RESUMO
Lançado em um momento crucial para a indústria relojoeira, o Audemars Piguet Grande Complication com Calibre 2885 representa muito mais do que um instrumento de cronometragem; é um manifesto de resistência e supremacia mecânica. Emergindo em 1996, num período em que a Alta Relojoaria buscava reafirmar sua relevância pós-crise do quartzo, esta peça posicionou-se imediatamente no ápice da pirâmide de luxo, destinada exclusivamente aos colecionadores mais eruditos e exigentes do mundo. Não se trata de um relógio para uso casual ou esportivo, mas sim de uma 'supercomplicação' de vestir, encapsulando a filosofia de 'savoir-faire' ancestral da manufatura de Le Brassus. A combinação de três das mais difíceis complicações horológicas — a repetição de minutos, o cronógrafo rattrapante (split-seconds) e o calendário perpétuo — num formato de pulso automático foi um feito de engenharia que desafiou os limites físicos da época. Este modelo não apenas solidificou o status da Audemars Piguet como membro da 'Santíssima Trindade' da relojoaria, mas também serviu como uma declaração de que a arte da micromecânica tradicional estava viva, vibrante e capaz de superar qualquer tecnologia digital em termos de prestígio, complexidade e beleza emocional. É uma peça que transcende a moda, habitando o território da arte cinética perene.
HISTÓRIA
A história do Audemars Piguet Grande Complication de 1996 é indissociável da renascença da relojoaria mecânica no final do século XX. Após décadas de turbulência causada pela revolução do quartzo, a década de 1990 viu as grandes 'maisons' competirem ferozmente para demonstrar domínio técnico. A Audemars Piguet, com uma linhagem ininterrupta de produção desde 1875, decidiu que não bastava apenas fazer um relógio complicado; era necessário criar o relógio de pulso automático mais complexo de sua história até então. O desenvolvimento do Calibre 2885 foi uma odisseia técnica. Historicamente, a AP já era famosa por seus relógios de bolso 'Universelle', mas miniaturizar a tríade sagrada das complicações — o som cristalino de uma repetição de minutos, a precisão intervalada de um cronógrafo rattrapante e a memória astronômica de um calendário perpétuo — para o espaço confinado de uma caixa de pulso exigiu anos de pesquisa e desenvolvimento. Quando lançado em 1996, primeiramente abrigado na estética clássica redonda (que mais tarde solidificaria a coleção Jules Audemars), o modelo chocou o mundo horológico. Diferente de seus concorrentes, que muitas vezes optavam por movimentos manuais para economizar espessura, a AP integrou um sistema de corda automática, adicionando uma camada extra de conveniência e complexidade. O desafio não era apenas encaixar as 648 peças, mas garantir que elas operassem em harmonia; o mecanismo de repetição, por exemplo, precisava soar audivelmente através de uma caixa selada, enquanto o cronógrafo rattrapante exigia um ajuste de tensão perfeito para não parar o relógio quando ativado. Ao longo dos anos, o Calibre 2885 provou ser tão robusto e venerado que a Audemars Piguet o transplantou para sua linha mais esportiva, o Royal Oak e o Royal Oak Offshore, criando contrastes fascinantes entre a alta complicação clássica e o design industrial brutalista. No entanto, a referência de 1996 permanece o marco zero, o momento em que a Audemars Piguet declarou que a tradição não era uma âncora que a prendia ao passado, mas uma catapulta para o futuro da engenharia de luxo. A produção destes modelos é extremamente limitada, com um único mestre relojoeiro dedicando meses para a montagem de um único exemplar, garantindo que cada peça seja única em sua alma mecânica.
CURIOSIDADES
O Calibre 2885 é composto por exatamente 648 componentes, todos ajustados à mão, o que é mais do que o dobro de peças de um movimento cronógrafo padrão.
Cada relógio Grande Complication é montado do início ao fim por um único mestre relojoeiro na oficina de 'Grandes Complications' em Le Brassus, um processo que leva de 4 a 6 meses.
Para garantir a acústica perfeita da Repetição de Minutos, cada relógio é testado em uma câmara anecoica e afinado 'de ouvido' pelo relojoeiro, tal como um instrumento musical.
O mecanismo de calendário perpétuo do 2885 é programado mecanicamente para não necessitar de correção manual até o ano de 2100, desde que o relógio se mantenha em funcionamento.
Uma versão deste movimento (dentro de uma caixa Royal Oak Offshore) ganhou fama cinematográfica no pulso de Arnold Schwarzenegger no filme 'Terminator 3', cimentando a fusão entre cultura pop e alta relojoaria.
O termo 'Rattrapante' vem do francês 'rattraper' (alcançar), referindo-se ao segundo ponteiro de segundos que 'alcança' o primeiro após medir um tempo intermediário.
O peso do rotor de ouro é personalizado e esqueletizado para permitir a máxima visualização do movimento complexo, sendo muitas vezes gravado com o brasão da família Audemars Piguet.