RESUMO
O Breitling Chronomat Ref. 769, lançado em 1940, não é apenas um relógio; é um marco monumental na cronometragem utilitária e o avô espiritual do lendário Navitimer. Em um mundo pré-digital, onde cálculos complexos exigiam réguas de cálculo volumosas ou tabelas logarítmicas, a Breitling introduziu uma revolução: o primeiro cronógrafo de pulso equipado com uma régua de cálculo circular integrada (Patente Suíça nº 217012). Diferentemente de seus sucessores focados na aviação, o Chronomat original foi posicionado como uma ferramenta essencial para a 'intelligentsia' técnica da época—engenheiros, matemáticos, cientistas e industriais. Seu design reflete uma harmonia perfeita entre forma e função; o mostrador, embora denso em informações, mantém uma legibilidade elegante que definiu a estética da Breitling por décadas. No mercado de colecionadores atuais, o Ref. 769 é reverenciado não apenas por sua raridade, mas por representar o momento exato em que o relógio de pulso transcendeu a mera indicação das horas para se tornar um computador analógico funcional. É uma peça de 'Graal' para puristas que buscam a verdadeira origem da identidade técnica da Breitling.
HISTÓRIA
A história do Breitling Chronomat Ref. 769 é a crônica de uma inovação que alterou fundamentalmente o propósito do relógio de pulso. Lançado em 1940, num cenário global tumultuado pela Segunda Guerra Mundial, o Chronomat surgiu não como um instrumento de combate direto, mas como uma ferramenta de intelecto. A Breitling, sob a liderança visionária de Willy Breitling, percebeu que a sociedade industrial moderna exigia rapidez nos cálculos.
O grande diferencial do Ref. 769 foi a aplicação da Patente Suíça 217012. Esta inovação introduziu uma régua de cálculo logarítmica no bisel rotativo que interagia com uma escala fixa no mostrador. Isso permitia ao usuário realizar operações matemáticas complexas: conversão de moedas, cálculo de taxas de juros, regra de três, distâncias, velocidades e consumo de combustível. Enquanto o mundo horológico estava focado em cronometrar corridas ou eventos, o Chronomat focava em resolver problemas.
Tecnicamente, o coração deste modelo é o venerável calibre Venus 175. Este movimento de roda de colunas é hoje celebrado por sua arquitetura superior, confiabilidade e o acionamento suave dos botões do cronógrafo. Durante as décadas de 1940 e 1950, o Chronomat evoluiu sutilmente, ganhando caixas ligeiramente mais robustas e variações de mostrador, mas sempre mantendo a referência 769 como o padrão de ouro.
É crucial notar que o Chronomat é o pai do Navitimer. Em 1952, a Breitling adaptou o conceito da régua de cálculo do Chronomat especificamente para as necessidades dos pilotos (cálculos de subida, descida e consumo de combustível), dando origem ao Navitimer Ref. 806. No entanto, sem a base estabelecida pelo Chronomat de 1940, o ícone da aviação nunca teria existido. O modelo original Ref. 769 permaneceu em produção até o final dos anos 50, sendo descontinuado e posteriormente 'ressuscitado' em 1984 com um design completamente diferente (o Chronomat Frecce Tricolori da era Schneider). Portanto, para o historiador, o Ref. 769 de 1940 representa a pureza da visão original da Breitling: a fusão definitiva entre a relojoaria e a engenharia matemática.
CURIOSIDADES
O nome 'Chronomat' é uma aglutinação (portmanteau) de duas palavras francesas: 'CHRONOgraphe' e 'MAThematique', enfatizando seu propósito de cálculo, diferentemente da versão de 1984 que significava 'CHRONOgraph' e 'AUTOmat'.
O mostrador do Ref. 769 frequentemente apresenta uma escala vermelha de 0 a 100 no centro. Isso servia para converter minutos em decimais, facilitando cálculos industriais e de folha de pagamento.
A patente original (Brevet 217012) está frequentemente gravada no mostrador dos primeiros modelos, um detalhe que aumenta significativamente o valor de leilão.
Embora o Navitimer seja associado a pilotos, o Chronomat original foi comercializado em anúncios da época para 'Homens de Negócios, Esportistas, Cientistas e Engenheiros'.
O calibre Venus 175 usado no 769 é o mesmo movimento base que foi modificado e usado em alguns dos cronógrafos mais caros da Patek Philippe da mesma era (como o Ref. 13-130), demonstrando a alta qualidade da engenharia empregada pela Breitling.
Existem versões extremamente raras do Ref. 769 com a assinatura 'Moon Phase' (fase da lua), embora sejam quase 'unicórnios' no mundo do colecionismo.