RESUMO
O Grand Seiko 45GS, especificamente equipado com o calibre 4520A, representa um dos momentos mais significativos e puristas na história da horologia japonesa. Lançado em 1968 pela Daini Seikosha, este modelo não foi apenas uma resposta interna à Suwa Seikosha (que produzia o 61GS automático), mas sim uma declaração de superioridade técnica focada na corda manual. Posicionado como um relógio de vestuário de alto desempenho, o 45GS foi projetado para o colecionador exigente que valoriza a interação tátil diária com sua máquina. A sua filosofia de design é a personificação estrita da 'Gramática do Design' de Taro Tanaka, caracterizada por superfícies planas polidas espelhadas e ângulos nítidos que interagem com a luz de forma dramática. No panteão horológico, o 45GS é reverenciado por combinar a estabilidade cronométrica de um movimento de alta frequência (36.000 vph) com uma arquitetura de caixa que definiu a estética visual da Grand Seiko por décadas. Ele marca o crepúsculo da era dourada da relojoaria mecânica da Seiko antes da revolução do quartzo, tornando-se um artefato cultuado por aqueles que buscam a precisão eletromecânica em um pacote puramente analógico e artesanal.
HISTÓRIA
A história do Grand Seiko 45GS é intrínseca à lendária rivalidade interna da Seiko entre as suas duas fábricas principais: Suwa Seikosha e Daini Seikosha. Em 1968, um ano crucial para a relojoaria, a Suwa lançou o 61GS, o primeiro Grand Seiko automático de 36.000 bph. Não querendo ficar para trás, a Daini Seikosha respondeu com o 45GS (calibre 4520), uma obra-prima de corda manual que muitos puristas consideram superior em termos de construção e estabilidade a longo prazo.
O 45GS sucedeu o 44GS, que havia estabelecido a linguagem visual da marca, mas cujo movimento de baixa frequência (18.000 bph) já não satisfazia a busca obsessiva da Seiko pela precisão absoluta. O calibre 4520A foi desenvolvido com base na tecnologia adquirida durante os Concursos do Observatório de Neuchâtel, onde a Seiko começou a dizimar a competição suíça. Para alcançar a estabilidade em 36.000 vibrações por hora, a Daini construiu um movimento com uma mola principal de alto torque e um balanço de tamanho considerável, algo raro em movimentos de alta frequência, resultando em uma precisão que frequentemente excedia os padrões COSC da época e o próprio padrão Grand Seiko.
Esteticamente, o modelo é a aplicação mais pura da 'Gramática do Design' de Taro Tanaka. A caixa 4520-8000, a mais icônica, apresenta flancos laterais curvos que terminam em arestas vivas, polidas com a técnica Zaratsu (adaptada de máquinas de polir alemãs da marca Sallaz), criando um brilho sem distorções que faz o aço parecer metal precioso. Ao longo de sua curta produção (aproximadamente de 1968 a 1973), o modelo viu variações, incluindo as raríssimas versões V.F.A. (Very Fine Adjusted) e as certificadas pelo Observatório Astronômico da Seiko.
O impacto do 45GS no legado da marca é imensurável. Ele representou o auge da tecnologia mecânica manual da Seiko no século XX. Tragicamente, sua produção foi encerrada prematuramente com o advento do Quartzo (liderado pelo Seiko Astron), tornando-o o último de sua espécie por muitos anos. Hoje, colecionadores buscam o 45GS não apenas como um relógio, mas como um documento histórico da época em que a engenharia mecânica japonesa alcançou, e indiscutivelmente superou, seus rivais europeus.
CURIOSIDADES
O logotipo da Daini Seikosha, um raio estilizado, é visível no mostrador abaixo do texto 'Hi-Beat', distinguindo-o das criações da Suwa (que usava um redemoinho).
O Calibre 4520 é famoso entre os relojoeiros por sua 'ponte de balanço' transversal, que oferece estabilidade excepcional, mas é notoriamente difícil de lubrificar corretamente devido à alta velocidade de 10 batidas por segundo.
Existe uma versão extremamente rara deste movimento, o 'Astronomical Observatory Chronometer', que foi vendido a preços astronômicos na época e é considerado o 'Santo Graal' dos Seikos vintage.
O 45GS foi um dos últimos relógios a apresentar o medalhão de ouro 'GS' no fundo da caixa antes de a Seiko transicionar para gravações simples para reduzir custos e aumentar a durabilidade.
Devido ao alto torque necessário para mover os ponteiros a 36.000 vph, a coroa do 45GS é ligeiramente maior e mais grossa do que a dos modelos anteriores para facilitar a corda manual diária.
Este modelo é frequentemente apelidado pelos colecionadores ocidentais de 'The High-Beat Hand-Winder', diferenciando-o claramente do seu irmão automático, o 61GS.