RESUMO
O Breitling No. 100 Chronographe-Compteur, lançado em 1934, não é apenas um relógio vintage raro; é indiscutivelmente uma das peças mais consequentes na história da relojoaria mecânica do século XX. Antes deste modelo, os cronógrafos de pulso operavam predominantemente através de um único botão (monopusher) integrado à coroa ou posicionado de forma isolada, o que limitava a flexibilidade funcional ao forçar um ciclo sequencial rígido de iniciar, parar e zerar. Sob a liderança visionária de Willy Breitling, este modelo introduziu e patenteou a arquitetura de dois botões independentes, segregando definitivamente a função de 'start/stop' (às 2 horas) da função de 'reset' (às 4 horas). Este design não foi apenas uma melhoria estética, mas uma revolução ergonômica voltada para aviadores, engenheiros e desportistas que necessitavam acumular tempos parciais sem perder a leitura anterior. Ao estabelecer o padrão universal para a interface do cronógrafo, o No. 100 transcendeu sua existência física para se tornar o projeto fundamental sobre o qual praticamente todos os cronógrafos subsequentes — do Speedmaster ao Daytona — foram construídos. É uma peça de museu que representa a transição definitiva da relojoaria de bolso adaptada para a verdadeira instrumentação de pulso.
HISTÓRIA
A história do Breitling No. 100 Chronographe-Compteur de 1934 é, em essência, a crônica de como a família Breitling resolveu o quebra-cabeça da funcionalidade do cronógrafo de pulso ao longo de três gerações. Enquanto Léon Breitling focou na precisão industrial dos cronógrafos de bolso no final do século XIX, foi seu filho Gaston quem, em 1915, criou o primeiro cronógrafo de pulso com um botão independente às 2 horas. No entanto, o verdadeiro salto quântico ocorreu quando o jovem Willy Breitling, neto do fundador, assumiu o comando da empresa. Em 1934, o mundo ainda se recuperava da Grande Depressão e a aviação entrava na sua era dourada, exigindo instrumentos de navegação mais complexos e seguros.
Até aquele ano, embora Gaston tivesse introduzido a separação entre as funções de início/parada e o zeramento em 1923, o mecanismo ainda era confuso e propenso a erros operacionais sob estresse. Willy percebeu que a ergonomia era tão vital quanto a mecânica. O lançamento do modelo No. 100 em 1934 marcou a estreia da Patente Suíça nº 183 794. Esta inovação introduziu o segundo botão dedicado exclusivamente ao retorno a zero, posicionado às 4 horas. Esta configuração física criou uma lógica intuitiva: o botão superior controlava a ação ativa (somar tempos), e o botão inferior controlava a finalização (limpar o mostrador).
Este modelo específico consolidou a reputação da Breitling não apenas como montadora, mas como uma casa de engenharia de interface. O No. 100 apresentava um design distintamente Art Déco, com alças soldadas elegantes e mostradores complexos repletos de escalas de medição científica, essenciais para os cálculos balísticos e de voo da época. O impacto foi imediato e avassalador; concorrentes de prestígio, incapazes de oferecer uma solução ergonômica superior, foram forçados a adotar o layout de dois botões de Willy Breitling após o vencimento das proteções iniciais de design ou através de licenciamentos de movimentos ébauche que incorporavam essa geometria.
Para o colecionador moderno, o No. 100 representa o 'Elo Perdido' que conecta os relógios de bolso do século XIX aos cronógrafos desportivos modernos. Não se trata apenas de um relógio, mas do nascimento de um padrão industrial que perdura há quase um século. A preservação de exemplares originais de 1934 é extremamente rara, pois eram ferramentas de trabalho intenso, muitas vezes descartadas ou destruídas durante a Segunda Guerra Mundial que se avizinhava.
CURIOSIDADES
A patente oficial associada a este design revolucionário é a famosa Brevet Nº 183 794, um número sagrado para historiadores da marca.
Willy Breitling tinha apenas 19 anos quando assumiu a empresa e pouco mais de 20 quando supervisionou o lançamento deste design que mudaria a indústria para sempre.
Antes deste modelo, zerar um cronógrafo acidentalmente enquanto se tentava pausá-lo era um erro comum em relógios monopushers, algo fatal para cálculos de navegação aérea.
O layout 'dois botões' deste relógio definiu a silhueta visual de ícones posteriores da marca, como o Premier, o Navitimer e o Chronomat.
Devido à época de produção (anos 30), muitos mostradores originais contêm Rádio (tinta radioativa) nos números, o que exige manuseio cuidadoso por conservadores atuais.
Este modelo é frequentemente citado em tribunais de patentes históricas como o 'estado da arte' anterior que invalidou tentativas posteriores de outras marcas de patentear layouts de cronógrafos.
Embora modesto pelos padrões atuais, o diâmetro de ~36mm era considerado 'oversized' em 1934, visando a legibilidade máxima para pilotos.