RESUMO
No panteão da alta relojoaria, poucos mecanismos evocam tanta reverência quanto o Longines 13ZN. Lançado em um momento crítico da história, onde a precisão mecânica era uma questão de vida ou morte para os pioneiros da aviação, o 13ZN não é apenas um relógio; é considerado por muitos acadêmicos e colecionadores como o melhor movimento de cronógrafo de corda manual já produzido em série. Posicionado originalmente como uma ferramenta profissional indispensável para pilotos e navegadores, ele introduziu comercialmente a função 'flyback' (retour-en-vol) patenteada em 1936. Esta inovação permitia o reset e reinício instantâneo da cronometragem com um único toque, eliminando a sequência 'parar-zerar-iniciar', vital para a navegação aérea rápida. Esteticamente, os relógios equipados com o 13ZN variam de elegantes peças de vestuário a robustos modelos militares à prova d'água, mas todos compartilham uma filosofia de design que prioriza a legibilidade e a excelência mecânica. Hoje, o 13ZN transcende sua utilidade original, sendo uma 'blue chip' no mercado de colecionadores, representando o auge da manufatura in-house da Longines antes da industrialização em massa da era moderna.
HISTÓRIA
A gênese do Longines 13ZN remonta a meados da década de 1930, um período de rápida evolução na aviação e na exploração global. A Longines, já estabelecida como fornecedora oficial da Federação Aeronáutica Internacional, reconheceu a necessidade de um instrumento que pudesse acompanhar a velocidade e a complexidade da navegação aérea moderna. Embora a marca já tivesse experimentado cronógrafos de pulso com o calibre 13.33Z, foi o desenvolvimento do 13ZN que marcou um divisor de águas tecnológico.
Em 1936, a Longines registrou a patente para o mecanismo de flyback sob o calibre 13ZN. A importância desta função não pode ser subestimada: num cockpit vibrante, voando por instrumentos, um piloto precisava cronometrar pernas de voo consecutivas. O método tradicional exigia três pressões distintas para reiniciar o cronógrafo; o 13ZN reduziu isso a uma, economizando segundos cruciais e reduzindo a carga cognitiva do piloto.
O calibre em si é uma obra-prima de arquitetura horológica. Com 29,8mm de diâmetro (daí o '13' linhas no nome), ele apresentava uma construção robusta, uma roda de colunas de precisão e acabamentos que, embora industriais, rivalizavam com a alta relojoaria de Patek Philippe da época. Durante sua produção, que durou até o final dos anos 1940, o 13ZN foi alojado em uma diversidade impressionante de caixas. As primeiras iterações apresentavam alças móveis e fundos de pressão, evoluindo para as lendárias caixas 'Tre-Tacche' (três entalhes) com fundo rosqueado, projetadas para oferecer maior resistência à água e poeira.
Visualmente, os mostradores eram igualmente variados e complexos, muitas vezes apresentando múltiplas escalas coloridas (o famoso 'snail dial') para taquímetros e telêmetros. Existiram variações extremamente raras, como o 13ZN-12, que incluía um contador de horas, uma complicação incomum para a época. O reinado do 13ZN terminou com a chegada do calibre 30CH em 1947, que, embora tecnicamente brilhante, marcou o início de uma era de racionalização de custos. O 13ZN permanece, portanto, como o símbolo máximo da 'Era de Ouro' da Longines, um testemunho de quando a marca de Saint-Imier estava no topo da pirâmide da cronometragem mundial.
CURIOSIDADES
A patente oficial do mecanismo flyback foi concedida em 1936, mas o desenvolvimento começou anos antes, baseando-se nas modificações do calibre 13.33Z.
O termo 'Tre-Tacche' é italiano para 'três entalhes' e refere-se ao design específico do fundo da caixa rosqueada, altamente cobiçado por colecionadores devido à sua raridade e robustez.
Alguns modelos 13ZN foram fornecidos para a Força Aérea Romena e outras unidades militares, tornando as peças com marcações de proveniência militar (como 'MN' ou gravuras específicas) extremamente valiosas.
O Calibre 13ZN é notavelmente grande para a época (13 linhas), o que permitiu o uso de um balanço maior, contribuindo para sua lendária precisão e estabilidade.
Existe uma versão mítica e raríssima conhecida como '13ZN-12', que possui um contador de 12 horas central ou em subdial, produzida em números infinitesimalmente pequenos.
Em leilões recentes da Phillips e Christie's, exemplares imaculados do 13ZN em caixas de aço 'step-case' ultrapassaram a marca de seis dígitos (USD), consolidando seu status de investimento.
Ao contrário de muitos cronógrafos modernos que usam cames, o acionamento dos botões do 13ZN é famoso pela sua sensação tátil suave e amanteigada, uma característica distintiva da roda de colunas de alta qualidade.