RESUMO
Lançado em 1928, numa era definida pela opulência do Jazz Age e pela geometria rigorosa do Art Deco, o Rolex Prince não foi apenas um relógio de pulso; foi uma declaração de intenções. Enquanto a maioria dos fabricantes lutava para adaptar movimentos redondos a caixas retangulares, resultando em compromissos mecânicos, a Rolex, sob a visão de Hans Wilsdorf, seguiu um caminho de pureza arquitetônica e mecânica absoluta. O Prince foi posicionado no topo da pirâmide da marca, comercializado para a elite abastada e profissionais distintos que exigiam precisão inegociável. Ao contrário dos robustos 'tool watches' que definiriam a Rolex décadas mais tarde, o Prince era a quintessência da elegância formal, um relógio de 'dress' que abrigava um motor de alto desempenho. A sua filosofia de design 'form follows function' é evidente no layout de mostrador duplo — horas e minutos em cima, segundos em baixo — que lhe valeu a alcunha de 'Doctor's Watch', tornando-se a ferramenta predileta dos médicos para medir a pulsação dos pacientes com exatidão. Historicamente, o Prince é monumental por ter sido o primeiro relógio de pulso a ser produzido em massa com certificação de cronómetro, provando ao mundo que um relógio retangular poderia rivalizar e superar a precisão dos relógios de bolso tradicionais.
HISTÓRIA
A história do Rolex Prince começa em 1928, um ano crucial para a relojoaria, marcando a transição definitiva do relógio de bolso para o de pulso. Hans Wilsdorf, o visionário fundador da Rolex, estava obcecado com a precisão. Naquela época, os relógios de pulso retangulares eram imensamente populares devido à estética Art Deco, mas eram notoriamente imprecisos porque utilizavam movimentos redondos e pequenos adaptados, desperdiçando espaço interno. A genialidade do Prince residiu na colaboração com a manufatura Aegler para criar um movimento retangular que preenchesse cada milímetro da caixa. Isso permitiu o uso de um barrilete de corda maior e um balanço de dimensões generosas, resultando numa reserva de marcha superior a dois dias e uma precisão que rivalizava com cronómetros de marinha.
O design visual era uma consequência direta da engenharia: ao separar o trem de engrenagens, o mostrador de segundos não se sobrepunha ao de horas, criando o famoso layout 'Duo-Dial'. A referência mais icónica lançada neste período foi a 971, conhecida pela sua caixa 'Brancard' (que significa 'maca' em francês, devido às suas asas laterais proeminentes e curvas que abraçavam o pulso). Durante as décadas de 1930 e 1940, o Prince evoluiu com variações como o 'Railway Prince' (caixa escalonada inspirada em locomotivas) e o raro 'Sporting Prince' (com caixa de proteção pop-up).
Embora a linha tenha sido eventualmente descontinuada no final dos anos 40 para dar lugar à era do Oyster Perpetual e dos relógios desportivos redondos, o Prince de 1928 permanece como o pilar que sustentou a reputação inicial da Rolex. Foi com este modelo que a marca obteve um número recorde de certificados de 'Cronómetro' e 'Alta Precisão' dos Observatórios de Kew-Teddington e Genebra. Para o colecionador moderno, o Prince não é apenas um relógio antigo; é o elo perdido que transformou a Rolex de uma montadora de peças numa potência de precisão científica.
CURIOSIDADES
A alcunha 'Doctor's Watch' não foi um marketing oficial, mas sim um fenómeno orgânico: o mostrador de segundos inferior, invulgarmente grande, permitia aos médicos medir a pulsação dos pacientes com facilidade, sem a obstrução dos ponteiros das horas.
Um dos modelos mais raros e colecionáveis é o 'Tiger Stripe' Prince, onde a caixa de ouro apresenta faixas alternadas de ouro branco e amarelo polido, criando um efeito visual impressionante e muito procurado em leilões.
Devido à qualidade do movimento, a Rolex frequentemente incluía um certificado de 'Cronómetro de Classe A' com o Prince, algo raríssimo para relógios de pulso da época, que normalmente era reservado para cronómetros de marinha.
Há rumores persistentes na comunidade horológica de que o infame gangster Al Capone possuía um Rolex Prince, dada a sua predileção por fatos de alta costura e acessórios que denotavam poder e precisão.
O preço de um Rolex Prince na década de 1930 era comparável ao de um automóvel familiar económico, posicionando-o estritamente como um item de luxo inalcançável para a classe média.
A Rolex produziu uma versão extremamente rara chamada 'Jump Hour' Prince, onde as horas eram exibidas num disco digital rotativo em vez de ponteiros, uma complicação futurista para a época.