RESUMO
Situado na intersecção vital entre a horologia de alta precisão e a era dourada da aviação, o Longines Weems Second-Setting Watch de 1929 não é apenas um relógio; é um instrumento de sobrevivência. Concebido em uma época em que a navegação celestial era a única linha de vida de um piloto sobre oceanos vastos e inóspitos, esta peça representa o ápice da filosofia de design 'forma segue a função'. Seu público-alvo original consistia exclusivamente na elite da aviação militar e exploratória, homens que exigiam precisão absoluta, pois um erro de segundos na cronometragem poderia resultar em milhas de desvio geográfico fatal. O que distingue o Weems no panteão horológico é a sua solução mecânica engenhosa para um problema prático: a impossibilidade de sincronizar os segundos com um sinal de rádio sem parar o balanço do movimento, o que comprometeria sua estabilidade isócrona. Ao introduzir um disco central rotativo, a Longines permitiu que o tempo fosse ajustado ao sinal de referência sem interromper o coração do relógio. Hoje, esta peça é reverenciada não como um acessório de luxo, mas como um artefato histórico monumental, o precursor direto do lendário Lindbergh Hour Angle e o avô espiritual de todos os relógios de piloto modernos.
HISTÓRIA
A gênese do Longines Weems Second-Setting Watch remonta a um período de intensa inovação e perigo iminente. No final da década de 1920, a aviação estava transitando de voos visuais para a navegação por instrumentos e celestial. O Capitão Philip Van Horn Weems, um instrutor de navegação da Marinha dos Estados Unidos e mentor de Charles Lindbergh, identificou uma falha crítica nos cronômetros da época. Para calcular a longitude com precisão, um piloto precisava saber a hora exata de Greenwich (GMT). Sinais de rádio eram transmitidos para fornecer essa referência temporal, mas os relógios da época não possuíam a função de 'hacking' (parada do ponteiro dos segundos) que conhecemos hoje. Parar o relógio para acertá-lo significava desestabilizar o balanço e perder a precisão acumulada.
A solução brilhante de Weems, patenteada e trazida à vida pela manufatura de Saint-Imier em 1929, foi contornar o problema em vez de forçar o movimento. Em vez de mover os ponteiros para coincidir com o sinal de rádio, o piloto movia o mostrador — especificamente, um disco central giratório marcado com 60 segundos. Quando o sinal de rádio soava o 'bip' do minuto exato, o piloto girava este disco interno para que o zero se alinhasse perfeitamente com o ponteiro dos segundos em movimento contínuo. Isso garantia uma sincronização com precisão de frações de segundo, vital para cálculos astronômicos onde quatro segundos de erro temporal equivalem a uma milha náutica de erro posicional no Equador.
Historicamente, o lançamento deste modelo em 1929 solidificou a reputação da Longines como a fornecedora oficial da Federação Aeronáutica Internacional. O modelo original utilizava calibres de relógios de bolso adaptados, alojados em caixas massivas de prata ou cromo, necessárias para garantir a legibilidade sob a vibração intensa dos cockpits abertos. Este relógio não foi apenas um sucesso comercial isolado; ele serviu como a fundação técnica sobre a qual o Capitão Weems e Charles Lindbergh colaborariam posteriormente para criar o relógio 'Hour Angle' em 1931, que adicionou a capacidade de calcular o ângulo horário diretamente no mostrador. O Weems de 1929, portanto, representa o elo perdido entre a cronometria marítima tradicional e a navegação aérea moderna, um testemunho da engenhosidade humana na conquista dos céus.
CURIOSIDADES
O Capitão Weems é frequentemente referido como o 'Grand Old Man of Navigation' e foi o professor pessoal de navegação de Charles Lindbergh antes de seu voo transatlântico.
Uma versão deste relógio, conhecida como 'A-11' (numeração de especificação, não confundir com o modelo posterior da WWII), foi adaptada em tamanhos menores (33-34mm) durante a Segunda Guerra Mundial, provando a longevidade do conceito de disco rotativo.
O sistema de 'Second-Setting' é considerado o precursor intelectual da luneta giratória (bezel) encontrada em relógios de mergulho modernos como o Rolex Submariner, embora sua função original fosse cronométrica e não de contagem regressiva.
Exemplares originais de 1929 com mostrador de esmalte e caixa de 47mm são extremamente raros em leilões, frequentemente alcançando valores que superam dezenas de milhares de francos suíços devido à sua fragilidade e uso intenso em combate ou exploração.
O relógio foi essencial para as expedições polares do Almirante Richard Byrd, que confiava nos instrumentos Longines e nos métodos de Weems para navegar nas paisagens brancas e sem referências da Antártida.
A Longines reeditou este modelo várias vezes em sua coleção 'Heritage', mas os colecionadores puristas buscam as versões com a coroa extra às 4 horas (usada para travar o disco interno), uma característica distintiva das primeiras patentes.
O conceito de Weems era tão fundamental que a patente foi licenciada para outras grandes marcas da época, incluindo Omega e Movado, mas a versão da Longines permanece a mais icônica e historicamente significativa.