RESUMO
O Omega Seamaster Professional 1000m, reverentemente apelidado de "The Grand" pelos colecionadores mais eruditos, não é meramente um relógio de mergulho; é um monumento brutalista à engenharia subaquática da década de 1970. Posicionado no ápice absoluto da hierarquia de ferramentas profissionais da Omega, este modelo foi concebido exclusivamente para a elite dos mergulhadores de saturação e para as exigências implacáveis da exploração comercial em águas profundas. Diferente de seus contemporâneos que buscavam equilibrar a utilidade com a estética civil, o Seamaster 1000m abandonou qualquer pretensão de elegância tradicional em favor da sobrevivência pura sob pressões esmagadoras. Com sua caixa monobloco maciça e coroa posicionada à esquerda, ele foi projetado para operar onde a luz solar não alcança, servindo como instrumento vital para organizações como a COMEX e o IUC. Na horologia moderna, ele representa o "Santo Graal" dos mergulhadores vintage da Omega, superando até mesmo o famoso PloProf em raridade e profundidade nominal, simbolizando uma era onde os limites físicos eram desafiados não por computadores, mas por engrenagens mecânicas e aço inoxidável.
HISTÓRIA
A gênese do Omega Seamaster Professional 1000m, referência 166.0093, remonta ao auge da corrida pelas profundezas no final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Enquanto a exploração espacial dominava as manchetes, uma batalha igualmente técnica ocorria nos oceanos, impulsionada pela indústria petrolífera offshore e pela necessidade de mergulho de saturação. A Omega, já estabelecida com o Seamaster 300, embarcou em um projeto ambicioso para criar relógios que pudessem suportar pressões até então inimagináveis. O Seamaster 1000m foi lançado comercialmente por volta de 1976, embora protótipos e versões de teste estivessem em circulação e desenvolvimento desde 1971. Ele surgiu como o irmão maior e mais capaz do famoso Seamaster 600 'PloProf'.
O design do modelo foi uma evolução radical da caixa 'Pilot Line' utilizada no Flightmaster e no Speedmaster Mark II. A Omega optou por uma construção monobloco usinada a partir de um bloco sólido de aço inoxidável sueco. Ao eliminar o fundo da caixa rosqueado, a marca removeu um ponto crítico de entrada de água, permitindo que o movimento fosse acessado apenas pela frente, após a remoção do vidro de 4,5mm de espessura. Esta arquitetura robusta foi complementada por uma coroa posicionada às 9 horas, uma característica 'destro' intencional para garantir que a coroa não perfurasse o pulso do mergulhador ou se prendesse em equipamentos subaquáticos vitais, além de protegê-la contra impactos diretos.
Tecnicamente, o relógio abrigou inicialmente o calibre 1002, que mais tarde foi substituído pelo calibre 1012, considerado mais robusto e confiável pelos relojoeiros. Durante sua fase de desenvolvimento e vida ativa, o Seamaster 1000m foi submetido a testes rigorosos. Ele acompanhou mergulhadores da IUC (International Underwater Contractors) e esteve presente em operações significativas, provando sua eficácia não em laboratórios, mas no fundo do oceano. A luneta de baquelite, totalmente luminescente, oferecia uma legibilidade sem precedentes na escuridão abissal.
O impacto do Seamaster 1000m no legado da Omega é imensurável. Embora tenha sido produzido em números muito menores do que o PloProf ou o Seamaster 300, sua existência validou a engenharia da Omega como capaz de rivalizar e, em termos de profundidade nominal, superar a Rolex e seu Sea-Dweller na mesma época. Ele permaneceu como o relógio de mergulho mais profundo já produzido pela marca por décadas, até o advento da moderna linha Ultra Deep. Para o colecionador, o 1000m representa a pureza do propósito; não foi feito para ser bonito, foi feito para ser indestrutível, e nessa brutalidade reside sua beleza atemporal.
CURIOSIDADES
O apelido 'The Grand' foi concedido pela comunidade de colecionadores para distinguir sua superioridade hierárquica e física sobre o Seamaster 600 'PloProf'.
A coroa posicionada às 9 horas foi projetada especificamente para evitar o desconforto na articulação do pulso e para minimizar o risco de enrosco em cabos de mergulho.
O fundo da caixa monobloco possui ranhuras horizontais profundas, desenhadas para criar atrito e impedir que o relógio girasse ou escorregasse sobre a manga de neoprene do traje de mergulho.
O Príncipe Rainier III de Mônaco, um entusiasta do mar e apoiador da oceanografia, foi fotografado usando um Seamaster 1000m, solidificando o status 'cult' do modelo.
Devido à sua construção extrema e custo elevado na época, a produção foi extremamente limitada, tornando-o significativamente mais raro em leilões do que o Rolex Sea-Dweller Double Red ou o Omega PloProf.
Jacques Cousteau e a equipe do Calypso utilizaram protótipos e modelos de produção da série 1000m durante suas expedições, validando a ferramenta em campo.
Ao contrário de muitos relógios da época que usavam acrílico, o Seamaster 1000m empregava vidro mineral desde o início para suportar a pressão, o que resultava em uma distorção visual característica quando visto de ângulos extremos.