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Tissot Porto (1919): A Génese Art Déco e a Revolução do Relógio de Pulso Tonneau


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Considerado o primeiro relógio de pulso da Tissot, o modelo Porto foi lançado com um design em forma de tonneau, antecipando o estilo Art Deco. Representou a transição da marca, que até então focava em relógios de bolso, para a produção de relógios de pulso.

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RESUMO

O Tissot Porto de 1919 não é apenas um instrumento de cronometragem; é um artefato cultural que cristaliza um dos momentos mais cruciais da história da relojoaria: a transição definitiva do relógio de bolso para o relógio de pulso. Lançado num mundo que emergia das cinzas da Primeira Guerra Mundial, o Porto foi a resposta audaciosa da Tissot a uma nova realidade social e pragmática. Enquanto muitos fabricantes ainda soldavam asas a caixas de relógios de bolso (os chamados 'trench watches'), a Tissot desenhou o Porto desde a raiz como um objeto ergonómico de pulso. A sua caixa em forma de 'tonneau' (barril) não foi apenas uma escolha estética, mas uma solução de engenharia para oferecer conforto na curvatura do pulso, rompendo com a tirania das formas circulares tradicionais. Este modelo posicionou-se imediatamente como um ícone de elegância vanguarda, visando uma clientela sofisticada e cosmopolita que abraçava a modernidade dos 'Loucos Anos 20'. Esteticamente, o relógio é um estudo de caso na transição estilística, retendo a fluidez orgânica do Art Nouveau nos seus numerais 'explosivos', enquanto antecipa a geometria rigorosa e arquitetónica que viria a definir o Art Déco. Para o colecionador moderno, o Porto representa a fundação da identidade da Tissot como uma 'Manufactura' inovadora, provando que a marca de Le Locle estava na vanguarda do design suíço muito antes de se tornar parte do conglomerado Swatch Group.

HISTÓRIA

A história do Tissot Porto de 1919 é indissociável do colapso geopolítico e do renascimento cultural do início do século XX. Antes de 1917, a Tissot era uma fornecedora proeminente para a corte do Czar na Rússia imperial. Com a Revolução Bolchevique e a perda abrupta desse mercado vital, a família Tissot, liderada por Charles-Émile Tissot, foi forçada a pivotar a sua estratégia comercial para o Ocidente, com um foco particular na Península Ibérica e na América do Sul. O 'Porto' deve o seu nome e a sua génese a esta reorientação estratégica: a cidade do Porto, em Portugal, tornou-se um entreposto comercial crucial e um mercado fervoroso para a marca suíça. O ano de 1919 marcou o fim oficial das hostilidades da Grande Guerra e o início de uma nova era de otimismo. Foi neste contexto que a Tissot lançou o modelo que é amplamente considerado o seu primeiro relógio de pulso produzido em série com um design de caixa dedicado, e não adaptado. O design 'tonneau' foi revolucionário. Numa época em que a ergonomia era um conceito incipiente, a forma curva da caixa do Porto permitia que o relógio assentasse de forma mais natural no pulso do que os relógios de bolso adaptados, que eram altos e instáveis. Tecnicamente, o Porto representou um desafio significativo. A miniaturização dos movimentos para caber em caixas de formas não circulares exigia uma engenharia precisa. Os relojoeiros da Tissot tiveram que adaptar calibres redondos pequenos ou desenvolver platinas ovais que maximizassem o uso do espaço interno da caixa tonneau. O mostrador do Porto tornou-se a sua assinatura visual mais duradoura: os numerais árabes, desenhados numa tipografia sinuosa e alongada que 'explodia' a partir do centro para os cantos da caixa, capturavam a tensão artística entre o fim do Art Nouveau (com as suas linhas orgânicas) e o nascimento do Art Déco (com a sua estrutura contida). Ao longo das décadas, o design do Porto caiu na obscuridade à medida que a preferência do consumidor mudou para relógios redondos desportivos nos anos 50 e 60. No entanto, o modelo nunca foi esquecido nos arquivos de Le Locle. A sua importância foi reafirmada no início do século XXI, quando a Tissot lançou a coleção 'Heritage', trazendo o Porto de volta à vida com especificações modernas, mas mantendo a alma de 1919. A reedição de 2001, em particular, equipada com um movimento mecânico Peseux 7001 (cronómetro certificado em edições limitadas), solidificou o estatuto do Porto como um clássico de culto (cult classic). O modelo de 1919 permanece, portanto, como o marco zero da relojoaria de pulso moderna da Tissot, simbolizando o momento em que a marca deixou de olhar para o bolso do colete e passou a olhar para o braço do homem moderno.

CURIOSIDADES

O nome 'Porto' foi uma homenagem direta à cidade portuguesa, que foi declarada Cidade Património Mundial pela UNESCO, refletindo a importância do mercado português para a sobrevivência da Tissot após a queda do Império Russo. Os numerais do mostrador são frequentemente referidos por colecionadores como 'Exploding Numerals' ou 'Numerais Dali', devido à forma como se esticam surrealisticamente em direção às bordas da caixa tonneau. Uma versão de reedição limitada do Tissot Heritage Porto de 2001 é hoje mais valiosa no mercado secundário do que muitos cronógrafos modernos da marca, devido ao uso do calibre de corda manual Peseux 7001 e certificação COSC. O modelo original de 1919 utilizava Rádio (Radium) nos ponteiros e números para luminescência, um material hoje conhecido pela sua radioatividade, o que obriga a cuidados especiais no manuseio de peças vintage originais não restauradas. Embora o Cartier Tonneau (1906) tenha introduzido a forma, o Tissot Porto democratizou o estilo Art Déco para uma classe média alta europeia emergente, tornando-se um símbolo de status acessível nos anos 20. A caixa do Porto original apresentava 'asas de fio' (wire lugs) que exigiam pulseiras de couro abertas ou costuradas diretamente no relógio, uma característica que foi modernizada para barras de mola nas reedições. O Porto é frequentemente confundido estilisticamente com o 'Tissot Banana' (ou Prince), mas distingue-se pela sua forma de barril mais contida, enquanto o Banana possui uma curvatura retangular extremamente longa e arqueada.

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