RESUMO
Este cronógrafo Breguet de 1938 não é apenas um instrumento de medição de tempo; é um artefato de transição crucial na história da Alta Relojoaria. Produzido durante a gestão da família Brown, numa época em que a manufatura produzia um número extremamente limitado de peças anuais, este modelo representa a cristalização do cronógrafo de pulso moderno antes da padronização militar da Segunda Guerra Mundial. Com o seu mostrador preto profundo adornado por escalas e ponteiros em tom de cobre (o cobiçado estilo 'gilt'), este relógio foi posicionado para uma clientela de elite — aviadores pioneiros, desportistas abastados e industriais — que exigiam precisão técnica sem sacrificar a elegância parisiense. Ao contrário dos modelos em metais preciosos típicos da Breguet, a escolha do aço inoxidável e as garras (lugs) largas e robustas sinalizam uma mudança de paradigma em direção à utilidade desportiva. Ele serve como o elo perdido entre os relógios de bolso complicados do século XIX e a lendária linha militar Type XX que definiria a marca na década de 1950. Para o colecionador contemporâneo, esta peça é o Santo Graal da 'Breguet Vintage': uma fusão de raridade extrema, proveniência documentada e design utilitário sofisticado.
HISTÓRIA
A história deste cronógrafo de 1938 é indissociável do contexto geopolítico e industrial do final da década de 1930. Embora a casa Breguet, sob a direção da família Brown, tenha começado a experimentar timidamente com cronógrafos de pulso por volta de 1935, a produção era microscópica se comparada a gigantes industriais como a Longines ou a Universal Genève. Cada relógio era praticamente uma peça única, montada à mão e registada individualmente nos famosos arquivos da Place Vendôme.
Este modelo específico de 1938 surge num momento de tensão pré-bélica na Europa, onde a procura por instrumentos de precisão portáteis começava a crescer exponencialmente. O design reflete o auge do período Art Deco tardio, transitando para o modernismo funcional. A caixa de aço inoxidável com garras largas e facetadas não era apenas uma escolha estética, mas uma necessidade estrutural para garantir durabilidade em ambientes hostis, como cockpits de aviões ou pistas de corrida.
Tecnicamente, a Breguet não produzia calibres de cronógrafo 'in-house' nesta época — uma prática comum na indústria suíça. Em vez disso, a maison selecionava os melhores ébauches disponíveis, frequentemente da Valjoux (como o lendário calibre 22), e acabava-os segundo os padrões exigentes da Breguet. O mostrador preto com inscrições em cobre (hoje referido pelos colecionadores como 'gilt dial') não era apenas belo; oferecia alto contraste e legibilidade, características vitais antes do advento de materiais luminescentes avançados.
A importância histórica deste modelo reside no fato de ser o antepassado direto da especificação militar. Enquanto o Type XX (encomendado nos anos 50 pela Aéronavale francesa) se tornaria um ícone produzido em massa com função 'flyback', este exemplar de 1938 estabeleceu o vocabulário visual: a legibilidade austera, a caixa robusta e a fiabilidade mecânica. É, portanto, a semente da qual brotou toda a linhagem desportiva da Breguet. A sua sobrevivência e o seu estado de conservação são testemunhos da qualidade de fabrico numa era em que a Breguet produzia menos de mil relógios por ano no total.
CURIOSIDADES
O Arquivo Breguet: A característica mais valiosa deste relógio é que, como quase todos os Breguet, o seu número de série individual permite rastrear a data exata de venda e o nome do comprador original nos livros da Place Vendôme.
Estética 'Gilt': O mostrador não é pintado da forma moderna; o tom cobre é a base metálica da placa do mostrador revelada através de um processo galvânico negativo (relief print), uma técnica perdida de alto custo.
Raridade de Produção: Estima-se que a Breguet produziu apenas algumas dezenas de cronógrafos de pulso em aço no ano de 1938, tornando-o exponencialmente mais raro que um Rolex Daytona 'Paul Newman'.
Assinatura Secreta: Embora comum em relógios modernos, algumas peças desta era já apresentavam a 'assinatura secreta' pantografada para evitar falsificações, embora fosse menos consistente nos modelos desportivos.
O Preço da História: Exemplares semelhantes em leilões da Phillips ou Christie's têm alcançado valores de seis dígitos, valorizados não pelo material da caixa, mas pela pureza do design e importância histórica.
Sem 'Breguet' no Movimento: É comum que os movimentos desta era não tenham a assinatura 'Breguet' gravada na ponte, mas apenas na caixa e mostrador, uma idiossincrasia da produção pré-guerra que confunde colecionadores novatos.