RESUMO
O Movado Museum transcende a definição tradicional de um instrumento de cronometria para se estabelecer como uma das peças mais significativas da arte industrial do século XX. Concebido em meio ao fervor do movimento Bauhaus, este relógio não foi projetado apenas para contar o tempo, mas para reinterpretar a nossa relação filosófica com ele. Sua estética é definida por uma pureza absoluta: um mostrador preto profundo, desprovido de numerais ou índices, interrompido apenas por um solitário ponto côncavo (ou plano, em iterações posteriores) dourado às 12 horas.
No panorama da relojoaria, o Museum ocupa um nicho singular de 'Dress Watch' artístico e intelectual. Enquanto a indústria buscava complexidade e precisão técnica visível, o Museum apostou na audácia do espaço negativo. Ele apela a um público que valoriza o design acima da ostentação mecânica, incluindo arquitetos, designers e colecionadores de arte moderna. A sua filosofia baseia-se na premissa de que não necessitamos de uma sequência numérica para compreender a passagem do tempo, bastando a posição geométrica dos ponteiros. Ao eliminar o ruído visual, o Movado Museum elevou o relógio de pulso de uma ferramenta utilitária para uma escultura de pulso, garantindo o seu lugar como o primeiro mostrador de relógio a ser aceito na coleção de design do Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque, solidificando o seu estatuto imortal na horologia.
HISTÓRIA
A gênese do Movado Museum remonta a 1947, não nos vales suíços, mas na mente do designer industrial americano Nathan George Horwitt. Influenciado profundamente pela escola Bauhaus, que pregava a funcionalidade sem ornamentos supérfluos, Horwitt concebeu um mostrador que desafiava séculos de tradição horológica. A sua tese era simples mas revolucionária: o tempo não é uma sequência de números, mas sim a rotação da Terra em torno do seu eixo. Assim, o ponto dourado às 12 horas não era apenas um marcador, mas a representação do sol ao meio-dia, enquanto o movimento dos ponteiros sugeria a órbita terrestre.
Inicialmente, o design foi recebido com ceticismo. Horwitt apresentou a ideia a diversas manufaturas de prestígio, incluindo Vacheron Constantin e Patek Philippe, mas foi rejeitado sob a alegação de que um relógio sem números era ilegível e invendável. Sem se deixar abater, ele patenteou o design em 1958. O reconhecimento crítico chegou antes do comercial: em 1960, Edward Steichen, o lendário Diretor de Fotografia do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), reconheceu o brilhantismo do design e aceitou o protótipo original de Horwitt na coleção permanente do museu. Foi este evento que batizou o relógio com o nome 'Museum'.
A relação com a marca Movado é complexa e, por vezes, litigiosa. A Movado começou a produzir versões não autorizadas do design, levando Horwitt a processar a empresa em 1975. O litígio foi resolvido com a Movado pagando a Horwitt 29.000 dólares e estabelecendo um acordo de royalties. Sob a tutela de Gedalio Grinberg, fundador da North American Watch Corp (que viria a adquirir a Movado), o 'Museum Watch' tornou-se o pilar central da identidade da marca. Grinberg percebeu que aquele não era apenas um relógio, mas um símbolo de sofisticação intelectual.
Nas décadas seguintes, o modelo evoluiu tecnicamente, passando de movimentos mecânicos manuais para o quartzo, o que permitiu perfis ainda mais finos e preços acessíveis, democratizando o design de luxo. Embora tenham surgido variações com diamantes, cronógrafos e diferentes cores, a versão 'pura' — mostrador preto, caixa dourada, ponto único — permanece a referência definitiva. O sucesso do Museum foi tal que salvou a Movado durante a Crise do Quartzo, diferenciando-a num mercado saturado através de uma identidade visual inconfundível que permanece praticamente inalterada há mais de 70 anos.
CURIOSIDADES
O conceito visual baseia-se na astronomia: Horwitt afirmou famosamente: 'Não conhecemos o tempo como uma sequência numérica, mas pela posição do sol enquanto a terra gira'.
O protótipo original de 1947, aceito pelo MoMA, não foi fabricado pela Movado, mas sim uma peça personalizada com um movimento Vacheron & Constantin-LeCoultre.
O Movado Museum detém o recorde de ser um dos mostradores mais reconhecíveis do mundo, frequentemente identificável a metros de distância sem a necessidade de ver o logotipo da marca.
Existem edições ultra-raras do 'Museum' com movimentos automáticos Zenith, fruto da era em que a Movado e a Zenith pertenciam ao mesmo grupo e compartilhavam tecnologia.
O 'ponto' (Dot) às 12 horas evoluiu de uma aplicação plana impressa para um ponto metálico côncavo tridimensional, que reflete a luz de forma a simular o brilho solar.
O design é protegido por uma marca registrada tridimensional, algo extremamente raro na indústria relojoeira, onde geralmente apenas o nome e o logotipo são protegidos.
Andy Warhol foi um admirador notório da Movado e chegou a colaborar com a marca para uma série de relógios artísticos, cimentando a conexão do modelo com o mundo da arte pop.