RESUMO
Em 13 de junho de 2024, o mundo da horologia técnica testemunhou um momento crucial com a publicação da patente internacional WO2024/121368 pela Montres Rolex S.A. Este documento não descreve um relógio completo, mas sim o coração pulsante de futuras gerações de calibres: uma nova mola principal com arquitetura 'S-block'. Diferentemente dos relógios de pulso convencionais que são definidos por sua estética externa, este desenvolvimento posiciona-se na vanguarda da microengenharia, visando resolver o problema secular da isocronia em relógios mecânicos: a queda de amplitude conforme a reserva de marcha diminui. A inovação destina-se a transcender as categorias de mercado tradicionais — mergulho, aviação ou dress watch — para se tornar o novo padrão ouro em todos os movimentos 'Perpetual' da marca. A filosofia de design aqui é puramente funcionalista e obsessiva, focada na linearização da curva de torque. Ao substituir a fita metálica contínua tradicional por uma estrutura segmentada em blocos interligados (semelhante a uma coluna vertebral), a Rolex busca entregar uma força constante do início ao fim da corda, potencialmente eliminando a necessidade de mecanismos complexos de 'remontoir' e garantindo uma precisão cronométrica inabalável, independentemente de o relógio estar totalmente carregado ou próximo de parar. É uma declaração de que a Rolex continua a inovar nos fundamentos da relojoaria, muito além do marketing de luxo.
HISTÓRIA
A história desta inovação específica, a mola principal com arquitetura S-block, deve ser compreendida não apenas como um lançamento de 2024, mas como o ápice de uma busca centenária pela 'força constante' na horologia portátil. Desde a invenção da mola espiral, os relojoeiros lutaram contra a Lei de Hooke, que dita que a força exercida por uma mola é proporcional à sua deformação; em termos práticos, isso significa que um relógio totalmente carregado recebe muita energia (as vezes causando 'rebote' ou galloping), enquanto um relógio quase descarregado recebe pouca energia, prejudicando a precisão. Historicamente, a Rolex utilizou as melhores ligas disponíveis, transicionando do aço carbono temperado, propenso à quebra e fadiga, para as ligas 'inquebráveis' de Nivaflex em meados do século XX. Com a introdução da série de calibres 32xx (como o 3235 e 3255) na década de 2010, a marca introduziu o escape Chronergy e um tambor de paredes mais finas para atingir 70 horas de reserva de marcha. No entanto, alguns relatórios técnicos e feedback da comunidade sugeriram que a estabilidade da amplitude no final dessa reserva poderia ser aprimorada. É neste contexto que surge a patente WO2024/121368 em 2024. A invenção rompe com a tradição de séculos de usar uma fita de metal uniforme. A nova mola descrita é composta por segmentos ou 'blocos' em forma de S, variando em espessura e geometria ao longo da espiral. Esta arquitetura permite que a mola atue com rigidez variável; as seções podem ser projetadas para serem mais flexíveis ou mais rígidas em pontos específicos da descarga. O resultado é um comportamento que imita mecanicamente o efeito de um fusée-and-chain (fuso e corrente), um mecanismo antigo e volumoso usado para equalizar o torque, mas agora miniaturizado dentro do próprio tambor da mola. Esta evolução sugere que a Rolex está trabalhando para superar as limitações físicas das ligas metálicas homogêneas, manipulando a geometria estrutural para obter um perfil de entrega de energia quase perfeitamente plano. Se e quando industrializada, esta tecnologia representará o maior salto no design de armazenamento de energia da Rolex desde a adoção das ligas de cobalto, solidificando a reputação da marca de resolver problemas complexos com soluções robustas e passivas, sem adicionar a fragilidade de complicações adicionais ao movimento base.
CURIOSIDADES
A estrutura em 'S-block' visualmente se assemelha a uma coluna vertebral orgânica ou vértebras interconectadas, algo inédito em molas principais tradicionais.
Esta patente foi publicada no mesmo ano em que rumores sobre atualizações silenciosas nos calibres da série 32xx circulavam intensamente nos fóruns de colecionadores.
A tecnologia permite, teoricamente, aumentar a reserva de marcha sem aumentar o diâmetro do tambor, otimizando o espaço interno morto que existe entre as espirais de uma mola comum.
Ao contrário de sistemas de força constante externos (como o d'Hondt ou escapes de remontoire), esta solução é 'passiva' e fica contida inteiramente dentro do tambor, mantendo a facilidade de serviço.
A Rolex tem um histórico de patentear tecnologias extremas que levam décadas para chegar ao mercado, ou que servem apenas para proteger sua propriedade intelectual defensiva.
Especialistas especulam que esta mola poderia elevar a reserva de marcha padrão da Rolex para próximo de 90 ou 100 horas no futuro, mantendo a precisão COSC/Superlative.
O design resolve o problema do 'deslizamento' irregular da mola dentro do tambor, permitindo uma expansão mais concêntrica e suave.