RESUMO
Introduzido em 2008, o Sistema Ringlock representa o ápice da engenharia hermética da Rolex, manifestado primeiramente através do imponente modelo Deepsea (Ref. 116660). Este não é apenas um relógio de mergulho; é um instrumento de sobrevivência profissional concebido para operar em ambientes onde a pressão esmagadora destruiria um submarino convencional. O Sistema Ringlock foi a resposta inovadora da Rolex para um problema físico complexo: como criar um relógio capaz de suportar 3.900 metros de profundidade sem atingir dimensões inusáveis no pulso. Diferenciando-se drasticamente da linha Submariner e até mesmo do Sea-Dweller clássico, o Deepsea com Ringlock posiciona-se no mercado como a ferramenta definitiva para mergulhadores de saturação e entusiastas da tecnologia extrema. A sua filosofia de design prioriza a função absoluta sobre a estética tradicional, resultando numa presença visual robusta e técnica. Para a alta relojoaria, o lançamento desta tecnologia reafirmou a posição da Rolex não apenas como uma marca de luxo, mas como uma casa de inovação técnica inigualável, capaz de produzir caixas que atuam como minúsculos batiscafos no pulso.
HISTÓRIA
A gênese do Sistema Ringlock em 2008, com o lançamento do Rolex Deepsea Ref. 116660, marcou um ponto de inflexão na história dos relógios de mergulho. Para compreender a magnitude desta invenção, é necessário revisitar o legado da Rolex na conquista das profundezas, que começou com o Oyster em 1926 e evoluiu através das parcerias com a COMEX e a criação do Sea-Dweller em 1967. No entanto, à medida que a exploração humana visava abismos maiores, as limitações estruturais das caixas de aço tradicionais tornaram-se evidentes; para resistir a pressões de quase 400 atmosferas, uma caixa padrão teria de ser espessa demais para ser prática.
A solução da Rolex foi o revolucionário Sistema Ringlock. Esta arquitetura de caixa patenteada desviou-se completamente da construção convencional de três peças. O coração do sistema é um anel central de aço inoxidável ligado com nitrogênio — um material de bio-liga incrivelmente duro. Este anel atua como a espinha dorsal do relógio, suportando diretamente a pressão exercida sobre o cristal e o fundo da caixa. O vidro de safira, com 5,5 mm de espessura, é montado contra a frente deste anel, enquanto o fundo da caixa, feito de uma liga de titânio Grau 5, é pressionado contra a parte traseira. O uso do titânio é crucial, pois a sua flexibilidade permite que o fundo da caixa deforme ligeiramente sob pressão extrema, selando o relógio ainda mais hermeticamente à medida que a profundidade aumenta, sem fraturar.
Visualmente e tecnicamente, o modelo de 2008 rompeu com o conservadorismo da marca. O anel de retenção visível sob o cristal, gravado com 'ORIGINAL GAS ESCAPE VALVE' e 'RING LOCK SYSTEM', tornou-se uma assinatura estética técnica, lembrando ao usuário a complexidade interior. Ao longo dos anos, o modelo evoluiu, nomeadamente com a introdução do mostrador 'D-Blue' em 2014 para homenagear o mergulho de James Cameron, e uma atualização de calibre e proporções em 2018 (Ref. 126660). Contudo, a introdução original de 2008 permanece o momento definitivo, provando que a Rolex poderia industrializar um relógio capaz de sobreviver a pressões que esmagariam a maioria das formas de vida, mantendo a precisão cronométrica.
CURIOSIDADES
O cristal de safira do Sistema Ringlock deve suportar uma força equivalente a 3 toneladas métricas de pressão quando em profundidade máxima.
Para testar a confiabilidade do Sistema Ringlock, a Rolex desenvolveu um tanque hiperbárico especial em parceria com a COMEX (Compagnie Maritime d'Expertises) que simula a pressão a 4.875 metros de profundidade, garantindo uma margem de segurança de 25%.
Ao contrário de outros modelos Rolex, o Deepsea não possui a lente de aumento 'Cyclops' sobre a data, pois a integridade estrutural do cristal de 5.5mm é prioritária e a colagem de uma lente poderia criar pontos de tensão estrutural sob pressão extrema.
O fundo da caixa em Titânio é mantido no lugar por um anel roscado de aço 904L, o que significa que o fundo da caixa em si não é rosqueado, mas sim comprimido contra o anel central do Ringlock.
O modelo foi apelidado carinhosamente de 'The Beast' (A Besta) por colecionadores devido às suas dimensões e peso substanciais no pulso.
O mostrador 'D-Blue', lançado posteriormente para esta caixa, foi a primeira vez que a Rolex apresentou um mostrador com gradiente de cor, indo do azul profundo ao preto, simbolizando a descida ao oceano.