RESUMO
O lançamento do Alpina 10 Seastrong em 1969 marcou um ponto de inflexão decisivo na história da manufatura suíça, solidificando a sua transição dos picos alpinos para as profundezas abissais. Este relógio não é apenas um instrumento de cronometragem; é a personificação da era de ouro do mergulho recreativo e profissional, concebido num momento em que a estética encontrava a utilidade brutalista. Posicionado como um concorrente direto dos grandes 'divers' da época, o 10 Seastrong distinguiu-se não pela imitação, mas pela adoção da sofisticada caixa 'Super Compressor' da Ervin Piquerez S.A. (EPSA). O seu público-alvo transcendia o mergulhador casual; era destinado a profissionais que exigiam legibilidade imediata e uma vedação que se tornasse mais eficiente sob pressão extrema. O design de duas coroas — uma para o ajuste do tempo e outra para o controle do bisel interno de descompressão — oferecia um perfil mais aerodinâmico e seguro, evitando o acionamento acidental comum em biséis externos. Hoje, o modelo é reverenciado não apenas pela sua raridade, mas por encapsular a filosofia 'Alpina 4' (antimagnético, antichoque, resistente à água e aço inoxidável) numa silhueta que permanece contemporânea e elegante, servindo de base direta para a moderna linha Seastrong Diver Heritage.
HISTÓRIA
A génese do Alpina 10 Seastrong de 1969 deve ser compreendida no contexto da corrida tecnológica subaquática da década de 1960. Enquanto marcas como Rolex e Omega disputavam a supremacia com biséis externos robustos, a Alpina optou por uma abordagem mais refinada e tecnicamente intrigante ao colaborar com a Ervin Piquerez S.A. (EPSA). O resultado foi a aplicação da lendária caixa Super Compressor. A genialidade deste design residia no seu fundo de caixa com mola: à medida que a pressão da água aumentava com a profundidade, o fundo da caixa era comprimido contra o O-ring, aumentando a hermeticidade do relógio — uma engenharia que tornava o relógio mais seguro quanto mais fundo o mergulhador descia.
O ano de 1969 foi crucial para a linha Seastrong. Até então, a Alpina era famosa pelos seus relógios de aviação e montanhismo, sob a filosofia dos 'quatro princípios' estabelecida em 1938. O modelo '10 Seastrong' representou a aplicação definitiva destes princípios ao ambiente marinho hostil. O número '10' no mostrador era uma referência direta à classificação de resistência e à série do modelo, denotando a sua capacidade profissional.
Visualmente, o modelo rompeu com os padrões. A introdução do bisel interno rotativo, operado pela coroa às 2 horas, protegia a escala de mergulho contra batidas e detritos, um problema comum nos biséis externos da época. A coroa às 4 horas controlava o movimento robusto de 17 joias, o Calibre 572C, conhecido pela sua durabilidade e facilidade de manutenção. Ao longo dos anos, o design evoluiu de caixas redondas menores para a robusta caixa em formato de 'almofada' (cushion case) do final dos anos 60, que maximizava a presença no pulso e a proteção das coroas.
Para os colecionadores, este modelo específico de 1969 é o 'Santo Graal' da Alpina vintage. Ele representa o fim de uma era de experimentação mecânica antes da crise do quartzo. A sua influência é tão profunda que, décadas mais tarde, quando a Alpina procurou reafirmar a sua identidade no século XXI, foi exatamente a este modelo que a marca retornou para criar a coleção 'Seastrong Diver Heritage', provando que o design funcional de 1969 era, de fato, atemporal.
CURIOSIDADES
As coroas originais do modelo de 1969 possuem um padrão de hachura cruzada (cross-hatching) distinto, uma assinatura visual das caixas Super Compressor genuínas da EPSA.
Dentro do fundo da caixa, é possível encontrar o logotipo de um capacete de mergulhador antigo gravado, a marca registrada da patente de Piquerez.
Embora denominado '10 Seastrong', o relógio era frequentemente testado para pressões superiores a 20 ATM, com o '10' referindo-se a uma nomenclatura interna de série da Alpina na época, e não apenas à profundidade em barras.
O material luminescente original utilizado no mostrador continha Trítio, marcado pela designação 'T Swiss T' na parte inferior do mostrador às 6 horas, que hoje desenvolve uma pátina amarelada muito desejada.
Este modelo é um dos poucos relógios de mergulho da época que conseguia transitar perfeitamente de um fato de mergulho para um terno de escritório, devido ao perfil liso sem o bisel externo dentado.