RESUMO
O Omega Seamaster Bullhead ST 146.011, lançado originalmente em 1969, representa um dos capítulos mais audaciosos e idiossincráticos na história da manufatura de Bienne. Longe de ser um relógio de mergulho convencional, apesar da nomenclatura 'Seamaster', esta peça foi concebida num período de efervescência criativa e experimentação desenfreada, posicionando-se como um cronógrafo desportivo de vanguarda. O seu design em forma de escudo, com uma caixa assimétrica mais espessa no topo do que na base, foi projetado para otimizar a legibilidade para condutores, inclinando o mostrador em direção ao utilizador. A sua estética polarizadora, que desafiou os cânones conservadores da época, tornou-o um fracasso comercial inicial, o que, ironicamente, cimentou o seu estatuto atual como um 'graal' entre colecionadores exigentes. O Bullhead não é apenas um instrumento de cronometragem; é uma escultura brutalista no pulso, destinada a um público que valoriza a raridade, a engenharia não conformista e a estética vibrante dos anos 70. Ele encapsula a transição da Omega de uma marca de ferramentas tradicionais para uma potência de design experimental, atraindo hoje investidores e historiadores que buscam peças que definem uma era de liberdade horológica.
HISTÓRIA
A génese do Omega Seamaster Bullhead ST 146.011 remonta a 1969, um ano miraculoso para a horologia e para a Omega em particular, coincidindo com a aterragem na Lua. Enquanto o Speedmaster Professional ganhava o estatuto de lenda espacial, a Omega permitia que os seus designers explorassem territórios visuais inexplorados na coleção Seamaster e na linha Chronostop. O Bullhead nasceu desta vontade de romper com a simetria circular tradicional. A alcunha 'Bullhead' (Cabeça de Touro) deriva da configuração única dos botões do cronógrafo situados no topo da caixa, às 11h e 1h, com a coroa principal às 12h, evocando os chifres de um touro. Esta disposição não era meramente estética; tinha raízes na funcionalidade dos cronómetros de mão utilizados em desportos motorizados, permitindo ao utilizador acionar o mecanismo com o polegar de forma mais ergonómica.
Tecnicamente, o modelo é impulsionado pelo raro Calibre 930 da Omega. Este movimento de corda manual é uma modificação do lendário Calibre 861 (que equipava o Moonwatch), adaptado com uma função de data e rodado 90 graus para acomodar a configuração 'bullhead'. A produção deste movimento foi extremamente limitada, sendo utilizado quase exclusivamente nesta referência e no De Ville Chronograph, o que amplifica a escassez do modelo no mercado vintage. O design da caixa também merece destaque pela sua engenharia: a forma de cunha (mais grossa às 12 horas e mais fina às 6 horas) melhora a visibilidade do mostrador sem que o condutor precise de tirar a mão do volante. Além disso, o relógio possui uma segunda coroa na posição das 6 horas, que controla a luneta interna rotativa, permitindo medições de tempo adicionais.
Ao longo das décadas, o ST 146.011 tornou-se um ícone 'cult'. Durante o seu curto período de produção, o modelo não foi compreendido pelo público geral, que preferia designs mais conservadores ou os novos relógios de quartzo que surgiam no horizonte. Estima-se que a produção tenha sido muito baixa, tornando exemplares em bom estado extremamente difíceis de encontrar. Existem variações subtis nos mostradores, mas a configuração mais desejada continua a ser a versão colorida com o anel externo castanho e o centro dourado/creme, que captura perfeitamente a paleta 'funky' do final dos anos 60. O impacto do Bullhead foi tal que, em 2013, a Omega lançou uma reedição modernizada com movimento Co-Axial, validando a importância histórica do design original. Contudo, para o purista, nada substitui o charme mecânico, o uso de trítio e a pátina honesta do original de 1969, um relógio que ousou ser diferente quando todos os outros tentavam ser iguais.
CURIOSIDADES
O Calibre 930 utilizado neste modelo é um dos mais raros movimentos cronógrafos da Omega, com uma produção total estimada em menos de 10.000 unidades para todos os modelos que o equiparam.
A coroa localizada na posição das 6 horas é frequentemente confundida por novatos como uma válvula de hélio, mas serve exclusivamente para rodar a luneta interna.
Devido à sua semelhança visual com os parquímetros da época, o relógio também ganhou a alcunha menos lisonjeira de 'Parking Meter' em certos círculos de colecionadores.
O Omega Bullhead original aparece no filme 'The Bromley Boys' (embora o filme seja de 2018, é ambientado na era correta), solidificando a sua ligação com a cultura pop retro.
Ao contrário da reedição moderna de 2013 que possui botões retangulares e planos, o modelo original ST 146.011 possui botões redondos tipo pistão, um detalhe crucial para autenticação.
Este modelo é considerado um dos 'Big Three' da era experimental da Omega dos anos 70, juntamente com o Speedmaster Mark II e o Flightmaster.
Exemplares originais em condição 'New Old Stock' (NOS) podem atingir valores astronómicos em leilões, muitas vezes superando modelos Speedmaster da mesma época devido à sua extrema raridade.