RESUMO
O Rolex Sea-Dweller Ref. 1665, lançado em 1967, não é apenas um relógio; é um monumento à engenharia de águas profundas e um testemunho da era de ouro da exploração subaquática. Concebido em um período em que a corrida espacial tinha seu paralelo nos oceanos, o Sea-Dweller foi a resposta direta da Rolex às exigências extremas dos mergulhadores de saturação profissionais, especificamente aqueles empregados pela companhia francesa COMEX. Enquanto o Submariner já era um ícone, ele falhava sob as condições específicas das câmaras de descompressão, onde o hélio penetrava na caixa e expulsava o cristal. O Ref. 1665 resolveu isso com a introdução da Válvula de Escape de Hélio (HEV), transformando-o no 'tool watch' definitivo. Com sua caixa mais robusta e classificação de profundidade quadruplicada em relação aos seus contemporâneos, este modelo posicionou-se muito acima de um relógio esportivo de luxo convencional; era um instrumento de sobrevivência vital. Para o colecionador moderno, o 'Double Red' Sea-Dweller (DRSD) representa o Santo Graal dos relógios de mergulho vintage, combinando raridade, uma estética utilitária intransigente e uma história intrinsecamente ligada à conquista humana das profundezas abissais.
HISTÓRIA
A gênese do Rolex Sea-Dweller Ref. 1665 em 1967 está inextricavelmente ligada à colaboração entre a Rolex e a Compagnie Maritime d'Expertises (COMEX). Durante a década de 1960, o mergulho comercial evoluiu para o mergulho de saturação, permitindo que operários permanecessem em habitats pressurizados no fundo do mar por longos períodos. O ar respirado nessas profundidades continha uma mistura de hélio e oxigênio. As moléculas de hélio, sendo extremamente pequenas, penetravam nas vedações dos relógios Submariner 5513 e 5512 usados pelos mergulhadores. Durante a descompressão, a pressão externa diminuía mais rápido do que o gás conseguia escapar de dentro do relógio, fazendo com que a pressão interna explodisse o cristal de acrílico para fora da caixa.
A solução da Rolex foi técnica e pragmática: uma válvula unidirecional na lateral da caixa que permitia a saída do gás quando a pressão interna excedesse um certo limite, sem comprometer a resistência à água. Após protótipos iniciais baseados no Submariner (Ref. 5514), nasceu o Sea-Dweller Ref. 1665. A primeira e mais cobiçada iteração é conhecida como 'Double Red' Sea-Dweller (DRSD), devido às duas linhas de texto vermelho no mostrador: 'Sea-Dweller' e 'Submariner 2000'. Esta nomenclatura dupla servia para capitalizar a fama do Submariner enquanto introduzia o novo modelo superior.
Ao longo de sua produção (aprox. 1967-1977 para o DRSD), o mostrador evoluiu através de quatro variações principais, conhecidas pelos colecionadores como Mark I a Mark IV. O Mark I, extremamente raro, apresenta o 'S' de Sea-Dweller e Submariner alinhados verticalmente e um fundo de caixa gravado com 'Patent Pending', indicando que a patente da válvula ainda não havia sido concedida. As versões subsequentes viram mudanças sutis na tipografia e no tom do vermelho, variando de um rosa desbotado a um carmesim profundo. A caixa do 1665 era notavelmente mais espessa que a do Submariner para suportar a imensa pressão de 2.000 pés, e o cristal 'Super Dome' Tropic 39 conferia ao relógio um perfil lateral inconfundível e distorções ópticas encantadoras.
No final da década de 1970, a Rolex substituiu o mostrador 'Double Red' por uma versão com todo o texto em branco, dando origem ao que os colecionadores chamam de 'Great White' (ainda sob a referência 1665, mas uma iteração diferente). O 1665 original cimentou a reputação da Rolex como a autoridade inquestionável em relógios de mergulho profissional, pavimentando o caminho para o futuro Sea-Dweller 4000 e o monstruoso Deepsea.
CURIOSIDADES
O apelido 'Double Red' refere-se exclusivamente às duas primeiras linhas de texto no mostrador impressas em tinta vermelha; uma característica que desapareceu em 1977.
Existe uma versão ainda mais rara, quase mítica, chamada 'Single Red', onde apenas o nome 'Sea-Dweller' aparece em vermelho; estima-se que existam menos de uma dúzia desses protótipos.
O fundo da caixa dos primeiros modelos (Mark I e alguns Mark II) possui a gravação 'Patent Pending' na borda externa, tornando-os exponencialmente mais valiosos devido à sua raridade histórica.
Ao contrário do Submariner Date, o Sea-Dweller 1665 nunca possuiu a lente de aumento 'Cyclops' sobre a data, pois a Rolex temia que a cola ou a estrutura da lente pudessem enfraquecer o cristal sob pressões extremas.
O famoso mergulhador e cineasta Philippe Cousteau foi fotografado usando um Sea-Dweller 1665, solidificando o status do relógio entre a elite do mergulho.
Alguns exemplares foram entregues com o mostrador 'Khanjar' ou 'Qaboos', encomendados pelo Sultão de Omã; estes frequentemente não possuem o texto vermelho e são considerados 'grails' absolutos em leilões.
O cristal Tropic 39 'Super Dome' é tão curvado que, de certos ângulos, o mostrador torna-se ilegível, mas essa curvatura é essencial para distribuir a pressão da água uniformemente.