RESUMO
Lançado no auge da era dourada da relojoaria mecânica, o Alpina 70 não foi apenas um instrumento de marcação do tempo, mas um manifesto de competência técnica destinado a celebrar as sete décadas de existência da 'Union Horlogère'. Posicionado no mercado como um relógio de pulso transicional, o modelo capturou perfeitamente o espírito do pós-guerra, onde a utilidade robusta encontrava o refinamento estético. Destinado a um público exigente que valorizava a precisão suíça tanto no ambiente corporativo quanto em atividades de lazer, o Alpina 70 personificou a fusão entre a durabilidade do conceito 'Alpina 4' e a elegância de um 'dress watch'. A sua importância reside na democratização da alta qualidade técnica; equipado com os veneráveis calibres de manufatura 592 e 598, este relógio estabeleceu um padrão de fiabilidade que poucos concorrentes da época conseguiam igualar no mesmo segmento de preço. Hoje, é reverenciado por colecionadores não apenas como um item comemorativo, mas como o guardião de uma era em que a Alpina operava como uma manufatura independente de prestígio inquestionável, oferecendo uma janela tangível para a filosofia de design de 1953.
HISTÓRIA
A génese do Alpina 70 remonta a um momento crucial na história da relojoaria suíça: o ano de 1953. Este ano marcou o 70.º aniversário da fundação da Alpina Union Horlogère, estabelecida pelo visionário Gottlieb Hauser em 1883. Para comemorar este jubileu de platina, a marca não se limitou a lançar uma edição limitada estética; em vez disso, cristalizou a sua filosofia técnica num modelo que serviria como embaixador da qualidade da marca. O Alpina 70 foi concebido sobre os alicerces do lendário conceito 'Alpina 4', introduzido em 1938, que ditava que um verdadeiro relógio desportivo devia possuir quatro qualidades essenciais: ser antimagnético, resistente à água, resistente ao choque (Incabloc) e construído numa caixa de aço inoxidável robusta. Enquanto os modelos anteriores eram estritamente utilitários ou militares, o modelo de 1953 refinou estas características numa silhueta mais esbelta e elegante, adequada para a prosperidade económica dos anos 50.
O coração deste modelo, e a razão pela qual perdura na estima dos historiadores, reside nos seus movimentos: os calibres 592 e 598. O calibre 592, em particular, é frequentemente citado como um dos movimentos de corda manual mais robustos e fiáveis alguma vez produzidos pela indústria suíça de meados do século. A sua construção era tão sólida e lógica que se tornou um movimento de referência para o ensino em escolas de relojoaria. O Alpina 70 utilizou estes 'tratores' mecânicos para garantir que a beleza do mostrador — frequentemente adornado com índices aplicados e o distinto logótipo cursivo — fosse igualada pela longevidade da máquina. Ao longo da década de 1950, o design evoluiu subtilmente, com variações nos mostradores, incluindo texturas 'honeycomb' (favo de mel) e caixas com asas mais pronunciadas, mas a essência do modelo de jubileu manteve-se inalterada. A importância deste modelo transcende a própria marca; ele representa o último grande suspiro da Alpina como uma potência independente maciça antes das crises que reconfigurariam a indústria nos anos 70 e 80, servindo hoje como um testemunho da excelência de manufatura da época.
CURIOSIDADES
O Calibre 592 utilizado neste modelo era tão robusto e modular que serviu de base para muitos outros movimentos, sendo considerado por relojoeiros veteranos como 'indestrutível' quando devidamente mantido.
Embora seja um modelo comemorativo, muitos mostradores não exibem explicitamente o número '70', sendo identificados pelos colecionadores através da combinação do ano de produção, número de série da caixa e a presença dos calibres específicos 592/598.
A 'Alpina Union Horlogère' funcionava originalmente como uma cooperativa, e o sucesso do modelo 70 foi um dos grandes triunfos de distribuição desta rede, sendo vendido em toda a Europa, desde a Alemanha (onde a marca tinha raízes profundas) até à Suíça.
Existem versões extremamente raras do Alpina 70 com mostradores pretos 'gilt' (dourados), que alcançam prémios significativos em leilões devido à sua escassez em comparação com as versões prateadas ou champanhe.
O logótipo do triângulo vermelho da Alpina, que hoje é um ícone da marca (representando o Matterhorn), começou a ganhar proeminência visual nesta era, embora de forma subtil, muitas vezes aparecendo no interior da caixa ou na coroa em modelos posteriores derivados desta linhagem.