RESUMO
O lançamento do Rolex Cosmograph Ref. 6239 em 1963 não marcou apenas a introdução de um novo modelo, mas a redefinição completa da categoria de cronógrafos esportivos de luxo. Projetado especificamente para atender às demandas rigorosas dos pilotos de corrida profissionais, o Ref. 6239 rompeu com a tradição estética da marca ao transpor a escala taquimétrica do mostrador para o bisel metálico externo. Esta decisão de design, radical para a época, aumentou drasticamente a legibilidade e conferiu ao relógio uma aparência técnica e robusta que se tornaria o padrão da indústria. Embora hoje seja reverenciado como o Santo Graal da horologia vintage, é fundamental notar que, em sua gênese, o modelo era considerado um 'outsider' comercial, muitas vezes definhando nas vitrines dos revendedores. O Ref. 6239 representa a pureza funcional da Rolex antes da era do luxo ostensivo; é uma ferramenta mecânica de precisão, desprovida de proteções de coroa e movida pelo lendário calibre Valjoux de corda manual. Ele é o marco zero da dinastia Daytona, o relógio que transformou a cronometragem de corridas em uma forma de arte e que, através de suas variantes 'Exotic Dial', alcançaria o ápice do colecionismo mundial.
HISTÓRIA
A história do Rolex Cosmograph Daytona Ref. 6239 é a crônica de uma evolução técnica audaciosa que começou em 1963. Antes deste lançamento, a Rolex produzia cronógrafos, como o Ref. 6238 (conhecido retrospectivamente como 'Pre-Daytona'), que mantinham uma estética sóbria e monocrática, com a escala taquimétrica impressa discretamente no mostrador. O ano de 1963 marcou uma ruptura visual agressiva: a Rolex desejava capturar o espírito veloz e perigoso do automobilismo dos anos 60. Para isso, o Ref. 6239 foi introduzido com uma inovação fundamental: a escala taquimétrica foi gravada em um bisel de metal largo, libertando o mostrador para ser mais limpo e legível em altas velocidades.
Nos primeiros anos de produção, o nome 'Daytona' sequer aparecia no mostrador. A Rolex flertou com a nomenclatura 'Le Mans' em materiais publicitários iniciais antes de solidificar sua parceria com o Daytona International Speedway na Flórida, visando o mercado americano. Foi apenas por volta de 1965 que o nome 'Daytona' começou a aparecer regularmente nos mostradores, inicialmente flutuando sob a palavra 'Cosmograph' ou curvado sobre o sub-registrador das 6 horas.
Tecnicamente, o 6239 era alimentado pelo venerável Valjoux 72, modificado pela Rolex (renomeado como 72B e posteriormente 722). Diferente de seus sucessores (como o 6240 ou 6263), o 6239 utilizava botões de cronógrafo de pressão simples ('pump pushers'), o que significava que a caixa Oyster não era totalmente impermeável como os modelos de coroa e botões rosqueados que viriam depois.
O aspecto mais crucial da história do 6239, no entanto, é a introdução dos mostradores 'Exóticos', fabricados pela Singer. Estes mostradores apresentavam uma pista de segundos externa em cor contrastante e sub-registradores com marcadores quadrados e fontes Art Deco. Na época, eram considerados ousados demais e venderam mal. Foi apenas quando o ator e piloto Paul Newman começou a usar um 6239 com mostrador exótico (um presente de sua esposa, Joanne Woodward) que esta variante ganhou status mítico. O 6239 não é apenas um relógio; é o patriarca de uma linhagem que transformou a Rolex de uma fabricante de relógios de ferramenta em um símbolo de status global.
CURIOSIDADES
O Relógio Mais Caro da História (Temporariamente): O próprio Ref. 6239 de Paul Newman, com mostrador exótico e gravação 'Drive Carefully Me' no verso, foi leiloado em 2017 por $17,8 milhões de dólares, detendo o recorde mundial por anos.
O Erro 'Double Swiss': Alguns dos primeiros exemplares raríssimos do 6239 apresentam a palavra 'Swiss' impressa duas vezes no mostrador (uma visível e outra parcialmente coberta pelo bisel), um detalhe de transição altamente cobiçado.
Preço Original: Em sua estreia na década de 1960, um Ref. 6239 custava aproximadamente $210 dólares, um valor que, ajustado pela inflação, ainda seria considerado uma barganha inacreditável hoje.
Le Mans vs. Daytona: Antes de adotar o nome da pista da Flórida, a Rolex chamava este modelo de 'Le Mans' em alguns anúncios impressos iniciais, uma identidade que foi descartada em favor do apelo americano.
Bisel de Aço vs. Acrílico: O 6239 é definido pelo seu bisel de aço gravado. Seu irmão quase gêmeo, o Ref. 6241, é tecnicamente idêntico, mas apresenta um bisel de acrílico preto, tornando a distinção visual imediata.
O 'Underline' Dial: Em modelos de 1963/64, é comum encontrar um pequeno traço prateado ou preto sob as palavras 'Rolex' ou 'Cosmograph', indicando a transição no uso de materiais luminosos (de Rádio para Trítio) para reduzir a radioatividade.