RESUMO
O Eterna-Matic Golden Heart, lançado em 1958, não foi apenas um relógio de pulso feminino; foi uma afirmação audaciosa de que a alta relojoaria mecânica e a elegância feminina podiam coexistir sem compromissos. Numa época em que os relógios femininos eram frequentemente relegados a meros acessórios de moda com movimentos de corda manual simplistas, a Eterna desafiou as leis da física e da inércia. Posicionado no ápice do luxo da década de 1950, este modelo foi concebido para a 'mulher moderna' — dinâmica, sofisticada e avessa à necessidade diária de dar corda ao relógio. A filosofia de design centrava-se numa contradição técnica: como manter a comodidade de um movimento automático dentro das dimensões minúsculas exigidas pela moda da época? A resposta elevou o relógio a um ícone: um rotor de ouro maciço de 23 quilates. Este componente não era apenas um floreio estético oculto, mas uma necessidade de engenharia para gerar inércia suficiente num diâmetro tão reduzido. Ao unir a robustez do famoso sistema de rolamentos de esferas da Eterna com a delicadeza da alta joalheria, o Golden Heart capturou a imaginação da elite global, tornando-se o relógio de escolha para ícones culturais e estabelecendo um novo padrão de prestígio na relojoaria suíça feminina.
HISTÓRIA
A história do Eterna-Matic Golden Heart é um capítulo fascinante sobre a miniaturização na relojoaria do pós-guerra. Em 1958, a indústria relojoeira suíça vivia uma corrida armamentista técnica: quem conseguiria produzir o movimento mais preciso, mais fino e, crucialmente para o mercado feminino, o menor mecanismo automático. A Eterna, que em 1948 já havia revolucionado a indústria com a introdução do rotor montado sobre rolamentos de esferas (o sistema Eterna-Matic, cujas cinco esferas se tornaram o logotipo da marca), aplicou essa tecnologia de ponta para resolver um problema físico complexo.
Para criar um relógio feminino que fosse verdadeiramente pequeno e elegante, o movimento precisava ser minúsculo. O Calibre 1419 desenvolvido para o Golden Heart media apenas 15,3 mm de diâmetro. No entanto, quanto menor o rotor de um relógio automático, menor a sua massa, e consequentemente, menor a sua capacidade de aproveitar os movimentos do braço para carregar a mola principal. Um rotor de aço ou latão desse tamanho seria leve demais para vencer a resistência da mola. A solução da Eterna foi brilhante e luxuosa: utilizar o ouro 23 quilates, um material com gravidade específica extremamente alta, para fabricar o rotor. Este 'coração de ouro' fornecia o peso necessário para garantir uma eficiência de corda impecável, mesmo num espaço tão confinado.
O lançamento em 1958 foi acompanhado por uma das campanhas de marketing mais eficazes da história da marca. A Eterna sabiamente associou o Golden Heart às deusas do cinema europeu da época. Não se tratava apenas de um relógio, mas de uma joia funcional endossada por Gina Lollobrigida e Brigitte Bardot, que foram presenteadas e fotografadas usando o modelo. Esta associação cimentou o Golden Heart como o símbolo máximo de 'Chic' e sofisticação.
Ao longo das décadas de 1960 e 1970, o modelo evoluiu esteticamente, adaptando-se às mudanças de estilo, passando de caixas redondas clássicas para formas mais geométricas e braceletes integrados texturizados, típicos do design de meados do século. No entanto, o conceito central — o peso oscilante de ouro pesado em um calibre minúsculo — permaneceu como o seu coração pulsante. O legado do Golden Heart é duplo: provou que as mulheres não precisavam sacrificar a conveniência mecânica pela estética e demonstrou a proeza da Eterna como uma verdadeira manufatura, capaz de inovações que marcas maiores da época ainda lutavam para alcançar.
CURIOSIDADES
O rotor de ouro era feito de uma liga de 23 quilates (quase ouro puro), algo extremamente raro na engenharia mecânica, escolhido especificamente pela sua densidade superior à do ouro 18k ou 21k, essencial para a funcionalidade do calibre.
A campanha publicitária apresentava o slogan 'Pour la femme de notre temps' (Para a mulher do nosso tempo), posicionando o relógio como um acessório de libertação tecnológica.
Gina Lollobrigida, no auge de sua fama, declarou publicamente seu amor pelo relógio, o que impulsionou as vendas do Golden Heart a níveis recordes na Itália e na França.
O movimento Eterna-Matic deste modelo era tão robusto que, apesar de seu tamanho diminuto, incluía o famoso sistema de proteção contra choques e o rolamento de esferas patenteado, uma miniaturização sem precedentes dessa tecnologia.
Em leilões contemporâneos, os modelos 'Golden Heart' completos com a bracelete original de ouro e a caixa de apresentação da época são altamente disputados, não apenas pelo valor do ouro, mas como artefatos da 'Era de Ouro' do cinema e da relojoaria.
O modelo serviu como base para a Eterna desenvolver posteriormente o 'Eterna-Matic 3000', aplicando lições de espessura e eficiência de rotor aos relógios masculinos ultra-finos nos anos 60.