RESUMO
Lançado em meio à turbulência da Crise do Quartzo, o Omega Constellation Manhattan emergiu não apenas como um salvador comercial para a marca de Bienne, mas como um paradigma de design industrial que transcende décadas. Posicionado firmemente no segmento de 'luxo integrado' — uma categoria que combina a robustez de um relógio esportivo com a finesse de uma peça de joalheria —, o Manhattan foi concebido para uma elite cosmopolita que exigia versatilidade estética e precisão técnica. Sua filosofia de design é centrada na harmonia ininterrupta entre a caixa e a pulseira, uma resposta arquitetônica aos gigantes da época, mas com uma identidade visual singularmente própria.
O que distingue o Manhattan no panteão da horologia é a sua audaciosa solução técnica que se tornou a sua assinatura estética: as quatro 'griffes' ou garras. Originalmente funcionais, estas garras serviam para pressionar o vidro de safira e a junta contra a caixa, garantindo a impermeabilidade sem a necessidade de uma luneta rosqueada tradicional. Com o tempo, essa necessidade técnica evoluiu para o elemento de design mais reconhecível da Omega, perdendo apenas para as asas em forma de lira do Speedmaster. Hoje, o Constellation Manhattan é reverenciado tanto por colecionadores de peças vintage de quartzo ultra-finas quanto por entusiastas modernos que valorizam a certificação Master Chronometer, representando a fusão perfeita entre a elegância dos anos 80 e a tecnologia de ponta do século XXI.
HISTÓRIA
A história do Omega Constellation Manhattan é um estudo fascinante sobre como a necessidade técnica pode ditar a estética eterna. Embora a linha 'Constellation' exista desde 1952, simbolizando o compromisso da Omega com a precisão cronométrica (homenageando os testes de observatório), o modelo 'Manhattan' lançado em 1982 marcou uma ruptura radical com o passado, especificamente com os famosos mostradores 'Pie-Pan' das décadas de 50 e 60.
No início dos anos 80, a indústria suíça estava de joelhos devido à revolução do quartzo. A Omega precisava de um design que fosse moderno, ultrafino (para acomodar os movimentos de quartzo da época, como o Calibre 1422) e distintamente luxuoso. A tarefa coube a uma jovem designer de 26 anos, Carol Didisheim, que trabalhou sob a tutela do chefe de produto Pierre-André Aellen. Didisheim concebeu um relógio que não possuía asas tradicionais; em vez disso, a pulseira fluía diretamente da caixa, criando uma silhueta contínua e ergonômica.
O traço mais genial, contudo, foram as 'Griffes'. Naquela época, a tecnologia de vedação de cristais e caixas ultrafinas era limitada. Para garantir a resistência à água sem comprometer a espessura, Didisheim e a equipe de engenharia desenvolveram um sistema onde quatro garras de metal, posicionadas às 3 e 9 horas, literalmente aparafusavam o vidro de safira à caixa. Foi uma solução de engenharia brilhante que conferiu ao relógio uma aparência agressiva, mas sofisticada.
Em 1995, o modelo passou pela sua primeira grande reformulação, conhecida como 'Constellation 95'. Nesta fase, a tecnologia de vedação já havia avançado, tornando as garras funcionalmente obsoletas para fins de impermeabilidade. No entanto, o design era tão icônico que a Omega as manteve como elementos puramente estéticos. As linhas tornaram-se mais suaves e arredondadas, e os numerais romanos foram movidos do mostrador para a luneta (bezel). Foi nesta era que a supermodelo Cindy Crawford se juntou à marca, solidificando o Manhattan como um ícone da moda global.
A virada do milênio trouxe o 'Double Eagle' em 2003, uma versão muito mais robusta e esportiva, seguida por uma atualização em 2009 que reintroduziu refinamento e começou a incorporar os revolucionários movimentos Co-Axial. A geração mais recente, lançada a partir de 2018/2019, representa o auge da manufatura da Omega. As garras foram afiladas e integradas de forma mais sutil à luneta, os chanfros da caixa foram polidos para refletir a luz de maneira mais dinâmica, e o coração do relógio passou a ser o movimento Master Chronometer, certificado pelo METAS, garantindo resistência magnética de até 15.000 gauss. De uma ferramenta de sobrevivência corporativa na era do quartzo a um titã da horologia mecânica moderna, o Manhattan provou ser imortal.
CURIOSIDADES
A designer Carol Didisheim tinha apenas 26 anos e recém-saída da Escola de Artes Decorativas de Genebra quando desenhou o Manhattan, seu primeiro grande projeto comercial.
As famosas 'Griffes' (garras) eram originalmente uma patente funcional de impermeabilidade, não uma escolha estética, mantendo o vidro, a junta e a caixa unidos sob pressão.
A parceria entre a Omega e Cindy Crawford, iniciada em 1995 para promover o Constellation, é a mais longa colaboração contínua entre uma marca de relógios e um embaixador na história da indústria.
O nome 'Manhattan' foi inspirado pela silhueta dos arranha-céus de Nova York, refletindo o modernismo e a arquitetura Art Deco que o relógio evocava nos anos 80.
Embora seja um relógio 'dress', o fundo da caixa tradicionalmente ostenta o medalhão do Observatório de Genebra com oito estrelas, simbolizando os oito recordes de precisão quebrados pela Omega no século XX.
Em leilões, protótipos raros do Manhattan ou versões com mostradores de minerais exóticos (como meteorito ou lápis-lazúli) dos anos 80 alcançam valores significativamente mais altos que os modelos padrão.
O Papa João Paulo II foi visto usando um Omega Constellation da era Manhattan, solidificando sua imagem como um relógio de líderes globais.