redonda da marca.
Devido à caixa articulada (hinged caseback), muitos proprietários originais personalizavam o interior da tampa com gravações de brasões de família ou dedicatórias, tornando cada exemplar sobrevivente um documento histórico único.
Os algarismos 'Dauphine' neste contexto referem-se a uma tipografia específica, ousada e serifada, que é extremamente rara de encontrar intacta sem restauração, dado que o esmalte sobre o mostrador de metal texturizado é frágil.