RESUMO
O Blancpain Villeret Tourbillon Volant Une Minute 12 Jours representa o apogeu da Haute Horlogerie contemporânea, equilibrando a estética clássica inconfundível da coleção Villeret com uma proeza técnica avassaladora. Lançado em 2014, este modelo não é apenas um instrumento de tempo, mas uma declaração de domínio mecânico da manufatura de Le Brassus. Destinado ao colecionador ultra-sofisticado que valoriza a discrição e o conteúdo técnico acima da ostentação, o relógio ocupa um nicho rarefeito de 'grandes complicações de uso diário'. A sua filosofia de design é purista: um mostrador em esmalte Grand Feu de alvura imaculada que serve de palco teatral para o balé mecânico do turbilhão volante às 12 horas. No entanto, o que verdadeiramente define a sua importância na horologia é a fusão da tradição secular com a inovação de materiais modernos, especificamente o silício, permitindo um desempenho cronométrico e uma autonomia energética que desafiaram os limites da indústria na sua estreia. É um relógio que transcende a função de adorno para se tornar um monumento à engenharia de precisão, concebido para o entusiasta que compreende que o verdadeiro luxo reside na complexidade invisível e na perfeição do acabamento manual.
HISTÓRIA
A história do Villeret Tourbillon Volant Une Minute 12 Jours, especificamente a referência 66240 lançada em 2014, é um capítulo vital na narrativa de renascimento e inovação da Blancpain sob a liderança de Marc A. Hayek. Para compreender a magnitude deste lançamento, é necessário revisitar a herança da marca com o turbilhão. Em 1989, a Blancpain chocou o mundo com o Calibre 23, o primeiro turbilhão volante de corda manual com 8 dias de reserva de marcha num relógio de pulso, que na altura era o mais fino do mundo. O modelo de 2014, portanto, não surgiu num vácuo, mas como a evolução definitiva desse legado.
O contexto de 2014 era de intensa competição técnica, onde as marcas de topo disputavam recordes de autonomia. A Blancpain respondeu com o Calibre 242, que sucedeu ao lendário Calibre 25. A proeza técnica aqui foi monumental: enquanto a maioria dos relógios com reservas de marcha longas (7, 8 ou 10 dias) necessitava de múltiplos tambores de corda acoplados para armazenar energia, a Blancpain conseguiu extrair 12 dias completos (288 horas) de um único tambor. Este feito exigiu um redesenho total da mola principal e da eficiência da transmissão de energia.
Visualmente, o modelo manteve-se fiel aos códigos estéticos da coleção Villeret, batizada em homenagem à aldeia natal da marca fundada por Jehan-Jacques Blancpain em 1735. A caixa apresenta a icónica luneta de duplo degrau ('double stepped bezel'), e o mostrador utiliza a técnica ancestral de esmalte Grand Feu, que garante que a cor branca permaneça inalterada por séculos. A decisão de utilizar um turbilhão 'volante' (sem a ponte superior de suporte) foi estética e técnica, permitindo uma visão desobstruída do órgão regulador e criando a ilusão de que a gaiola flutua no vazio.
Historicamente, este modelo também marcou uma transição crucial no uso de materiais. A incorporação de uma espiral e alavancas de escape em silício no Calibre 242 foi revolucionária para um relógio de aparência tão clássica. O silício tornou o movimento imune a campos magnéticos — o arqui-inimigo da precisão mecânica — eliminando a necessidade de uma gaiola de ferro macio interna e permitindo o fundo de safira. A referência 66240-3431-55B em platina consolidou a posição da Blancpain não apenas como uma guardiã da tradição, mas como uma pioneira que utiliza a tecnologia de ponta para aprimorar, e não substituir, a relojoaria clássica.
CURIOSIDADES
Recordista Mundial de 2014: No momento do seu lançamento, este modelo detinha o recorde mundial para a maior reserva de marcha num relógio de pulso com turbilhão automático alimentado por um único tambor.
O Segredo do Esmalte: O mostrador em esmalte Grand Feu é submetido a temperaturas superiores a 800°C em fornos sucessivos; a taxa de rejeição é altíssima devido a microfissuras, tornando cada mostrador perfeito uma raridade.
Assinatura Secreta: Fiel à tradição dos esmaltadores, o mostrador possui a assinatura secreta 'JB' (iniciais de Jehan-Jacques Blancpain) gravada de forma quase invisível entre os numerais IV e V ou VII e VIII, visível apenas sob luz rasante e ampliação.
Gaiola Descentralizada: A gaiola do turbilhão foi ampliada em relação aos modelos anteriores da Blancpain para melhor apreciação visual, exigindo um novo equilíbrio de peso no movimento.
O Rotor Fantasma: Para não obstruir a visão do movimento magnificamente decorado através do fundo de safira, a massa oscilante de ouro (platinada ou em ouro rosa dependendo da versão) é totalmente esqueletizada, deixando apenas o aro periférico e as hastes centrais.
Silício vs. Tradição: Foi um dos primeiros 'Grande Complication' ultra-clássicos a adotar abertamente o silício, um material que na época gerava debate entre puristas, mas que a Blancpain provou ser essencial para a cronometria moderna.