RESUMO
Lançado em 1978, num momento crucial onde a horologia suíça enfrentava a tempestade da 'Crise do Quartzo', o Tissot Seastar Quartz (o progenitor do moderno PRX) não foi apenas uma capitulação à nova tecnologia, mas uma afirmação de estilo e resiliência. Este relógio representa a democratização do design de luxo 'sport-chic' com pulseira integrada, uma estética popularizada por gigantes como a Audemars Piguet e a Patek Philippe no início da década. Destinado a um público que valorizava tanto a vanguarda tecnológica da precisão do quartzo quanto uma estética aerodinâmica e moderna, o modelo de 1978 encapsulou o espírito do seu tempo. A sua filosofia de design baseava-se na fusão perfeita entre a caixa e a pulseira, criando uma silhueta contínua que exalava sofisticação industrial. Mais do que um simples instrumento de medição de tempo, o Seastar Quartz posicionou a Tissot como uma marca capaz de inovar sem perder a sua identidade, oferecendo uma peça que era simultaneamente uma ferramenta robusta e um acessório de moda elegante. A sua importância histórica reside na sua capacidade de traduzir os códigos de design da alta relojoaria dos anos 70 para um formato acessível e tecnicamente avançado, estabelecendo o DNA que, décadas mais tarde, resultaria no renascimento de um dos maiores sucessos comerciais da marca no século XXI.
HISTÓRIA
A história do Tissot Seastar Quartz de 1978 é intrinsecamente ligada à revolução estética e técnica que varreu a indústria relojoeira na década de 1970. Numa época em que os movimentos mecânicos tradicionais estavam sendo rapidamente suplantados pela precisão eletrônica vinda do Oriente, a indústria suíça precisava responder com produtos que fossem tecnologicamente competitivos e visualmente superiores. O ano de 1978 marcou o ponto de virada para a Tissot com o lançamento deste modelo. Embora comercializado sob a linha 'Seastar', conhecida pela sua resistência à água, este modelo específico introduziu o conceito 'PRX' — onde 'P' significava Precisão, 'R' para Robustez, e 'X', em numeração romana, indicava a resistência a 10 atmosferas (100 metros). O design era filho do seu tempo: uma caixa em formato de barril (tonneau) com arestas vivas e uma pulseira integrada que fluía organicamente da cabeça do relógio, eliminando as garras tradicionais. Este estilo angular e plano era a assinatura do luxo esportivo da época.
Tecnicamente, o relógio era impulsionado pelo Calibre 2031, um movimento de quartzo que, por si só, é uma peça de engenharia fascinante da era SSIH (a holding que unia Omega e Tissot). Diferente dos movimentos de quartzo modernos genéricos, o 2031 possuía um motor de passo que permitia o ajuste do ponteiro das horas independentemente dos minutos, uma funcionalidade ideal para viajantes, similar ao funcionamento de um relógio GMT 'True Flyer'. O ajuste dos minutos e segundos era feito eletronicamente através de um botão na coroa ou por pressão contínua, uma idiossincrasia que confunde colecionadores novatos até hoje.
Durante décadas, este modelo permaneceu como uma curiosidade nos catálogos antigos, ofuscado pela mudança de gostos dos anos 90 e 2000 que favoreciam relógios maiores e mais arredondados. No entanto, o seu impacto no legado da marca foi ressuscitado triunfalmente em 2021. A Tissot digitalizou seus arquivos e redescobriu a geometria perfeita deste modelo de 1978. O relançamento do PRX moderno não é apenas uma homenagem, é uma reprodução fiel das linhas e proporções deste ancestral, provando que o design de Gérald Genta e seus contemporâneos — e a interpretação da Tissot desse estilo — possui uma qualidade atemporal. Para o colecionador, o modelo original de 1978 não é apenas um relógio de quartzo antigo; é o artefato original que valida um dos fenômenos mais significativos da relojoaria acessível contemporânea.
CURIOSIDADES
O acrônimo PRX foi oficialmente registrado significando: Precise (Preciso), Robust (Robusto) e X (10 Atmosferas).
O Calibre 2031 não possui uma coroa convencional para ajuste de minutos; os minutos são ajustados pressionando a coroa para dentro, enquanto puxá-la permite saltar apenas as horas.
Embora o design lembre obras de Gérald Genta (como o Royal Oak ou o IWC Ingenieur), o Tissot de 1978 foi desenhado internamente pela equipe da Tissot, seguindo o 'zeitgeist' da época.
No lançamento em 1978, os relógios de quartzo eram considerados itens de luxo e alta tecnologia, muitas vezes custando mais do que os seus equivalentes mecânicos tradicionais.
O mostrador original frequentemente trazia apenas a inscrição 'Seastar Quartz', sendo o nome PRX utilizado mais fortemente em materiais de marketing e catálogos da época do que no mostrador em si.
A Tissot era patrocinadora da equipe Lotus de Fórmula 1 na época deste lançamento, e o design técnico e angular do relógio ressoava com a engenharia automobilística de Colin Chapman.
O modelo original de 1978 é significativamente mais fino e leve do que a reedição moderna automática, devido à natureza compacta do movimento de quartzo 2031.