RESUMO
Lançado em 1996, o Patek Philippe Annual Calendar Ref. 5035 não foi apenas um novo modelo; foi uma revolução técnica que preencheu a lacuna crucial entre o relógio de calendário simples e o reverenciado Calendário Perpétuo. Posicionado como uma peça de 'Alta Relojoaria' destinada ao uso diário, o Ref. 5035 introduziu ao mundo a complicação do Calendário Anual, uma inovação patenteada pela Patek Philippe. Projetado para o cavalheiro exigente e o executivo moderno, ele oferecia uma sofisticação mecânica robusta sem a fragilidade ou o custo astronômico das grandes complicações da época. Sua filosofia de design baseava-se na 'Complication Utile' (complicação útil), priorizando a funcionalidade prática: o relógio distingue automaticamente entre meses de 30 e 31 dias, exigindo intervenção apenas uma vez por ano, no final de fevereiro. Esteticamente, o 5035 capturou o classicismo dos anos 90 com uma caixa de proporções áureas e um mostrador legível, tornando-se instantaneamente um pilar fundamental no catálogo da manufatura. Este modelo é historicamente significativo por ter democratizado — em termos relativos ao universo de luxo — o acesso a calendários complexos, salvaguardando a relevância mecânica da Patek Philippe em uma era de transição tecnológica.
HISTÓRIA
A história do Ref. 5035 é, intrinsecamente, a história da invenção do Calendário Anual. Em meados da década de 1990, a Patek Philippe, sob a liderança de Philippe Stern, identificou um abismo no mercado de relógios de luxo. De um lado, existiam os relógios Calatrava simples com data; do outro, os complexos e delicados Calendários Perpétuos (como o Ref. 3940), que custavam significativamente mais e exigiam cuidados extremos. Não havia um meio-termo mecânico. Em resposta, os engenheiros da Patek desenvolveram um mecanismo totalmente novo, desafiando a arquitetura tradicional de cames e alavancas usada nos perpétuos. O resultado foi o Calibre 315 S QA, uma maravilha baseada em rodas e engrenagens rotativas, que era mais robusta, mais fácil de montar e mais confiável para o uso diário.
Lançado na Baselworld de 1996, o Ref. 5035 foi o primeiro relógio de pulso do mundo a apresentar essa funcionalidade. O mecanismo 'sabe' quais meses têm 30 ou 31 dias, ajustando a data automaticamente. A única limitação do sistema mecânico, em comparação com o perpétuo, é a incapacidade de calcular os anos bissextos e a duração variável de fevereiro. Portanto, o proprietário deve avançar a data manualmente uma vez por ano, em 1º de março. Esta inovação foi protegida pela patente suíça CH 685 585.
Visualmente, o 5035 estabeleceu uma linguagem de design distinta. A caixa de 37mm apresentava uma luneta curva e escalonada que lhe conferia uma presença escultural. O mostrador rompeu com o conservadorismo estrito da marca ao utilizar algarismos romanos luminescentes — uma escolha ousada que conferiu ao relógio uma personalidade quase esportiva-chic, mantendo a elegância de um dress watch. Os submostradores do dia e do mês foram posicionados horizontalmente, criando uma simetria visual, enquanto o indicador de 24 horas às 6 horas servia como uma ferramenta prática para evitar o ajuste da data durante a 'zona de perigo' da meia-noite.
O modelo evoluiu sutilmente ao longo de sua produção até ser descontinuado por volta de 2005, quando foi substituído pelo Ref. 5146. O sucesso do 5035 foi tão profundo que não apenas salvou o balanço financeiro da Patek Philippe em anos incertos, mas também forçou toda a indústria relojoeira a reagir; hoje, marcas como Rolex, A. Lange & Söhne e Omega oferecem calendários anuais, mas o 5035 permanece o pioneiro original, o 'Gênesis' desta complicação.
CURIOSIDADES
O Ref. 5035 foi eleito 'Relógio do Ano' (Montre de l'Année) na Suíça em 1996, solidificando imediatamente seu status icônico.
Ao contrário dos Calendários Perpétuos que usam alavancas e balancins complexos, o movimento do 5035 usa principalmente rodas rotativas, tornando-o mais fácil de servir e menos propenso a quebras por manuseio incorreto.
Existe uma confusão comum sobre o submostrador às 6 horas: muitos acreditam ser um segundo fuso horário (GMT), mas é estritamente um indicador de 24 horas sincronizado com a hora principal, projetado para ajudar o usuário a saber se é AM ou PM ao ajustar o calendário.
O modelo foi produzido em quatro metais preciosos, mas as versões em ouro branco com mostrador preto e as versões em platina são particularmente cobiçadas por colecionadores devido à sua estética monocromática e peso no pulso.
O sufixo 'QA' no calibre 315 S QA refere-se a 'Quantième Annuel', o termo francês técnico para Calendário Anual.
Embora seja um relógio clássico, o uso abundante de material luminescente (trítio nos primeiros, Super-LumiNova nos posteriores) nos números romanos e ponteiros era incomum para um relógio de vestir da Patek na época.
A Patek Philippe produziu uma versão irmã, a Ref. 5036, que adicionou uma indicação de fase da lua e reserva de marcha, mas puristas frequentemente preferem o 5035 por seu layout de mostrador mais limpo e sua importância histórica como o 'primeiro'.