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Angelus Repetição Brevet 1899 - A Obra-Prima Acústica dos Irmãos Stolz que Definiu a Alta Relojoaria em Le Locle


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Angelus obteve uma patente (Brevet) para um mecanismo repetidor. Este mecanismo era fundamental para relógios que indicavam a hora através do som.

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RESUMO

No panteão da horologia suíça, poucas conquistas ressoam com tanta autoridade quanto o domínio das complicações acústicas no final do século XIX. O modelo de bolso Angelus, equipado com a patente de 1899 para um mecanismo repetidor, não é apenas um instrumento de tempo, mas a pedra angular sobre a qual a lendária manufatura Stolz Frères construiu sua reputação. Numa era anterior à iluminação elétrica onipresente, a capacidade de um relógio de 'dizer' a hora através do som era o auge da funcionalidade de luxo, reservada à elite aristocrática e industrial. Este modelo específico representa um ponto de inflexão crítico: o momento em que a Angelus transcendeu a montagem de peças (établissage) para se afirmar como uma verdadeira manufatura capaz de engenharia in-house de extrema complexidade. Destinado a colecionadores eruditos que valorizam a pureza mecânica pré-industrial, este relógio de bolso incorpora a filosofia de precisão auditiva e visual. Enquanto a Angelus se tornaria mundialmente famosa décadas depois pelos seus cronógrafos de pulso como o Chronodato, foi este domínio precoce dos martelos e gongos em 1899 que provou a capacidade técnica dos fundadores. Este mecanismo não era apenas uma ferramenta; era uma afirmação de status, combinando a robustez necessária para o uso diário de um cavalheiro com a delicadeza artística da alta relojoaria, posicionando a marca de Le Locle como uma rival legítima das grandes casas de Genebra e do Vallée de Joux.

HISTÓRIA

A história do mecanismo repetidor Angelus de 1899 é, em essência, a história da ascensão dos irmãos Albert e Gustav Stolz. Fundada em 1891 em Le Locle, o coração pulsante da relojoaria suíça, a empresa inicialmente operava sob o nome 'Stolz Frères'. No entanto, os irmãos tinham ambições que iam muito além da simples montagem de componentes pré-fabricados. Eles vislumbravam uma manufatura verticalizada, capaz de produzir complicações que desafiassem as leis da física e da acústica. O ano de 1899 marca um watershed moment nesta trajetória. Neste ano, a empresa garantiu uma patente crucial (Brevet) para o aperfeiçoamento de um mecanismo repetidor. Até então, os mecanismos de repetição eram notoriamente frágeis e difíceis de ajustar. A inovação dos Stolz focou na simplificação da arquitetura do movimento sem sacrificar a clareza do som — o 'chime' cristalino que anunciava as horas, quartos e, nas versões mais prestigiadas, os minutos. Este desenvolvimento não foi um evento isolado, mas sim o catalisador que permitiu à marca adotar o nome 'Angelus' de forma mais proeminente nos anos seguintes. O nome em si é uma alusão poética à oração do Angelus, tradicionalmente marcada pelo tocar dos sinos das igrejas três vezes ao dia; assim, um relógio Angelus trazia os sinos da igreja para o bolso do colete do seu proprietário. Os modelos equipados com este mecanismo de 1899 distinguiram-se imediatamente pela qualidade superior do seu regulador centrífugo, que controlava a velocidade das batidas dos martelos nos gongos, garantindo um ritmo cadenciado e musical, em oposição ao som apressado e metálico de concorrentes inferiores. O sucesso técnico desta patente catapultou a Stolz Frères para o palco mundial. Nos anos imediatamente posteriores, baseando-se na reputação construída por estes repetidores, a empresa começou a acumular prémios de prestígio, incluindo medalhas de ouro nas exposições de Paris (1900), Liège (1905) e Milão (1906). É fundamental para o colecionador moderno entender que o DNA dos famosos cronógrafos Angelus das décadas de 1940 e 1950 — relógios cultuados pela Panerai e pela elite militar — foi forjado nestes relógios de bolso de 1899. A disciplina de microengenharia necessária para fazer um repetidor funcionar perfeitamente é, sob muitos aspectos, superior à de um cronógrafo. Portanto, este modelo não é apenas uma antiguidade; é o 'Gênesis' técnico de uma das marcas mais influentes do século XX. A sobrevivência destes exemplares hoje é rara, pois as caixas de ouro foram frequentemente derretidas durante crises económicas, tornando o movimento intacto com a patente de 1899 um verdadeiro 'Santo Graal' para historiadores da marca.

CURIOSIDADES

A escolha do nome 'Angelus' para a marca foi diretamente inspirada pela especialização nestes relógios repetidores, evocando os sinos da oração católica matinal, vespertina e noturna. Embora a patente seja de 1899, muitos destes movimentos foram finalizados e encaixados nos primeiros anos do século XX, frequentemente ganhando prémios de cronometria que eram orgulhosamente gravados na cuvette (tampa interna) de poeira. Existem variações raríssimas deste mecanismo que incluem também a complicação de cronógrafo monopulsante, criando um 'Grand Complication' de bolso muito antes do termo se tornar comum no marketing moderno. Devido à natureza artesanal da produção em 1899, não existem dois mecanismos que soem exatamente iguais; o timbre depende da liga específica dos gongos, da densidade da caixa e até do ajuste manual feito pelo mestre relojoeiro há mais de 120 anos. Colecionadores referem-se frequentemente a estes modelos como 'The Stolz Foundation Pieces', diferenciando-os da produção em massa de meados do século XX. A Panerai, famosa por usar movimentos Angelus de 8 dias nos anos 40 e 50, deve a robustez dos seus calibres à expertise em materiais desenvolvida pelos irmãos Stolz com estes repetidores de bolso iniciais.

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