RESUMO
O Omega De Ville Referência 111.0117 é uma representação magistral da filosofia de design que permeou a relojoaria suíça durante a década de 1970: a busca incessante pela elegância através de perfis ultra-finos e formas geométricas refinadas. Em um momento em que a indústria oscilava entre a robustez dos relógios de ferramenta e a revolução iminente do quartzo, este modelo reafirmou o compromisso da Omega com a relojoaria mecânica tradicional focada no vestuário formal ('dress watch').
Distanciando-se da estética utilitária dos seus irmãos Seamaster e Speedmaster, o De Ville 111.0117 foi concebido para o cavalheiro sofisticado, destinado a deslizar imperceptivelmente sob o punho de uma camisa de alta costura. A sua arquitetura retangular, muitas vezes referida como estilo 'Tank', oferece uma alternativa distinta às caixas redondas onipresentes, evocando um charme Art Déco reinterpretado com o minimalismo dos anos 70. Equipado com o lendário Calibre 625, um movimento de corda manual notável pela sua espessura reduzida, este relógio não é apenas um acessório de estilo, mas um testemunho da engenharia de precisão em microescala. Hoje, ele ocupa um nicho valorizado por colecionadores que buscam a pureza do design 'time-only' (apenas horas e minutos), servindo como uma porta de entrada acessível, porém horologicamente respeitável, para o mundo dos relógios de forma vintage.
HISTÓRIA
A história do Omega De Ville 111.0117 está intrinsecamente ligada à emancipação da linha De Ville e à resposta da indústria suíça às mudanças estéticas radicais dos anos 1970. Originalmente, o nome 'De Ville' apareceu como uma extensão da linha Seamaster em 1960, denotando modelos que mantinham a resistência à água, mas ofereciam uma estética mais urbana e refinada. No entanto, em 1967, reconhecendo a demanda por relógios de prestígio que não precisavam necessariamente das especificações robustas de mergulho, a Omega transformou a De Ville em uma coleção soberana e independente.
O modelo 111.0117 surge no início da década de 1970, um período de transição crítica. Enquanto a 'Crise do Quartzo' começava a ameaçar a relojoaria mecânica, a Omega apostou na sofisticação do movimento manual ultra-plano para manter a relevância do relógio mecânico de luxo. O coração deste relógio é o Calibre 625. Lançado por volta de 1973, o Cal. 625 foi um sucessor direto dos movimentos menores anteriores, projetado especificamente para permitir que designers criassem caixas extremamente finas e de formatos variados (ovais, quadrados, retangulares) sem comprometer a precisão.
O design do 111.0117 reflete a rejeição das caixas volumosas. A sua forma retangular com cantos suavizados e garras curtas e integradas é um exemplo clássico do design industrial da época, que buscava limpar o excesso visual. Diferente dos relógios dos anos 50, que eram definidos por curvas voluptuosas e mostradores 'pie-pan', o 111.0117 abraçou a planicidade e a geometria nítida. O mostrador é um estudo em contenção: sem ponteiro de segundos, sem data, sem escalas complexas – apenas a essência do tempo.
Historicamente, este modelo ajudou a solidificar a posição da Omega não apenas como fabricante de cronógrafos espaciais e mergulhadores profissionais, mas como uma 'Maison' capaz de competir com a Patek Philippe e a Vacheron Constantin no território dos relógios de gala (dress watches). Para o colecionador moderno, o 111.0117 não é apenas um relógio vintage; é um artefato de uma era onde a elegância era medida pela discrição e pela capacidade de criar complexidade mecânica em espaços minúsculos.
CURIOSIDADES
O Calibre 625, que equipa este modelo, é tecnicamente fascinante por seu tamanho diminuto (17.5mm de diâmetro), sendo originalmente utilizado tanto em relógios masculinos ultra-finos quanto em modelos femininos, o que demonstra a versatilidade da engenharia da Omega na época.
Devido à sua construção 'monobloco' ou de fundo de pressão muito justo em alguns variantes, o som do tic-tac do Calibre 625 é notavelmente mais agudo e rápido (21.600 vph) do que os calibres de 18.000 vph da década anterior, uma característica auditiva apreciada por puristas.
O modelo 111.0117 é frequentemente apelidado informalmente de 'Omega Tank' em fóruns de colecionadores, devido à sua semelhança silhueta com o famoso modelo da Cartier, embora possua um DNA de design distintamente suíço-alemão dos anos 70.
A maioria dos exemplares dourados deste modelo possui um banho de ouro de 20 microns, uma espessura superior ao padrão de 10 microns de muitas marcas concorrentes da época, o que explica por que muitos exemplares sobrevivem hoje com a caixa em excelente estado, sem desgaste excessivo no metal base.
Este modelo é um favorito entre colecionadores que buscam 'Black Tie Watches' a preços acessíveis, pois oferece a mesma elegância visual de metais preciosos sólidos por uma fração do custo de leilão.
O design do mostrador frequentemente apresenta a técnica de 'Linen Dial' (textura de linho) em variações raras, que cria um jogo de luz único e aumenta significativamente o valor de revenda comparado aos mostradores lisos convencionais.
A coroa deste modelo é propositalmente pequena e parcialmente embutida na caixa para não quebrar a simetria retangular, exigindo um manuseio delicado para dar a corda diária.