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Tissot 'Banana' Centenary 1916 – A Ousadia Art Déco, a Curvatura Radical e o Elo Perdido do Império Russo


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Lançado em 1916, este icónico relógio de pulso Tissot, conhecido como 'Banana' devido à sua caixa retangular curva que se adapta ao pulso, é um exemplo notável do estilo Art Deco. Foi particularmente popular na Rússia e é frequentemente relançado em coleções de herança.

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RESUMO

O Tissot 'Banana', cuja génese remonta a 1916, não é apenas um instrumento de medição do tempo; é um manifesto de audácia estética que desafiou as convenções da relojoaria do início do século XX. Originalmente concebido para o aristocrático mercado russo antes da Revolução, este modelo distingue-se pela sua caixa retangular dramaticamente alongada e curvada, desenhada para abraçar a anatomia do pulso com uma ergonomia sem precedentes. Situado no limiar entre o final do Art Nouveau e o nascente Art Déco, o 'Banana' é a antítese do relógio utilitário redondo, posicionando-se firmemente como um 'dress watch' de vanguarda para o colecionador que valoriza o design arquitetónico sobre a mera funcionalidade. A sua importância na horologia reside na sua capacidade de prefigurar a tendência dos relógios de forma ('shaped watches') que dominariam os anos 1920 e 30. O modelo representa a época de ouro da Tissot na Rússia Imperial e permanece, através das suas reedições na coleção Heritage, como um testemunho da capacidade da marca de inovar na geometria da caixa, oferecendo uma elegância excêntrica que transcende a passagem do tempo.

HISTÓRIA

A história do Tissot 'Banana' é indissociável das convulsões geopolíticas do início do século XX e da relação privilegiada que a Tissot mantinha com o Império Russo. Em 1916, a Tissot era uma força dominante na Rússia, fornecendo relógios para a corte do Czar e para os oficiais do exército imperial. Foi neste contexto que o relógio, mais tarde apelidado de 'Banana', foi concebido. A lenda, amplamente documentada nos arquivos da marca em Le Locle, narra que um oficial russo de alta patente enviou o seu relógio de pulso Tissot de volta à fábrica na Suíça para manutenção em 1916. Contudo, com a eclosão da Revolução Russa em 1917 e a subsequente imposição da 'Cortina de Ferro', a devolução do relógio tornou-se impossível. O objeto permaneceu na Suíça, tornando-se uma cápsula do tempo e a musa para futuras gerações. O design do modelo de 1916 foi revolucionário. Numa era em que os relógios de pulso ainda tentavam libertar-se da estética dos relógios de bolso adaptados, o Tissot 'Banana' abraçou a anatomia humana. A caixa não era apenas retangular; era drasticamente arqueada, uma forma conhecida tecnicamente como 'cintrée'. Esta curvatura exigia uma engenharia complexa, pois o movimento (ou o posicionamento dos componentes) tinha de se acomodar a um espaço não plano, ou o vidro teria de ser moldado com precisão extrema para não distorcer a leitura. Esteticamente, o relógio apresentava numerais 'exploding' (ou distorcidos), que se alongavam e curvavam para preencher o mostrador retangular, uma característica marcante do estilo Art Déco que estava prestes a explodir na Europa. Durante décadas, este modelo foi conhecido como 'Prince' ou simplesmente como o 'Tissot de caixa curva'. O apelido 'Banana' surgiu organicamente entre os colecionadores devido ao perfil de 'fruta' da caixa quando vista de lado, um nome que a própria Tissot acabou por abraçar carinhosamente nas suas reedições modernas. A influência deste modelo na indústria foi subtil mas profunda; ele antecedeu outros famosos relógios retangulares curvos de marcas de alta joalharia, provando que a Tissot estava na vanguarda do design de caixas ('casemaking'). O modelo caiu no esquecimento durante a era da produção em massa de meados do século, mas foi triunfantemente ressuscitado. A primeira grande reedição moderna ocorreu em 1991 e, mais recentemente, em 2016, para celebrar o centenário do protótipo original. O 'Heritage Banana Centenary Edition' reafirmou o estatuto do relógio como um ícone de culto. Enquanto as versões modernas optaram frequentemente por movimentos de quartzo para manter o perfil ultrafino e o preço acessível, a essência do design de 1916 permaneceu intacta. Para o historiador horológico, o Tissot Banana é a prova física da transição da relojoaria de uma ferramenta de bolso para um objeto de design de pulso integrado, capturando o glamour de uma era perdida na Rússia Imperial.

CURIOSIDADES

O apelido 'Banana' nunca foi o nome oficial do catálogo de 1916, mas sim uma alcunha dada por colecionadores que notaram a semelhança da curvatura da caixa com a fruta, nome que a marca adotou oficialmente apenas no século XXI. O relógio original de 1916 que inspirou a coleção moderna encontra-se hoje no museu da Tissot em Le Locle, sendo uma das peças mais valiosas do acervo histórico da marca devido à sua proveniência russa. Os numerais do mostrador são conhecidos como 'Chiffres Brisés' ou números explodidos, variando de tamanho para preencher os cantos da caixa retangular, uma técnica artística rara. Antes da Revolução de 1917, a Rússia era o maior mercado da Tissot, e o design do 'Banana' foi especificamente criado para o gosto extravagante da elite de São Petersburgo e Moscovo. Embora frequentemente comparado ao Cartier Tank Cintrée, o design do Tissot de 1916 precede o lançamento do Cintrée (1921) em cerca de cinco anos, demonstrando o pioneirismo da Tissot em caixas ergonómicas.

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