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Tissot RockWatch (1985) - O ícone lítico dos Alpes Suíços que salvou uma manufatura e redefiniu o conceito de materialidade na relojoaria moderna


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Um relógio inovador com a caixa feita de granito alpino natural, tornando cada peça única. Foi uma exploração audaciosa de materiais alternativos na relojoaria, refletindo a criatividade da Tissot na era pós-quartzo.

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RESUMO

Lançado em um momento crucial da história horológica, o Tissot RockWatch não foi apenas um instrumento de cronometragem, mas uma afirmação geológica e cultural. Em 1985, enquanto a indústria suíça ainda cambaleava sob os golpes da Crise do Quartzo, a Tissot, sob a direção visionária de Ernst Thomke e a consultoria técnica de Robert Jenny, realizou o impensável: transformou a própria terra suíça em um objeto de desejo. O RockWatch distinguiu-se por sua caixa esculpida inteiramente em granito natural dos Alpes, variando do granito rosa do Ticino ao verde de Grisons e ao branco do Valais. Posicionado estrategicamente como um 'souvenir de luxo' e um acessório de moda de alta tecnologia, ele visava um público intelectual e artístico que valorizava a individualidade acima da precisão mecânica tradicional. Como a estrutura da pedra é natural, cada peça produzida era esteticamente única, com veios e pigmentações irrepetíveis. Filosoficamente, o RockWatch representou a transição da Tissot de uma manufatura puramente funcional para uma marca de design criativo, provando que a relojoaria suíça poderia competir com a eficiência japonesa através da inovação de materiais e do marketing emocional. Ele permanece, até hoje, como um testemunho da audácia de usar a natureza bruta para abrigar a tecnologia de precisão.

HISTÓRIA

A gênese do Tissot RockWatch em 1985 é inseparável do contexto dramático da reestruturação da indústria relojoeira suíça. No início da década de 1980, a SSIH (que incluía a Tissot e a Omega) e a ASUAG estavam à beira do colapso financeiro. Nicolas Hayek, encarregado de salvar o setor, fundiu os grupos para formar o que viria a ser o Swatch Group. A Tissot, especificamente, precisava desesperadamente de um produto que gerasse volume de vendas e restabelecesse sua relevância global. A tarefa coube a Ernst Thomke. A ideia conceitual era brilhante em sua simplicidade, mas tortuosa em sua execução: criar um relógio feito da própria Suíça. Se os concorrentes asiáticos podiam replicar ligas metálicas e movimentos de quartzo com facilidade, eles não poderiam replicar o granito dos Alpes Suíços. O desenvolvimento técnico foi liderado por Robert Jenny. O desafio primário era a usinagem. O granito é duro, mas quebradiço. As técnicas tradicionais de estamparia ou fundição eram inúteis. A Tissot teve que desenvolver fresas de diamante personalizadas e processos de usinagem em baixa velocidade para escavar a cavidade do movimento sem fraturar a caixa. Além disso, a montagem exigia uma abordagem nova. O movimento não era apenas aparafusado; ele era colado e selado dentro da cavidade rochosa, atuando como parte estrutural para garantir a resistência ao choque—uma preocupação real, dado que deixar cair um relógio de pedra poderia ser catastrófico. O mostrador era a própria superfície interna da pedra, polida até obter um brilho vítreo, enquanto o exterior mantinha uma textura mais tátil. Lançado primeiramente em mercados de teste nos EUA (como Chicago e Boston), o sucesso foi instantâneo e avassalador. O RockWatch tornou-se o acessório 'it' do final dos anos 80, atraindo consumidores que nunca haviam considerado um relógio suíço antes. Ele gerou filas nas lojas e listas de espera. Ao longo de sua produção, o modelo evoluiu para incluir uma variedade de pedras, incluindo alabastro, jaspe e basalto, provenientes de várias regiões do mundo, não apenas da Suíça, embora o marketing original focasse no patrimônio alpino. A Tissot expandiu o conceito para o 'WoodWatch' (madeira) e o 'PearlWatch' (madrepérola), criando uma trilogia de materiais naturais. O RockWatch (R150/R151) é amplamente creditado por estabilizar as finanças da Tissot, permitindo que a marca sobrevivesse para se tornar a gigante de volume que é hoje. Ele provou que a inovação na relojoaria não precisava ser apenas sobre complicações mecânicas, mas também sobre a audácia estética e a engenharia de materiais.

CURIOSIDADES

As cores dos ponteiros (vermelho e amarelo) não foram uma escolha aleatória de design; elas são uma homenagem direta às setas de sinalização encontradas nas trilhas de caminhada dos Alpes Suíços. Devido à natureza geológica do material, a Tissot podia legitimamente afirmar que cada relógio era uma 'Peça Única', algo geralmente reservado para a Alta Relojoaria de seis dígitos. Em testes de durabilidade, os engenheiros descobriram que a caixa de granito protegia o movimento de variações de temperatura melhor do que o aço, agindo como um isolante térmico natural. O RockWatch é frequentemente citado em escolas de negócios como um exemplo perfeito de 'Oceano Azul', criando um mercado inteiramente novo onde a concorrência era irrelevante. Existe uma lenda entre colecionadores de que algumas peças iniciais foram feitas com pedras recolhidas perto do Matterhorn, tornando-as extremamente desejáveis para alpinistas. O sucesso do modelo foi tão grande que, em 1986, apenas um ano após o lançamento, a Tissot já havia vendido mais de 500.000 unidades. A Tissot teve que inventar um sistema especial de fixação da pulseira, pois os pinos de mola tradicionais exerciam muita pressão lateral e poderiam rachar as alças de pedra.

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