RESUMO
Muito antes de a aviação comercial transformar o mundo numa aldeia global e décadas antes de a Rolex apresentar o seu GMT-Master, a Longines realizou um feito de engenharia horária seminal em 1925: a criação do primeiro relógio de pulso com capacidade de duplo fuso horário. Este modelo, alimentado pelo calibre histórico 10.68N, não é apenas um instrumento de cronometragem, mas um artefacto cultural que une a elegância geométrica do Art Déco à utilidade pragmática da navegação aérea e marítima nascente. Posicionado na época como uma ferramenta indispensável para pioneiros e oficiais de navegação, o Zulu Time de 1925 transcende a categoria de 'dress watch' apesar da sua caixa retangular em ouro branco 18K. O seu design reflete uma era em que a funcionalidade não exigia o sacrifício da sofisticação. Para o colecionador contemporâneo, este relógio representa o 'Marco Zero' das complicações de viagem, incorporando a filosofia da Longines como cronometrista oficial da exploração mundial. A presença da bandeira marítima 'Z' no mostrador não é mero adorno, mas uma declaração de propósito, sinalizando o Tempo Universal Coordenado (Zulu Time) e estabelecendo este modelo como o verdadeiro antepassado espiritual de todos os relógios de viagem modernos.
HISTÓRIA
A história do Longines Zulu Time de 1925 é, fundamentalmente, a história da adaptação da horologia às novas fronteiras da humanidade no início do século XX. Após a Primeira Guerra Mundial, a aviação e as radiocomunicações expandiram-se rapidamente, criando uma necessidade crítica de rastrear o tempo em múltiplos locais simultaneamente. Embora a Longines já tivesse experimentado com relógios de bolso de fuso horário duplo em 1908 para o Império Otomano, a miniaturização desta tecnologia para o pulso em 1925 foi um feito revolucionário. O coração deste modelo era o Calibre 10.68N, um movimento robusto e retangular desenhado especificamente para as caixas moldadas populares na época. A inovação técnica residia na adição de um segundo ponteiro de horas, acoplado ao mecanismo principal, que permitia a leitura simultânea da hora local e da hora Zulu (GMT). Ao contrário dos relógios GMT modernos que possuem um ponteiro de 24 horas independente, este modelo pioneiro utilizava frequentemente um formato de 12 horas para ambos os ponteiros, exigindo que o utilizador discernisse o dia da noite, ou variantes com mostradores duplos. Esteticamente, o relógio é um produto puro dos 'Roaring Twenties'. A caixa retangular elegante em ouro branco afastava-se dos relógios de bolso convertidos, abraçando o modernismo. A inclusão da bandeira 'Z' no mostrador era uma referência direta ao código internacional de sinais, onde Z significa 'Zulu', o designador militar e de aviação para o meridiano de Greenwich. Durante décadas, este modelo permaneceu uma raridade obscura, ofuscado pelos posteriores e mais famosos relógios de navegação da Longines, como o Weems Second-Setting (1927) e o Lindbergh Hour Angle (1931). No entanto, historiadores modernos redescobriram o Zulu Time de 1925 como o elo perdido na evolução dos relógios de piloto. A sua influência foi formalmente reconhecida pela marca em 2022 com o lançamento da coleção 'Spirit Zulu Time', mas o modelo original de 1925 permanece como o artefacto sagrado, o 'Ur-GMT' que provou que o pulso era o lugar legítimo para a navegação global.
CURIOSIDADES
O termo 'Zulu' refere-se à designação fonética da letra Z, que marca a hora no meridiano zero (Greenwich), essencial para a aviação.
Este modelo precede o icónico Rolex GMT-Master em quase 30 anos, tornando a Longines a verdadeira inventora do relógio de pulso GMT.
Existem menos de uma dúzia de exemplares conhecidos deste modelo específico de 1925 em condições de museu, tornando-o um dos 'Grails' mais elusivos da marca.
A bandeira Z no mostrador é um dos primeiros exemplos de iconografia não-alfabética utilizada para denotar a função de um relógio de luxo.
O Calibre 10.68N foi originalmente desenhado para relógios de forma (retangulares ou tonneau), o que era atípico para instrumentos de precisão da época, geralmente redondos.
O Museu Longines em Saint-Imier guarda os registos de produção originais deste relógio, confirmando a sua entrega a agentes na Suíça e Itália, sugerindo uso por oficiais de alta patente ou pilotos pioneiros.
Em leilões contemporâneos, a raridade deste modelo torna a sua avaliação extremamente volátil, sendo considerado uma peça de 'horologia arqueológica'.