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Tissot Wood Watch (1988) - A Simbiose Orgânica entre a Natureza e a Engenharia Suíça que Desafiou os Limites da Horologia no Final do Século XX


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Seguindo a inovação do RockWatch, a Tissot lançou o Wood Watch, com uma caixa esculpida em madeira natural. Este relógio continuou a exploração da marca de materiais orgânicos e incomuns para as caixas dos seus relógios.

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RESUMO

Lançado em 1988, no auge de um renascimento criativo da indústria relojoeira suíça, o Tissot Wood Watch não foi apenas um instrumento de cronometragem, mas uma declaração de intenções audaciosa. Posicionado estrategicamente após o sucesso retumbante do RockWatch, este modelo solidificou a reputação da Tissot como a vanguarda experimental do recém-formado grupo SMH (futuro Swatch Group). Enquanto o mercado global ainda se recuperava da Crise do Quartzo, a Tissot optou por transcender a disputa puramente tecnológica para entrar no reino da arte tátil e orgânica. O Wood Watch foi direcionado a um público culto, ecologicamente consciente e esteticamente exigente, que valorizava a unicidade sobre a uniformidade industrial. Ao contrário dos relógios de aço frio ou ouro ostensivo da era 'Yuppie', o Wood Watch oferecia calor, textura e uma conexão viva com o mundo natural. A sua filosofia de design baseava-se na premissa de que 'nenhum relógio é igual ao outro', uma vez que os veios da madeira proporcionavam uma impressão digital exclusiva para cada peça. No panteão da horologia, é significativo por ter provado que materiais higroscópicos e 'vivos' poderiam ser domesticados para abrigar a precisão suíça, antecipando a tendência moderna de materiais exóticos e sustentáveis em décadas.

HISTÓRIA

A génese do Tissot Wood Watch, lançado em 1988, é inseparável do contexto turbulento e transformador da década de 1980 na relojoaria suíça. Sob a liderança visionária de Nicolas G. Hayek e a consultoria estratégica de Ernst Thomke, a Tissot precisava desesperadamente de se reinventar para sobreviver à devastação causada pela concorrência asiática de quartzo. A resposta inicial foi o RockWatch em 1985, esculpido em granito alpino, que se tornou um fenómeno cultural. O sucesso do RockWatch provou que havia um apetite voraz por relógios que contassem uma história através dos seus materiais. Em 1988, a Tissot decidiu elevar a fasquia da complexidade técnica. Trabalhar com pedra era difícil devido à sua dureza e fragilidade, mas trabalhar com madeira apresentava um desafio inteiramente novo: a madeira é um material 'vivo'. Ela reage à humidade, temperatura e luz, expandindo-se e contraindo-se, o que é anátema para a precisão micrométrica necessária para alojar um movimento de relógio e garantir a integridade do cristal e do fundo da caixa. Para o Wood Watch, a Tissot focou-se principalmente na madeira de urze (Briar wood), especificamente a raiz da 'Erica arborea' da região do Mediterrâneo, famosa pela sua dureza, resistência ao calor e grãos intrincados, tradicionalmente usada em cachimbos de alta qualidade. Tecnicamente, a inovação residia no método de estabilização da madeira e na criação de um núcleo interno que protegesse o movimento de quartzo ETA das variações dimensionais da caixa externa. O design era uma evolução natural do seu predecessor de pedra: linhas limpas, ausência de asas tradicionais proeminentes (com a bracelete a fluir diretamente da caixa) e um foco absoluto na textura do material. Ao longo da sua produção, a Tissot experimentou com outras madeiras além da Urze, incluindo o Ébano escuro e denso, e o Ácer claro, criando uma paleta de cores que ia do creme pálido ao preto profundo, passando pelo vermelho fogo. O Wood Watch não foi apenas uma novidade passageira; foi a segunda peça da 'Trilogia Conceptual' da Tissot (Rock, Wood, Pearl). Ele representou uma ponte vital entre a tradição artesanal de marcenaria e a microengenharia. Para os colecionadores, o modelo de 1988 é o 'Mark I' desta linhagem, distinguível pelas suas proporções clássicas e pela tipografia da época. O seu impacto na indústria foi subtil mas duradouro: libertou os designers de relógios da tirania do metal, abrindo caminho para o uso futuro de cerâmica, carbono forjado e, eventualmente, o retorno de materiais sustentáveis no século XXI. O Wood Watch permanece como um testemunho da era em que a Tissot ousou ser a marca mais experimental da Suíça.

CURIOSIDADES

A madeira utilizada, especialmente a 'Briar', provinha de raízes subterrâneas de urze da Córsega e da Itália que tinham de ser envelhecidas e secas durante anos antes de serem maquinadas, um processo semelhante ao envelhecimento de vinhos finos. Devido à natureza orgânica do material, o Tissot Wood Watch tende a desenvolver uma 'pátina' única com o passar das décadas, escurecendo ligeiramente e tornando-se mais brilhante com o contacto da pele, o que significa que um modelo de 1988 hoje parece drasticamente diferente de quando saiu da fábrica. O slogan publicitário em alguns mercados jogava com o duplo sentido e a conexão com a natureza, algo como 'Toque na madeira para dar sorte', posicionando o relógio como um talismã. O Wood Watch fazia parte de uma estratégia conhecida internamente na Tissot como 'Watch as a natural jewel', que culminaria mais tarde no PearlWatch (feito de madrepérola) em 1991. Embora resistente, o maior inimigo deste relógio para colecionadores modernos não é o movimento, mas a rosca dos parafusos do fundo da caixa: se apertados em excesso durante uma troca de bateria, podem rachar a madeira seca, tornando exemplares em perfeito estado extremamente raros e cobiçados. Algumas versões raras incluíam intársia (marchetaria), combinando diferentes tipos de madeira no mesmo mostrador para criar padrões geométricos. O Príncipe Carlos (agora Rei Carlos III), conhecido pela sua defesa ambiental, foi frequentemente associado a este tipo de estética 'eco-luxo' no final dos anos 80, ajudando a popularizar o conceito de materiais naturais na alta sociedade.

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