RESUMO
No auge da turbulência da Crise do Quartzo, quando a relojoaria mecânica tradicional parecia destinada à obsolescência, a Blancpain, sob a liderança visionária de Jean-Claude Biver e Jacques Piguet, lançou um manifesto de resistência: o Villeret Quantième Perpétuel Ref. 5395. Lançado em 1986, este relógio não é apenas um instrumento de cronometragem; é uma peça de importância histórica monumental que simboliza o renascimento da Alta Relojoaria suíça. Posicionado firmemente no segmento de relógios de vestuário ('dress watches') de ultra-luxo, o Ref. 5395 foi concebido para o colecionador erudito que valorizava a complexidade mecânica sobre a conveniência eletrônica. Com o seu perfil discreto de 34mm e a complexidade vertiginosa de um calendário perpétuo automático, a Blancpain demonstrou que a verdadeira arte reside na miniaturização e no acabamento manual. A filosofia de design é purista, empregando a icônica caixa Villeret com bisel de duplo degrau ('double pomme'), equilibrando legibilidade com sofisticação técnica. Hoje, o 5395 é reverenciado não apenas pela sua estética equilibrada e proporções clássicas, mas como um dos pilares fundadores que permitiram à indústria suíça recuperar o seu trono de prestígio global.
HISTÓRIA
A história do Blancpain Quantième Perpétuel Ref. 5395 é indissociável da ressurreição da própria marca e, por extensão, da salvação da relojoaria mecânica de alto nível na década de 1980. Em 1983, Jean-Claude Biver e Jacques Piguet adquiriram o nome adormecido da Blancpain com uma premissa audaciosa: 'Desde 1735, nunca houve um relógio de quartzo Blancpain. E nunca haverá.' Para provar a superioridade da mecânica tradicional, a marca embarcou na criação dos lendários 'Seis Masterpieces' (As Seis Obras-Primas), uma série de relógios que incorporavam as complicações mais reverenciadas da horologia, todas alojadas na mesma caixa clássica redonda.
O lançamento do Ref. 5395 em 1986 marcou um ponto de viragem crucial. Num ano dominado por relógios digitais e designs angulares, a Blancpain apresentou um Calendário Perpétuo automático que era, na época, um dos mais finos e elegantes do mundo. A engenharia por trás deste modelo baseou-se na colaboração íntima com a Frédéric Piguet, utilizando o lendário calibre base ultra-fino, modificado e aprimorado com um módulo de calendário perpétuo de complexidade notável. O desafio técnico não era apenas a funcionalidade, mas a miniaturização; conseguir encaixar as cames, alavancas e engrenagens necessárias para rastrear dias, datas, meses, anos bissextos e fases da lua num movimento que permitisse uma caixa de apenas 34mm de diâmetro e 9mm de altura foi um feito de virtuosismo.
Esteticamente, o Ref. 5395 definiu a linguagem visual da coleção Villeret por décadas. O mostrador exibia uma simetria perfeita: o mês e o indicador de ano bissexto às 12 horas, a data às 3 horas, o dia da semana às 9 horas e, poeticamente ancorando o design, a fase da lua 'sorridente' às 6 horas. Esta disposição tornou-se o arquétipo do calendário perpétuo clássico.
Ao longo dos anos, o modelo evoluiu sutilmente, mas o Ref. 5395 original de 1986 permanece o mais puro. Ele representa a era 'Biver' inicial, onde a produção era extremamente limitada e cada peça era finalizada com um grau de cuidado obsessivo. Diferente das iterações modernas que cresceram para 38mm ou 40mm, o 5395 mantém as proporções clássicas que os puristas agora procuram avidamente no mercado 'neo-vintage'. O seu impacto no legado da marca foi cimentar a Blancpain como a 'Manufatura da Alta Relojoaria', provando que a complexidade emocional de um relógio mecânico sempre triunfaria sobre a precisão fria do quartzo.
CURIOSIDADES
O Ref. 5395 foi parte integrante da estratégia dos 'Seis Masterpieces' da Blancpain, que culminou no lendário modelo 1735 Grande Complication, o relógio mais complicado do mundo no momento do seu lançamento.
A fase da lua neste modelo apresenta frequentemente a icônica 'cara de lua' com uma expressão serena e um sinal de beleza (uma pinta) na bochecha, uma referência lúdica às damas da corte francesa do século XVIII que usavam tais marcas para sinalizar disponibilidade ou status.
Na época do seu lançamento em 1986, este modelo disputava o título de calendário perpétuo automático mais fino do mundo, uma proeza técnica possibilitada pelo design do movimento Frédéric Piguet.
Embora a caixa seja de 34mm, o uso do bisel 'double pomme' (degrau duplo) e as asas curtas e curvas fazem com que o relógio tenha uma presença de pulso maior do que as dimensões sugerem, sendo um favorito entre colecionadores de 'dress watches' tradicionais.
Uma variação extremamente rara deste modelo foi produzida com um mostrador esqueleto inteiramente gravado à mão, demonstrando o auge do artesanato decorativo da Blancpain na era pré-Swatch Group.