RESUMO
Lançado em 1956 para comemorar o centésimo aniversário da manufatura fundada por Urs Schild e Dr. Joseph Girard, o Eterna Centenaire representa o apogeu da relojoaria suíça clássica da era dourada. Este modelo não foi apenas um exercício de celebração, mas uma afirmação de superioridade técnica, posicionando-se no mercado como um relógio de prestígio, destinado a uma clientela sofisticada que valorizava a discrição estética aliada à excelência mecânica. Enquanto a Rolex consolidava seus 'tool watches' e a Omega refinava o Constellation, a Eterna apostou na elegância esbelta. O Centenaire foi projetado como o relógio 'dress' definitivo, incorporando o revolucionário sistema de rotor montado sobre rolamentos de esferas (Eterna-Matic) em um perfil surpreendentemente fino para a época. Sua importância horológica reside na capacidade da Eterna de miniaturizar e refinar a eficiência do enrolamento automático, permitindo que um relógio de uso diário mantivesse as proporções graciosas de uma peça de gala. Para o colecionador moderno, o Centenaire é um testemunho da época em que a Eterna não era apenas uma marca, mas uma potência industrial que fornecia o DNA para grande parte da relojoaria suíça através da ETA.
HISTÓRIA
A história do Eterna Centenaire é intrínseca à própria evolução do movimento automático moderno. Em 1856, a empresa que viria a ser a Eterna foi fundada, mas foi em 1948 que a marca mudou a relojoaria para sempre com a introdução do rotor montado sobre cinco microesferas de rolamento — uma inovação que reduziu drasticamente o atrito e aumentou a eficiência do carregamento. Quando o ano de 1956 chegou, marcando o centenário da marca, a Eterna decidiu encapsular essa tecnologia revolucionária em um invólucro que exalasse luxo e sofisticação. O resultado foi o modelo 'Centenaire'.
Diferente dos relógios robustos e utilitários da linha KonTiki (que viria logo depois), o Centenaire foi concebido para a sala de reuniões e para o ópera. O desafio técnico superado pelos engenheiros da Eterna foi criar um movimento automático que coubesse em uma caixa fina, competindo diretamente com os calibres manuais ultrafinos de marcas como Vacheron Constantin ou Audemars Piguet, mas com a praticidade do uso diário. O uso de calibres como o 1429U permitiu exatamente isso: um perfil esguio que deslizava sob o punho da camisa.
O design do modelo de 1956 estabeleceu uma linguagem visual de pureza: mostradores limpos, tipografia cursiva elegante para o nome 'Centenaire' e o orgulhoso logotipo de cinco esferas aplicado no mostrador. O sucesso foi imediato, levando a Eterna a transformar o Centenaire em uma linha contínua. Nos anos subsequentes, o modelo evoluiu para o famoso 'Centenaire 61' (lançado no início dos anos 60), que introduziu mudanças na arquitetura da caixa e a inclusão mais frequente da janela de data, muitas vezes com designs de 'data rápida' inovadores para a época.
Para a Eterna, este modelo solidificou sua reputação não apenas como fabricante de ébauches (através de sua subsidiária ETA, que equipava a indústria), mas como uma 'Maison' capaz de produzir relógios completos de alto luxo. O Centenaire provou que a confiabilidade industrial do sistema Eterna-Matic podia conviver harmoniosamente com a Alta Relojoaria. Hoje, os modelos de 1956 são reverenciados por sua estética 'Bauhaus com alma', representando um ponto de inflexão onde a tecnologia serviu puramente ao design.
CURIOSIDADES
O logotipo da Eterna (cinco esferas dispostas em um pentágono) é uma representação direta do sistema de rolamento do rotor Eterna-Matic, tecnologia que equipa o Centenaire e que se tornou o padrão industrial global para relógios automáticos até hoje.
Embora a Eterna seja famosa pela linha KonTiki (exploração), o Centenaire foi, durante os anos 50 e 60, o relógio mais vendido da marca no segmento de luxo na Europa.
Existem versões extremamente raras do Centenaire de 1956 com mostradores em 'Cloisonné' ou esmalte, que alcançam valores astronômicos em leilões, embora a maioria seja encontrada em configurações clássicas de mostrador sunburst.
O movimento 1429U utilizado nesta linha é considerado o 'avô' de muitos movimentos ETA modernos (como a série 2824), demonstrando que a arquitetura básica criada para o Centenaire era mecanicamente perfeita.
O nome 'Centenaire' foi tão forte que a Eterna reviveu a linha diversas vezes nas décadas seguintes, inclusive com reedições modernas, mas nenhuma captura a proporção áurea da caixa de 35mm do original de 1956.
Alguns modelos Centenaire destinados ao mercado sul-americano e francês vinham com a inscrição 'Chronometre' no mostrador, indicando certificação de precisão, o que é um bônus raro para colecionadores.
O modelo foi um dos primeiros a utilizar uma liga especial no rotor para aumentar a massa e a inércia sem aumentar a espessura, uma técnica metalúrgica avançada para 1956.