RESUMO
O lançamento do Zenith Class Elite em 1994 não representou apenas a introdução de um novo relógio, mas sim a afirmação definitiva da Zenith como uma manufatura completa e independente num mundo pós-crise do quartzo. Enquanto a marca já era venerada pelo lendário cronógrafo El Primero, o mercado de alta relojoaria exigia um movimento automático de três ponteiros que fosse igualmente robusto, preciso e elegante. O Class Elite foi a resposta sofisticada a essa lacuna. Posicionado como um 'dress watch' por excelência, este modelo foi desenhado para o colecionador que valoriza a discrição técnica sobre a ostentação. A sua filosofia de design baseia-se na elegância despretensiosa: uma caixa esbelta que desliza sem esforço sob o punho de uma camisa, abrigando um motor mecânico de vanguarda. A importância deste relógio reside na sua integridade estrutural; ele foi o veículo de estreia para o movimento Elite, o primeiro calibre da Zenith desenvolvido com tecnologia CAD (Computer-Aided Design). Esta inovação permitiu uma espessura notavelmente reduzida sem sacrificar a fiabilidade, tornando-o um favorito imediato entre puristas e profissionais da indústria. O Class Elite não é apenas um instrumento de tempo; é um monumento à persistência da engenharia mecânica suíça no final do século XX.
HISTÓRIA
A história do Zenith Class Elite e do seu motor, o Calibre 680, é um capítulo fundamental na renascença da relojoaria mecânica dos anos 90. No início da década, a Zenith desfrutava de um prestígio imenso devido ao calibre El Primero, que inclusivamente alimentava o Rolex Daytona. No entanto, a marca enfrentava um dilema estratégico: a sua dependência excessiva de um único movimento de cronógrafo e a falta de um calibre de base automático moderno e próprio para relógios de três ponteiros. Em 1991, a equipa técnica da Zenith iniciou o ambicioso projeto de criar um movimento que fosse, simultaneamente, ultraplano, modular e extremamente fiável.
O ano de 1994 marcou o culminar deste esforço com o lançamento da família 'Elite' e do modelo Class Elite que o abrigava. O que tornou este lançamento histórico foi a metodologia de criação: foi um dos primeiros movimentos da indústria a ser integralmente concebido através de Design Assistido por Computador (CAD). Esta tecnologia permitiu aos engenheiros otimizar o espaço, resultando num calibre de apenas 3.28mm de espessura, mas com uma robustez que faltava a muitos movimentos ultraplanos da época. O Calibre 680 (com pequenos segundos às 9 horas) foi a versão inaugural, oferecendo uma estética assimétrica e clássica que remetia aos relógios de bolso tradicionais, mas numa embalagem modernizada.
O design do modelo Class Elite refletia a pureza do movimento. Com uma caixa de 37mm, bisel em degraus suaves e asas curvas, o relógio personificava o equilíbrio. Ao contrário dos designs volumosos que começavam a surgir, o Class Elite manteve-se fiel à proporção áurea da relojoaria clássica. A receção foi estrondosa, com a imprensa especializada a conceder ao movimento Elite o título de 'Movimento do Ano' na Feira de Basileia de 1994, um reconhecimento raro e cobiçado.
Ao longo das décadas seguintes, a arquitetura do Elite provou ser extraordinariamente versátil, servindo de base para variações com segundos centrais (Calibre 670), reserva de marcha (Calibre 685), GMT (Calibre 682) e até fases da lua. O Class Elite original de 1994, contudo, permanece o mais puro exemplo desta linhagem. Para os colecionadores, este modelo não é apenas um relógio bonito; é a prova física da capacidade da Zenith de inovar além do cronógrafo, solidificando o seu estatuto como uma das poucas verdadeiras 'Manufaturas' suíças capazes de produzir a totalidade dos seus componentes in-house.
CURIOSIDADES
O Calibre 680 foi eleito 'Movimento do Ano' pela imprensa especializada europeia logo após o seu lançamento em 1994, superando concorrentes de marcas com orçamentos muito superiores.
A espessura do movimento, de apenas 3.28mm, permitiu que a Zenith fornecesse este calibre a outras marcas de prestígio, incluindo a Panerai (para os modelos Radiomir de 40mm, como o PAM 62) e a vanguardista Urwerk.
O rotor do movimento é montado sobre rolamentos de esferas de cerâmica em versões mais recentes, mas os originais de 1994 utilizavam esferas de aço de alta precisão, uma inovação para reduzir o desgaste a longo prazo.
O design modular do Elite foi tão bem executado via CAD que a posição da data pode ser alterada ou suprimida sem redesenhar a platina principal, uma flexibilidade rara na época.
Apesar de ser um movimento 'fino', o Elite foi projetado para ter uma robustez superior ao famoso calibre JLC 889, o seu principal rival na categoria de ultraplanos automáticos nos anos 90.
Algumas das primeiras unidades do Class Elite (1994-1995) possuem mostradores de trítio (marcados com 'T Swiss Made T'), que hoje desenvolvem uma pátina amarelada cobiçada por colecionadores, antes da transição para o Super-LumiNova.