RESUMO
No turbilhão da 'Crise do Quartzo' do final da década de 1970, quando a relojoaria suíça enfrentava a sua ameaça mais existencial, a Tissot emergiu não com retração, mas com uma afirmação audaciosa de design e modernidade: o modelo que viria a ser consagrado como PRX. Lançado originalmente em 1978 sob a referência 40.205 (frequentemente sob a linha Seastar), este relógio capturou perfeitamente o 'Zeitgeist' da era disco e do glamour industrial. Posicionado estrategicamente para oferecer a estética cobiçada dos relógios desportivos de luxo com bracelete integrada — um género inaugurado por gigantes como a Audemars Piguet e a Patek Philippe —, o PRX democratizou a elegância arquitetónica. O seu perfil esguio, impulsionado pela tecnologia de quartzo de vanguarda da época, permitiu uma caixa 'tonneau' extremamente fina que se fundia organicamente com a bracelete, criando uma silhueta contínua e fluida. Mais do que um simples instrumento de cronometragem, o PRX foi uma declaração de estilo de vida, destinado a um público cosmopolita que valorizava tanto a precisão técnica quanto a robustez estética. Ele representa o equilíbrio perfeito entre a funcionalidade utilitária e a sofisticação visual, estabelecendo-se como um pilar histórico na categoria de relógios de aço com bracelete integrada e servindo como a planta-mãe para um dos renascimentos mais bem-sucedidos da relojoaria contemporânea.
HISTÓRIA
A génese do Tissot PRX remonta a 1978, um ano crucial na história da horologia. A indústria suíça estava no auge da revolução do quartzo, uma tempestade tecnológica que dizimou marcas tradicionais mas que também forçou a inovação. Simultaneamente, o mundo do design de luxo tinha sido transformado por Gérald Genta e os seus contemporâneos, que estabeleceram o relógio desportivo de aço com bracelete integrada como o novo símbolo de estatuto. Foi neste contexto que a Tissot lançou a referência 40.205.
Originalmente, o modelo fazia parte da linha Seastar e destacava-se pela sua caixa em forma de barril (tonneau) e pela forma como a bracelete larga e plana se integrava sem interrupções na cabeça do relógio, eliminando as asas tradicionais. O nome PRX foi uma jogada de marketing brilhante que descodificava a própria filosofia do relógio: 'P' para Preciso, 'R' para Robusto, e 'X', o numeral romano, indicando a resistência à água de 10 atmosferas (100 metros) — uma especificação impressionante para um relógio 'dressy' da época.
Tecnicamente, o modelo de 1978 era movido pelo calibre 2030, um movimento de quartzo que era, por si só, uma maravilha da engenharia da época, permitindo o ajuste do ponteiro das horas independentemente dos minutos — ideal para viajantes que mudavam de fuso horário. Ao longo das décadas de 80 e 90, o design caiu na obscuridade à medida que as tendências mudaram para relógios mais volumosos ou de plástico.
No entanto, a história do PRX ganhou um novo capítulo dourado em 2021. A Tissot, reconhecendo a sede do mercado por designs retro-futuristas e braceletes integradas, realizou scans 3D de modelos vintage de arquivo para recriar as proporções exatas do original, atualizando apenas os materiais e o acabamento. Este relançamento não só honrou o modelo de 1978, como o elevou a um fenómeno de culto, provando que o design original de finais dos anos 70 era verdadeiramente intemporal. O PRX é, portanto, um testemunho da capacidade da Tissot de inovar no segmento de entrada de luxo, mantendo a integridade histórica.
CURIOSIDADES
O 'X' em PRX é frequentemente confundido com uma letra aleatória de marketing, mas é estritamente o numeral romano para 10, denotando 10 Bar de pressão.
Embora o design seja frequentemente comparado às obras de Gérald Genta (como o Royal Oak ou o IWC Ingenieur), o PRX foi um design interno da Tissot e não uma obra direta do mestre suíço.
O movimento original de 1978, Calibre 2030, tinha uma forma peculiar de acertar os minutos: era necessário pressionar a coroa durante 5 segundos, soltar e pressionar novamente para que o ponteiro dos minutos e segundos começassem a girar motorizados.
O modelo original de 1978 não tinha sempre 'PRX' impresso no mostrador; muitos exemplares ostentavam apenas 'Seastar' e 'Quartz', sendo o nome PRX utilizado fortemente em materiais promocionais e catálogos.
A reedição moderna foi tão fiel que a Tissot utilizou a caixa original de 1978 para moldar as ferramentas de produção do modelo de 2021.
O PRX vintage é conhecido pelos colecionadores pela sua bracelete extremamente confortável que, ao contrário de muitas da época, não 'arrancava pêlos' devido ao seu polimento e articulação superiores.
Existem raras versões vintage do final dos anos 70 com mostradores vermelhos ou bordeaux, que são hoje extremamente cobiçadas em leilões.