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Tissot Astrolon IDEA 2001 – O Primogênito Sintético e a Gênese Esquecida da Revolução Swatch (1971)


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O primeiro relógio mecânico do mundo fabricado inteiramente em plástico, incluindo o movimento. Conhecido como Calibre 2250, reduziu o número de peças para 52 e eliminou a necessidade de lubrificação, sendo um precursor do Swatch.

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RESUMO

No panteão da relojoaria suíça, poucas criações são tão polarizadoras e, retrospectivamente, tão visionárias quanto o Tissot Astrolon, comercialmente conhecido como IDEA 2001. Lançado em 1971, este relógio não foi posicionado como um item de luxo tradicional, mas sim como um manifesto de vanguarda tecnológica e um exercício de design futurista. Numa era dominada pelo aço e metais preciosos, o IDEA 2001 ousou apresentar uma arquitetura inteiramente baseada em polímeros moldados por injeção de precisão. Destinado a um público jovem e intelectualmente curioso, fascinado pela 'Era Espacial', o relógio representou uma tentativa audaciosa de combater a iminente Crise do Quartzo através da inovação mecânica, e não eletrônica. Sua filosofia de design centrava-se na transparência radical e na eliminação da manutenção, desafiando a noção secular de que um relógio mecânico exigia metais lubrificados para funcionar. Embora tenha sido um fracasso comercial em sua época, sendo frequentemente incompreendido como um 'brinquedo', o Astrolon é hoje reverenciado por historiadores como o 'Elo Perdido' fundamental que permitiu, uma década depois, o salvamento da indústria relojoeira suíça através do desenvolvimento do Swatch.

HISTÓRIA

A gênese do Tissot Astrolon remonta ao final da década de 1950, muito antes de seu lançamento em 1971. Sob a liderança visionária de Edouard-Louis Tissot, a marca iniciou um projeto de pesquisa secreto denominado 'Sytal' (Système Total d'Autolubrification). O objetivo era hercúleo: resolver os dois maiores problemas da relojoaria mecânica de massa — o custo de produção e a necessidade constante de manutenção e lubrificação. A equipe de engenharia percebeu que novos materiais plásticos, especificamente acetais como o Delrin, ofereciam propriedades de baixo atrito que poderiam eliminar a necessidade de óleos tradicionais, que ressecavam e exigiam serviço técnico. Após mais de uma década de desenvolvimento, o resultado foi o Calibre 2250, apelidado de 'Astrolon'. Este movimento foi uma maravilha da engenharia de redução. Um relógio mecânico suíço padrão da época possuía cerca de 91 peças; o Astrolon reduziu esse número para 52. Platinas, pontes e engrenagens foram moldadas por injeção com precisão micrométrica, e a montagem era semi-automatizada, algo inédito. O único componente metálico significativo era a mola principal, o balanço e o pinhão de corda. O modelo principal que abrigou este movimento foi batizado de 'IDEA 2001', um nome que evocava o futurismo do filme de Stanley Kubrick e a promessa de um novo milênio. Esteticamente, o IDEA 2001 era provocador. Sua caixa transparente não escondia nada; as engrenagens de plástico colorido não tentavam imitar o metal, mas celebravam sua natureza sintética. No entanto, o lançamento em 1971 colidiu frontalmente com o conservadorismo do mercado e a ascensão dos relógios digitais e de quartzo, que eram vistos como a 'verdadeira' tecnologia do futuro. O público desconfiou da durabilidade do plástico, associando-o a produtos descartáveis, e os relojoeiros recusaram-se a vendê-lo, pois, sendo selado e não necessitando de óleo, eliminava a lucrativa receita de pós-venda (serviço de revisão). O Astrolon foi retirado do mercado após poucos anos, resultando em perdas financeiras significativas para a Tissot. Contudo, seu legado é monumental. As máquinas de injeção, os moldes e o know-how técnico adquiridos no projeto Astrolon não foram descartados. No início dos anos 80, quando Ernst Thomke e Nicolas G. Hayek buscavam uma maneira de salvar a indústria suíça com um relógio barato e de poucas peças, eles revisitaram a tecnologia do Astrolon. Os princípios de redução de peças e injeção de plástico do Calibre 2250 formaram a base técnica direta para o desenvolvimento do Swatch, que eventualmente salvaria todo o conglomerado relojoeiro suíço. Portanto, o IDEA 2001 é o 'mártir' tecnológico que possibilitou o renascimento da horologia suíça moderna.

CURIOSIDADES

O Calibre 2250 possuía apenas um único rubi real, localizado no balanço, pois o atrito plástico-plástico das outras engrenagens era tão baixo que dispensava as pedras preciosas tradicionais. Devido à sua construção selada, o relógio era tecnicamente 'indesmontável' para reparos; se quebrasse, o movimento inteiro deveria ser substituído, um conceito de 'descartável' que chocou os puristas da época. O nome comercial 'IDEA 2001' foi escolhido para capitalizar sobre a estética sci-fi popularizada pela Corrida Espacial e pelo filme '2001: Uma Odisseia no Espaço'. Além da Tissot, o movimento Astrolon foi fornecido para algumas outras marcas, incluindo a Lanco e a Smith's, aparecendo em relógios raros como o Smith's Astral. O sistema de proteção contra choques era inerente ao material: a flexibilidade natural das peças de plástico absorvia impactos melhor do que eixos de aço rígidos, dispensando sistemas complexos como o Incabloc em muitas partes. Colecionadores modernos frequentemente encontram unidades NOS (New Old Stock) do IDEA 2001, mas devem ter cautela: após 50 anos, o plástico original pode ter se tornado quebradiço, tornando o uso diário arriscado. O Tissot Astrolon é uma das peças centrais em exibições sobre a história do Grupo Swatch, sendo oficialmente reconhecido pela empresa como o avô tecnológico do Swatch System51 contemporâneo.

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