RESUMO
Lançado em um momento crucial da história global, o Breitling Premier Ref. 777, consolidado em 1945, representa uma mudança paradigmática na filosofia da manufatura de Grenchen. Enquanto a Breitling construiu sua reputação formidável fornecendo instrumentos de aviação e cronógrafos militares robustos sob o departamento 'Huit Aviation', a linha Premier foi a visão de Willy Breitling para trazer o cronógrafo para fora do cockpit e para o pulso do cavalheiro civilizado. O Ref. 777 não era apenas uma ferramenta de medição temporal; era uma declaração de estilo, otimismo e sofisticação no pós-guerra. Posicionado no topo da hierarquia da marca na época, este modelo visava uma clientela abastada que valorizava tanto a precisão técnica quanto a estética 'dress watch'. Com suas linhas fluidas, asas facetadas e o uso frequente de metais preciosos como o ouro rosa 18k, o Premier 777 distanciou-se da utilidade bruta para abraçar o luxo. É uma peça seminal na horologia, pois define o momento exato em que o cronógrafo de pulso transicionou de equipamento estritamente militar para um acessório de elegância diária, influenciando diretamente a linguagem de design que a Breitling viria a recuperar no século XXI.
HISTÓRIA
A história do Breitling Premier Ref. 777 é indissociável da visão estratégica de Willy Breitling durante os anos 1940. Em 1943, antecipando o fim da Segunda Guerra Mundial, Willy percebeu que o mundo em breve desejaria produtos que exalassem 'normalidade', beleza e refinamento, afastando-se da estética puramente militar que dominara a década. A coleção Premier foi lançada oficialmente nessa época, mas foi em 1945, com a consolidação do Ref. 777, que a linha atingiu o seu zênite técnico e estético. O modelo 777 distinguia-se pelo seu tamanho; com 38mm, era significativamente maior que a maioria dos relógios da época (que oscilavam entre 32mm e 35mm), conferindo-lhe uma presença moderna e imponente no pulso, o que hoje o torna extremamente desejável para colecionadores contemporâneos.
O coração deste modelo era o lendário calibre Venus 175. Este movimento de roda de colunas não era apenas robusto e fiável, mas oferecia uma operação tátil suave que se tornou a referência para cronógrafos de alta qualidade. A arquitetura do Venus 175 permitiu à Breitling criar um mostrador equilibrado 'bi-compax' (dois sub-mostradores às 3 e 9 horas), o que garantia uma legibilidade perfeita. A evolução do design do 777 ao longo dos anos finais da década de 1940 viu a introdução de mostradores complexos. Enquanto alguns modelos apresentavam faces limpas e minimalistas, as versões mais cobiçadas — conforme mencionado no contexto de 1945 — incluíam escalas científicas triplas ou duplas: taquímetros para velocidade, telêmetros para distância (baseados na velocidade do som) e pulsômetros para uso médico.
O Ref. 777 serviu como a antítese do Chronomat (lançado em 1942 com a sua régua de cálculo). Enquanto o Chronomat era para o engenheiro e o cientista em campo, o Premier 777 era para o executivo, o banqueiro ou o bon vivant. O uso de ouro rosa sólido em muitos exemplares de 1945 sublinha essa intenção de luxo. A produção do 777 cessou eventualmente com a chegada das décadas de 50 e 60, quando a estética mudou para designs mais desportivos como o Navitimer, mas o DNA do 777 permaneceu adormecido até ser ressuscitado triunfantemente na moderna coleção Premier B09 da Breitling, provando que o design de 1945 era, de fato, atemporal.
CURIOSIDADES
O termo 'Premier' não foi escolhido ao acaso; Willy Breitling selecionou-o para indicar que estes relógios eram o 'primeiro' nível de qualidade e acabamento da marca, superior aos modelos utilitários.
Devido ao seu tamanho de 38mm, incomum para os anos 40, o Ref. 777 é frequentemente apelidado de 'Jumbo' pelos colecionadores de vintage, compartilhando esta nomenclatura com o Patek Philippe Calatrava da mesma era.
O calibre Venus 175 encontrado no Ref. 777 é tecnicamente o antecessor arquitetônico do movimento usado no famoso cronógrafo 'Seagull 1963' da força aérea chinesa, após a Venus vender o maquinário para a China nos anos 60.
Existem versões extremamente raras do Ref. 777 com mostradores pretos 'Gilt' (dourados sobre preto brilhante), que alcançam valores astronômicos em leilões devido à sua elegância dramática e escassez.
O modelo Ref. 777 foi uma das principais inspirações visuais para o relógio usado pelo personagem de Brad Pitt no filme 'Fury' (Corações de Ferro), embora o modelo exato no filme fosse um Premier de referência ligeiramente diferente, a estética do 777 define o período.
Ao contrário dos cronógrafos modernos que são estanques, o Ref. 777 possuía apenas resistência básica; os anúncios da época focavam na sua função 'antimagnética' e 'antichoque' mais do que na impermeabilidade.